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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O Brasil vai continuar bombando?
A retomada do crescimento está só começando e não pode ser sufocada por excesso de zelo da política monetária
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O ANO de 2007 terminou com a
economia brasileira crescendo de forma expressiva. Tudo indica que o Brasil finalmente tomou impulso e começou a deslanchar. Estamos deixando para trás 25
anos de quase estagnação e crescimento econômico medíocre.
Os dados mais recentes não deixam dúvida. De janeiro a setembro
de 2007, o nível de produção aumentou 5,3% em relação ao mesmo
período de 2006. Comparando o
terceiro trimestre de 2007 com o
terceiro trimestre de 2006, o crescimento do PIB alcançou 5,7%. A formação bruta de capital fixo cresceu
12,4% no acumulado do ano até setembro, indicando aumento significativo da capacidade de produção.
Para o quarto trimestre, informações parciais sobre produção, vendas, importações e emprego confirmam que a economia continua em
franca expansão.
Vamos conseguir sustentar esse
desempenho em 2008? Provavelmente, sim. O crescimento tem uma
dinâmica cumulativa. A partir de
certo ponto, a expansão da demanda, da produção, da renda e do emprego se auto-sustentam e auto-reforçam. De uma forma geral, os indicadores da economia estão bastante
sólidos e não dão motivos para grandes preocupações no curto prazo.
Há riscos, evidentemente. Destacaria dois: a crise da economia dos
EUA e a inflação no Brasil.
As notícias do exterior não são das
melhores. A cada dia, parece aumentar o número dos que prevêem recessão ou desaceleração pronunciada nos Estados Unidos em 2008. O
Brasil não escaparia ileso de um
agravamento dramático da situação
econômico-financeira nos Estados
Unidos e na Europa. Mas, excluído
esse cenário extremo, o Brasil deve
continuar resistindo bem. A nossa
capacidade de suportar choques externos aumentou muito nos anos recentes.
É verdade que tivemos, em 2007,
uma deterioração no balanço de pagamentos em conta corrente, como
comentei no artigo da semana passada. Não obstante, o déficit corrente previsto para 2008 ainda é pequeno. Além disso, os investimentos diretos, um tipo mais estável de capital externo, estão entrando em grande volume no país (US$ 36,2 bilhões
nos doze meses até novembro). As
reservas internacionais do Brasil
nunca foram tão altas (US$ 179,8 bilhões no dia 28 de dezembro).
Segundo alguns economistas, a inflação pode ser uma ameaça maior
em 2008. Documentos recentes do
Banco Central revelam preocupação com vários sinais recentes de
pressão inflacionária. De fato, a inflação aumentou gradualmente em
2007. As expectativas para 2008 foram revistas para cima e estão próximas do centro da meta de inflação
(4,5%).
Não há motivo para pânico, porém. A inflação continua razoavelmente controlada e deve ficar dentro da meta em 2008. O Banco Central tem de estar sempre vigilante, é
claro, mas não deve repetir o erro
cometido em 2004, quando abortou
por meio de aumento dos juros uma
recuperação incipiente da economia.
O medo exagerado da inflação pode ser tão perigoso quanto a própria
inflação. Quase poderíamos dizer,
como Franklin Roosevelt em 1933,
"the only thing we have to fear is fear
itself" (a única coisa que temos a temer é o próprio medo). Assim falou
Roosevelt, no seu primeiro discurso
como presidente, conclamando os
americanos a abandonar o pessimismo e o pânico que impediam a superação da Grande Depressão.
A retomada do desenvolvimento
brasileiro está apenas começando. O
governo não deve permitir que ela
seja sufocada por excesso de zelo da
política monetária.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. , 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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