São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2005

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VAREJO

Apesar de redução da Selic, redes mantêm taxas para compensar inadimplência maior e seduzem cliente com mais parcelas

Comércio segura juros, mas alonga prestação

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumidor não paga em dia, e a loja não mexe nos juros. A recente escalada no calote dos clientes no grande varejo fez acender o sinal amarelo no comércio. Como mais pessoas atrasaram os seus pagamentos neste ano, e o nível de inadimplência da rede é fator que compõe a taxa de juros, ela não cai, apesar de o Banco Central ter iniciado em setembro a redução da taxa básica, a Selic.
É pequena a possibilidade de mudança neste mês -hoje o BC se reúne novamente, para decidir a taxa Selic de outubro. Após quatro meses de estabilidade, em setembro houve uma queda de 0,25 ponto percentual nos juros básicos -passou de 19,75% para 19,50% ao ano. A maioria dos analistas espera uma nova redução hoje, de 0,50 ponto.
Dados obtidos pela Folha com as redes de varejo Casas Bahia, Ponto Frio, ExtraEletro, Lojas Colombo e Magazine Luiza, com 1.457 pontos-de-venda no total no Brasil, mostram taxas imóveis na maioria das cadeias varejistas. Isso após a redução de 0,25 ponto na Selic em setembro. A Casas Bahia, a maior rede de eletrônicos do país, continua operando com juros diferentes de acordo com a forma de pagamento e o produto. Mas não aconteceram alterações nos juros, que atingem até 5,9% ao mês -e taxa mínima de 3%.
Colombo e Magazine Luiza, assim como o ExtraEletro, foram pelo mesmo caminho. A taxa máxima dessas redes está em 5% ao mês. O Ponto Frio diz que fez pequenas alterações em alguns planos de pagamentos específicos no mês passado, mas não fornece detalhes. Mas as mudanças se deram por uma outra via: a do prazo de pagamento.
Em setembro de 2005, as redes passaram a operar com períodos para pagamento de até 36 meses, o maior prazo para esse mês desde setembro de 2001, informa a Anefac, a associação dos executivos de finanças, que ouviu redes em 12 Estados. O ExtraEletro, por exemplo, começou a operar com planos de até 36 meses na segunda quinzena de setembro. No comércio de veículos, o prazo máximo atingiu 60 meses -o mesmo verificado em setembro de 2000.
A estratégia utilizada para manter as taxas "paradas" passa por um raciocínio que, a princípio, parece um contra-senso. Elas seguram os juros e tentam seduzir o cliente nos prazos, mesmo que esse alongamento das parcelas também implique um risco de calote. Isso porque pesquisas mostram que, quanto maior o período dado para a quitação da dívida, maior a possibilidade de que o consumidor atrase, em algum momento, o pagamento até o final do plano.
A diferença aí é que o risco pode ser menor, porque o valor da parcela cai se o prazo aumenta.
"O que interessa ao cliente, no final das contas, é prazo. Uma taxa caindo de 5% para 3% pode ser menos "apelativa" ao bolso do que estender o prazo de 24 para 36 vezes, por exemplo", diz Fabio Pina, economista da Fecomercio SP.
As dificuldades em mexer nas taxas esbarram nos componentes que a formam. São eles: custo administrativo da loja, impostos, expectativa futura de juros e inadimplência. Nesse último caso, o calote cresceu. Nos oito primeiros meses de 2005, a inadimplência da pessoa física subiu 13,9% sobre 2004, informa a Serasa. Dado da Associação Comercial de São Paulo mostra que, em setembro, o número de documentos com data vencida cresceu 11% sobre 2004.


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