São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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ANÁLISE

BC optou pelo gradualismo

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central baixou os juros em 0,75 ponto percentual e, ao que tudo indica, manterá essa velocidade, o que mostra que o Copom seguirá com sua política de redução gradual da taxa básica de juros, como vinha fazendo no final do ano passado.
"Esta é uma linha geral que talvez o Banco Central esteja adotando e que me parece correta. Em 2003 ele cortou rápido os juros e depois teve que voltar atrás", diz Roberto Padovani, da Consultoria Tendências.
O penúltimo ciclo de aumento de juros foi bem distinto do ciclo de alta que terminou em maio de 2005. Entre outubro de 2002 e fevereiro de 2003, os juros subiram bem mais rápido do que na última série de altas promovida a partir de setembro de 2004.
Em 2003, os juros caíram rápido também. Agora, como no caso do período de aperto, os juros estão caindo de forma mais gradual. "Movimentos bruscos na taxa de juros são muito custosos", diz o economista da Tendências.
Altas ou quedas muito fortes da taxa de juros causam volatilidade, lembra ele. A política monetária excessivamente ativa, diz Padovani, causa volatilidade do nível de atividade -a economia reage com mais força a grandes altas e baixas de juros. O mesmo ocorre no mercado financeiro, onde idas e vindas dos juros também causam perdas e ganhos que podem ser relativamente mais traumáticos caso os juros oscilem muito fortemente. "Movimentos bruscos trazem ruído demais", conclui.
Por isso, a avaliação dele é que o BC acerta ao manter a cautela e evitar uma aceleração da queda. Seria pior, diz ele, baixar muito os juros a partir de agora e ter que voltar atrás caso a economia comece a crescer muito rápido e, como conseqüência, a inflação volte a níveis preocupantes para a cumprimento da meta de inflação.
Este tipo de movimentos, aliás, também teriam outro efeito ruim, o de comprometer a credibilidade da política do BC. Afinal, eles tornariam a política monetária menos previsível, aumentando a volatilidade que ela geraria nos mercados.
Jankiel dos Santos, do ABN Amro, também avalia que o Banco Central tem adotado a velocidade certa para reduzir os juros. "Lá atrás [em 2003], a retomada foi muito forte", diz ele, também se
referindo ao processo de aprendizagem que pode ter feito, depois do último ciclo de aperto e afrouxamento monetário, o BC preferir uma política mais gradual agora. "Agora ele parece querer baixar mais paulatinamente, adotando uma postura mais conservadora", completa.
O conservadorismo, claro, pode levar a certa perda de crescimento, já que uma situação de juros maiores sempre corresponde a uma taxa de crescimento menor no futuro. Mas, lembram os dois analistas, o BC pode sempre corrigir a trajetória dos juros caso os indicadores de atividade mostrem um desempenho muito ruim, algo que eles avaliam ainda não ser o caso.
"É verdade que a recuperação econômica [ iniciada no último trimestre do ano passado] não é o que todo mundo imaginava. Mas há uma recuperação, o ritmo da atividade econômica acelerou", diz Santos.


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