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VAREJO
Apesar de redução da Selic, redes mantêm taxas para compensar inadimplência maior e seduzem cliente com mais parcelas
Comércio segura juros, mas alonga prestação
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumidor não paga em dia,
e a loja não mexe nos juros. A recente escalada no calote dos clientes no grande varejo fez acender o
sinal amarelo no comércio. Como
mais pessoas atrasaram os seus
pagamentos neste ano, e o nível
de inadimplência da rede é fator
que compõe a taxa de juros, ela
não cai, apesar de o Banco Central
ter iniciado em setembro a redução da taxa básica, a Selic.
É pequena a possibilidade de
mudança neste mês -hoje o BC
se reúne novamente, para decidir
a taxa Selic de outubro. Após quatro meses de estabilidade, em setembro houve uma queda de 0,25
ponto percentual nos juros básicos -passou de 19,75% para
19,50% ao ano. A maioria dos
analistas espera uma nova redução hoje, de 0,50 ponto.
Dados obtidos pela Folha com
as redes de varejo Casas Bahia,
Ponto Frio, ExtraEletro, Lojas Colombo e Magazine Luiza, com
1.457 pontos-de-venda no total no
Brasil, mostram taxas imóveis na
maioria das cadeias varejistas. Isso após a redução de 0,25 ponto
na Selic em setembro. A Casas Bahia, a maior rede de eletrônicos
do país, continua operando com
juros diferentes de acordo com a
forma de pagamento e o produto.
Mas não aconteceram alterações
nos juros, que atingem até 5,9%
ao mês -e taxa mínima de 3%.
Colombo e Magazine Luiza, assim como o ExtraEletro, foram
pelo mesmo caminho. A taxa máxima dessas redes está em 5% ao
mês. O Ponto Frio diz que fez pequenas alterações em alguns planos de pagamentos específicos no
mês passado, mas não fornece detalhes. Mas as mudanças se deram
por uma outra via: a do prazo de
pagamento.
Em setembro de 2005, as redes
passaram a operar com períodos
para pagamento de até 36 meses,
o maior prazo para esse mês desde setembro de 2001, informa a
Anefac, a associação dos executivos de finanças, que ouviu redes
em 12 Estados. O ExtraEletro, por
exemplo, começou a operar com
planos de até 36 meses na segunda quinzena de setembro. No comércio de veículos, o prazo máximo atingiu 60 meses -o mesmo
verificado em setembro de 2000.
A estratégia utilizada para manter as taxas "paradas" passa por
um raciocínio que, a princípio,
parece um contra-senso. Elas seguram os juros e tentam seduzir o
cliente nos prazos, mesmo que esse alongamento das parcelas também implique um risco de calote.
Isso porque pesquisas mostram
que, quanto maior o período dado para a quitação da dívida,
maior a possibilidade de que o
consumidor atrase, em algum
momento, o pagamento até o final do plano.
A diferença aí é que o risco pode
ser menor, porque o valor da parcela cai se o prazo aumenta.
"O que interessa ao cliente, no
final das contas, é prazo. Uma taxa caindo de 5% para 3% pode ser
menos "apelativa" ao bolso do que
estender o prazo de 24 para 36 vezes, por exemplo", diz Fabio Pina,
economista da Fecomercio SP.
As dificuldades em mexer nas
taxas esbarram nos componentes
que a formam. São eles: custo administrativo da loja, impostos, expectativa futura de juros e inadimplência. Nesse último caso, o
calote cresceu. Nos oito primeiros
meses de 2005, a inadimplência
da pessoa física subiu 13,9% sobre
2004, informa a Serasa. Dado da
Associação Comercial de São
Paulo mostra que, em setembro, o
número de documentos com data
vencida cresceu 11% sobre 2004.
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