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PATRIMÔNIO
Painel descoberto em igreja de Itu pode ser de autoria de um dos maiores representantes da arte colonial e do barroco paulista
Restauro revela obra escondida há 150 anos
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
O processo de restauração da
igreja matriz de Nossa Senhora da
Candelária de Itu trouxe à tona
uma obra de arte escondida havia
pelo menos 150 anos: um painel
que pode ser de autoria do padre
Jesuíno do Monte Carmelo (1764-1819), um dos maiores representantes da arte colonial e do barroco paulista.
Um dos primeiros bens tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a igreja foi construída em
1780 e chamou a atenção do órgão
federal pelos forros pintados da
nave e da capela-mor, além das telas de José Patrício da Silva Manso
(data de nascimento desconhecida-1801) e de padre Jesuíno.
Outras obras de destaque do religioso estão em São Paulo, como
as pinturas no forro da nave da
igreja da ordem terceira de Nossa
Senhora do Carmo e os painéis do
antigo convento de Santa Teresa,
que compõem o acervo do Museu
de Arte Sacra de São Paulo.
Na época do tombamento, a
igreja foi descoberta pelo escritor
Mário de Andrade (1893-1945),
relator do projeto de criação do
Iphan, que mapeou o patrimônio
histórico do interior e do litoral de
São Paulo. A obra do padre despertou a atenção de Andrade, que
escreveu "Padre Jesuíno do Monte Carmelo", último livro que publicou antes de sua morte.
O painel foi descoberto pela
equipe de restauradores de Júlio
Eduardo Corrêa Dias de Moraes,
50, após dois anos de trabalho de
recuperação de algumas obras sacras e do forro da capela-mor.
"Essas pinturas são importantes
para a história da arte paulista.
Em sua época, José Patrício motivou muita gente e foi o mestre de
padre Jesuíno, que começou na
pintura como seu ajudante justamente na igreja de Itu", disse Moraes. Segundo o restaurador, a recuperação do forro da capela foi
trabalhosa e levou cerca de um
ano e oito meses porque, em alguns pontos, a madeira estava
destruída pela ação dos cupins.
Após a conclusão do trabalho
do forro, a equipe resolveu retirar
a tinta da parede da capela, que é
revestida de madeira. "Naquela
época, os artistas ainda não desenvolviam técnicas para pintar
diretamente na parede, então, elas
eram revestidas de madeira", explicou o restaurador.
Indícios
Depois de pelo menos sete camadas de tinta descascadas, as
pinturas começaram a aparecer.
"A pintura é barroca e tem fortes
indícios de que foram feitas pelo
padre. Os desenhos combinam
com as pinturas do teto, com elementos ornamentais parecidos
com os do forro", afirmou Moraes. Segundo o restaurador, o
próximo passo para a recuperação das pinturas encontradas na
parede é aperfeiçoar uma técnica
específica para o local.
"Essas pinturas podem estar escondidas há uns 150 anos. Ainda
não há um estudo histórico específico para elas, mas que deverá
ser feito", disse o restaurador.
Moraes informou que a expectativa para a retomada dos trabalhos de recuperação da capela-mor é no final do ano.
(CAROLINA FARIAS)
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