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Gerente do Metrô nega ligação com empresa
Marco Antonio Buoncompagno afirma que se sente apto a fiscalizar, com isenção, as empreiteiras que fazem a linha 4
Engenheiro diz que não participou de um esquema ilegal de contratações públicas, como consta em processo que está na Justiça
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O gerente de construção da
linha 4 do metrô, Marco Antonio Buoncompagno, nega ter
participado de um esquema ilegal de contratações públicas em
parceria com uma empreiteira
do Consórcio Via Amarela, que
hoje ele fiscaliza. Disse se sentir
isento para exercer sua função.
Segundo processo na Justiça,
revelado ontem pela Folha, as
empresas Andrade Gutierrez,
que integra o Consórcio Via
Amarela, e Mendes Jr. eram
beneficiadas por aditivos contratuais irregulares do Metrô
(de até 46,5%) para que repassassem parte dos serviços à Engemab, empresa criada por
Buoncompagno em 1989. Em
troca, ele teria construído casas
para executivos do Metrô.
A ação civil pública foi proposta pela Promotoria em 1992
e ainda não foi julgada -está
em fase de perícia.
O presidente do Metrô, Luiz
Carlos David, disse que o engenheiro continua no cargo porque nunca teve conduta alguma que colocasse em dúvida
sua honestidade. O governador
José Serra e o ex-governador
Geraldo Alckmin não quiseram
comentar o assunto.
Buoncompagno aceitou falar
com a Folha na tarde de ontem. Antes, ele foi procurado
nas últimas quinta e sexta-feira, mas disse que preferia não
se manifestar porque apenas
seria mais prejudicado.
A reportagem de ontem informou que, na ação, a defesa
afirma que as acusações da
Promotoria são "falsas" e que a
Engemab realizou "pequenos e
minúsculos serviços" nas obras
do Metrô.
Leia trechos da entrevista.
FOLHA - O sr. continua no Metrô?
MARCO ANTONIO BUONCOMPAGNO -
Eu estou trabalhando. A notícia
incomodou bastante. Se continuo, não sou eu quem decido.
FOLHA - O sr. é acusado de ter uma ligação com a Andrade Gutierrez em
operações irregulares, empresa que
por ofício tem que fiscalizar. O sr. se
sente apto a fazer o seu trabalho com
toda a isenção?
BUONCOMPAGNO - É claro que
sim, ou não teria voltado ao
Metrô. Quem me conhece sabe
da minha honestidade. Esse
processo não é desconhecido, é
público. Tem 15 anos andando.
Como não foi julgado até hoje,
preciso trabalhar. Surgiu a
oportunidade no Metrô e estou
trabalhando.
FOLHA - O sr. gostaria de explicar o que
aconteceu?
BUONCOMPAGNO - O Ministério
Público fez uma acusação, eu
me defendi e há 15 anos está
tramitando [o processo] na
Justiça. A Folha me julgou, já
me condenou e estou aqui tentando agora me justificar.
FOLHA - Da reportagem, o que não é
verdade?
BUONCOMPAGNO - Na reportagem está a acusação. Num processo existe a acusação e existe
a defesa. Se alguém ler a defesa,
vai ver que a história tem uma
outra versão.
FOLHA - Qual é o erro especificamente?
BUONCOMPAGNO - A pessoa que
foi no processo, que leu a acusação, precisa ler a defesa. Na defesa está colocado lá: que foram
obras executadas, feitas, com
preços de mercado.
FOLHA - Os aditivos irregulares tiveram sua participação?
BUONCOMPAGNO - Eu não tenho
participação. Na época, não era
funcionário do Metrô havia
muito tempo. Quem eu sou,
quem era eu para orientar aditivos do Metrô? Tinha uma empresa, fiz um contrato com empresas, trabalhei dez anos com
minha empresa, fiz tudo quanto é tipo de obra, para tudo
quanto é tipo de cliente.
FOLHA - O sr. fez uma casa para o presidente do Metrô da época?
BUONCOMPAGNO - Fiz uma contratação, recebendo. Não tem
presente. Tudo está documentado, está tudo nos autos.
FOLHA - Por que o sr. acha, então, que a
Justiça aceitou a denúncia?
BUONCOMPAGNO - No processo
criminal, o assunto era exatamente o mesmo e já fui julgado
e o caso já foi encerrado. Agora,
um processo cível visa ressarcimento. Então, se eu tiver culpa
em alguma coisa, eu vou ter que
ressarcir valores. Como eu lhe
disse, as obras que eu fiz estão
aí para quem quiser ver. Até a
Folha tirou fotografia, então
elas existem. E lá no processo
estão os contratos com preços
julgados coerentes na época.
FOLHA - O problema é a reportagem?
BUONCOMPAGNO - Houve um
acidente? Houve. Vamos ter serenidade para poder buscar as
causas e, se for o caso, punir os
culpados. Agora, dizer que caiu
por causa de fiscalização, ou
porque é o projeto, ou porque é
a geotecnia, ou porque a empreita não presta, ou porque o
gerente do Metrô tem ligação
com a empresa... Eu acho um
absurdo fazer uma ligação com
a falta de qualquer coisa.
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