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"ESQUELETOS"
Dívidas da Rede Ferroviária Federal e da Telebrás podem chegar a R$ 6,4 bi; bomba pode estourar em maio
Lula herda duas empresas "mortas vivas"
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Duas empresas "mortas vivas"
vão assombrar o governo de Luiz
Inácio Lula da Silva com dívidas
que podem chegar a R$ 6,4 bilhões.
Os esqueletos são os passivos
(dívidas trabalhistas, cíveis e tributárias) da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) e da Telebrás,
estatais que resistiram ao processo de privatização dos setores ferroviário e de telecomunicações e
até hoje não foram liquidadas.
A principal bomba de efeito retardado pode começar a estourar
no final de maio, data prevista para a liquidação da RFFSA. Técnicos do governo avaliam que o tamanho do passivo da empresa a
ser herdado pelo Tesouro pode
chegar a R$ 6 bilhões.
O rombo ferroviário acabará
afetando as finanças do Estado de
São Paulo. Do total do passivo da
Rede, R$ 2,4 bilhões são da antiga
Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.),
que pertencia ao governo do Estado até 1997, quando foi comprada
pela RFFSA. Essa dívida o governo federal pretende repassar para
o governo de São Paulo.
Os liquidantes da Rede têm números menos pessimistas do que
os técnicos do governo federal,
mas igualmente grandiosos:
R$ 2,3 bilhões de dívida trabalhista, sendo R$ 783 milhões no curto
prazo. O problema é que esses números se referem ao fechamento
de 2001.
A Rede enfrenta uma enxurrada
de ações na Justiça, o que eleva o
valor da dívida. Só em 2002, cerca
de 3.700 novas ações contra a Rede foram abertas. Esses processos
vão se juntar a aproximadamente
36 mil ações em tramitação contra a estatal, em cerca de 670 comarcas em todo o país.
Quando a liquidação for feita, o
passivo passa para o governo federal, e o pagamento das ações
começará a ser feito por meio de
precatórios. Nessa etapa do processo, o governo espera conseguir
reduzir a dívida em aproximadamente 40% com negociações com
os credores.
Para que a liquidação seja concluída, a Rede precisa se desfazer
de aproximadamente 71 mil bens
"não-operacionais" -sendo cerca de 29 mil imóveis. A estimativa
é que esses bens valham cerca de
R$ 1,4 bilhão.
Em tese, uma liquidação termina quando acabam os passivos
(todas as dívidas são pagas) ou os
ativos (todos os bens são vendidos). No caso da Rede, o passivo é
muito grande, e os ativos têm baixa liquidez.
Os imóveis estão em locais difíceis para serem vendidos, e boa
parte dos bens que são eventualmente leiloados acaba penhorada
para pagamento de dívidas.
Telebrás
A Telebrás vive uma situação
peculiar -não está em processo
de liquidação nem em funcionamento. No último dia 17, houve
até uma reunião do conselho administrativo, com a presença do
então ministro Juarez Quadros
(Comunicações), presidente do
conselho.
O nome técnico para a situação
da empresa é "processo de descontinuidade". Na verdade, hoje a
Telebrás existe apenas para que a
Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) não pare de funcionar por falta de pessoal especializado (leia texto nesta página).
O passivo a ser assumido pelo
governo federal quando a empresa for liquidada é menor do que o
da Rede, mas não desprezível: pode chegar a aproximadamente
R$ 442 milhões.
Oficialmente, já contabilizados,
são R$ 38 milhões para desligamento de pessoal e R$ 83 milhões
para 533 processos judiciais, cíveis, tributários e trabalhistas. Total: R$ 121 milhões.
Na parte da dívida que não precisa estar no balanço, mas tem de
constar das notas técnicas, está a
parte mais pesada: R$ 236 milhões, correspondentes a outros
164 processos judiciais.
Além disso, a Telebrás espera
ser ressarcida pela Receita Federal
em aproximadamente R$ 85 milhões. Tudo somado, o valor total
com a liquidação chegaria aos
R$ 442 milhões.
Suspender processo
O ministro Miro Teixeira (Comunicações) deverá recomendar
ao presidente Lula que suspenda
o atual processo de descontinuidade da Telebrás e não liquide a
empresa. "Parte do quadro de
pessoal da estatal poderá ser usado no próprio ministério", disse
Teixeira.
De acordo com o ministro, a
empresa não deverá ser liquidada
para que não se perca pessoal
qualificado, que também poderá
ser usado na Anatel. Em relação
ao passivo da estatal, o ministro
disse que esse é um assunto a ser
tratado pela AGU (Advocacia Geral da União). "São processos que
correm na Justiça", disse.
O ministro disse que parte do
quadro da Telebrás poderia ser
usada em uma secretaria de telecomunicações, a ser criada no ministério. "Essa secretaria faria o
planejamento do setor, ajudaria a
elaborar políticas, e a Anatel faria
a fiscalização", disse Teixeira.
A criação da secretaria de telecomunicações no ministério faz
parte da política do novo governo
de retirar das agências a possibilidade de fazer política e planejamento.
O ministro Anderson Adauto
(Transportes) afirmou que uma
das hipóteses para a RFFSA é a
paralisação da liquidação da empresa. "Propriedades da Rede estão indo a leilão, isso é uma das
coisas que nós levaremos ao presidente da República. É uma decisão de governo se devemos paralisar ou não o processo", disse
Segundo a Folha apurou, a
equipe de transição do PT recomendou ao partido que pedisse
ao governo de Fernando Henrique Cardoso que não fizesse a liquidação da Rede em dezembro.
A liquidação foi adiada para o final de maio.
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