UOL


São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRIMÔNIO

Painel descoberto em igreja de Itu pode ser de autoria de um dos maiores representantes da arte colonial e do barroco paulista

Restauro revela obra escondida há 150 anos

FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS

O processo de restauração da igreja matriz de Nossa Senhora da Candelária de Itu trouxe à tona uma obra de arte escondida havia pelo menos 150 anos: um painel que pode ser de autoria do padre Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), um dos maiores representantes da arte colonial e do barroco paulista.
Um dos primeiros bens tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a igreja foi construída em 1780 e chamou a atenção do órgão federal pelos forros pintados da nave e da capela-mor, além das telas de José Patrício da Silva Manso (data de nascimento desconhecida-1801) e de padre Jesuíno.
Outras obras de destaque do religioso estão em São Paulo, como as pinturas no forro da nave da igreja da ordem terceira de Nossa Senhora do Carmo e os painéis do antigo convento de Santa Teresa, que compõem o acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo.
Na época do tombamento, a igreja foi descoberta pelo escritor Mário de Andrade (1893-1945), relator do projeto de criação do Iphan, que mapeou o patrimônio histórico do interior e do litoral de São Paulo. A obra do padre despertou a atenção de Andrade, que escreveu "Padre Jesuíno do Monte Carmelo", último livro que publicou antes de sua morte.
O painel foi descoberto pela equipe de restauradores de Júlio Eduardo Corrêa Dias de Moraes, 50, após dois anos de trabalho de recuperação de algumas obras sacras e do forro da capela-mor.
"Essas pinturas são importantes para a história da arte paulista. Em sua época, José Patrício motivou muita gente e foi o mestre de padre Jesuíno, que começou na pintura como seu ajudante justamente na igreja de Itu", disse Moraes. Segundo o restaurador, a recuperação do forro da capela foi trabalhosa e levou cerca de um ano e oito meses porque, em alguns pontos, a madeira estava destruída pela ação dos cupins.
Após a conclusão do trabalho do forro, a equipe resolveu retirar a tinta da parede da capela, que é revestida de madeira. "Naquela época, os artistas ainda não desenvolviam técnicas para pintar diretamente na parede, então, elas eram revestidas de madeira", explicou o restaurador.

Indícios
Depois de pelo menos sete camadas de tinta descascadas, as pinturas começaram a aparecer. "A pintura é barroca e tem fortes indícios de que foram feitas pelo padre. Os desenhos combinam com as pinturas do teto, com elementos ornamentais parecidos com os do forro", afirmou Moraes. Segundo o restaurador, o próximo passo para a recuperação das pinturas encontradas na parede é aperfeiçoar uma técnica específica para o local.
"Essas pinturas podem estar escondidas há uns 150 anos. Ainda não há um estudo histórico específico para elas, mas que deverá ser feito", disse o restaurador.
Moraes informou que a expectativa para a retomada dos trabalhos de recuperação da capela-mor é no final do ano.
(CAROLINA FARIAS)

Texto Anterior: Para geólogo, prazo é curto
Próximo Texto: Museu em Campinas não tem verba
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.