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CONTAS PÚBLICAS
Resultado negativo de R$ 37,6 bi fica abaixo da previsão do governo; arrecadação aumenta 15,6%
Déficit da Previdência sobe 11% em 2005
FERNANDO ITOKAZU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O déficit da Previdência Social
em 2005 foi de R$ 37,57 bilhões,
resultado de uma arrecadação de
R$ 108,43 bilhões contra R$ 146,01
bilhões gastos com o pagamento
de benefícios. A projeção da Secretaria de Previdência Social era
de R$ 39,30 bilhões.
"O resultado abaixo do projetado é uma surpresa agradável",
afirmou o secretário da Previdência Social, Helmut Schwarzer.
Apesar de ser menor do que a
expectativa, o valor representa
um aumento de 11,3% em relação
ao déficit de 2004: R$ 38,22 bilhões, contra R$ 34,35 bilhões, em
valores atualizados pelo INPC.
O secretário da Previdência ressaltou ainda que o crescimento do
déficit vem diminuindo de ritmo
nos últimos anos. Em 2003, o incremento foi de 33,61%, e, no ano
seguinte, de 14,6%.
O discurso do governo não é
compartilhado pelo especialista
em contas públicas Raul Velloso.
Ele disse que o déficit previdenciário é o problema mais complicado das contas públicas brasileiras. "Não dá para ser nem minimamente otimista. O crescimento
do déficit acima da inflação mostra uma insuficiência financeira
muito grande. É uma situação
bastante complicada."
Velloso diz que, sem medidas
do governo, não haverá como resolver o problema do déficit.
Na avaliação do secretário da
Previdência, ainda há espaço para
medidas de gestão para que o déficit não cresça muito. Depois de
implementados esses ajustes é
que seria o momento para uma
emenda constitucional que tratasse da questão.
O governo aponta que medidas
na área de gestão ajudaram em
um crescimento menos intenso
do déficit previdenciário.
Schwarzer destacou o crescimento da arrecadação. No ano
passado, o valor arrecadado foi
15,6% superior à receita do ano
anterior, de R$ 93,76 bilhões.
O secretário citou dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho), que mostra que
o saldo entre admissões e demissões com carteira assinada em
2005 superou 1,2 milhão (apesar
de ter caído ante 2004, leia à pág.
B4). O comportamento do mercado de trabalho se reflete no aumento da arrecadação.
Na parte de despesas, houve aumento menos intenso de pagamento de benefícios. Com a contratação de 1.500 peritos médicos
ao longo de 2005, o ritmo de concessão de auxílio-doença caiu.
Além disso, outra medida administrativa deve ter impacto nas
contas previdenciárias neste ano:
o recadastramento de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
A partir de abril, a Previdência
Social vai suspender o pagamento
de benefícios dos aposentados
que não atenderam o chamado da
primeira fase do recadastramento, que começou em novembro.
Mesmo com a aposta na manutenção do nível de emprego e nos
efeitos do recadastramento, o governo projeta déficit entre R$ 45,5
bilhões e R$ 46 bilhões para este
ano na Previdência.
A estimativa pode crescer muito
mais, já que leva em conta o salário mínimo em R$ 321.
Hoje, Lula e centrais sindicais se
reúnem para decidir o novo valor
do mínimo. Se for mesmo adotado o valor acordado na semana
passada entre centrais e governo
(R$ 350), a nova projeção de déficit da Previdência deve esbarrar
nos R$ 50 bilhões.
O governo estima que o aumento de cada R$ 1 no mínimo tenha
um impacto de R$ 118 milhões no
desequilíbrio das contas da Previdência de maio a dezembro.
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