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ANÁLISE
A recuperação do Japão pode não durar
DO "FINANCIAL TIMES"
A economia japonesa está
de volta. Será mesmo? À
primeira vista, a resposta é um
"sim" muito firme: a economia
cresceu a um ritmo anualizado de
7% no trimestre final de 2003. O
que impulsiona essa recuperação
é uma alta nos investimentos, precedida por uma grande melhora
das exportações. Esse padrão não
demonstra que o Japão mudou
demais; na verdade, mostra que
houve mudança de menos. Por
esse motivo, a sustentabilidade da
recuperação está em dúvida.
Se estivéssemos à procura de
uma explicação resumida em
uma única palavra para o fenômeno, teríamos de optar por
"China". O colosso asiático, há
muito visto pelos japoneses como
uma ameaça, se transformou em
salvador repentinamente. No mês
passado, o superávit comercial japonês atingiu os 507 bilhões de ienes (US$ 4,7 bilhões), quase cinco
vezes mais que o resultado de janeiro de 2003. As exportações para a China cresceram 33,8% em
termos de ienes em relação ao
mesmo mês no ano anterior.
Nos 12 meses até o último trimestre de 2003, as exportações líquidas contribuíram com cerca
de um quarto do crescimento
econômico de 3,8%. As exportações líquidas começaram a ser
contribuição significativa para a
virada da economia em 2002. No
começo de 2003, a expansão nos
investimentos também já estava
em curso. Nos 12 meses encerrados no quarto trimestre de 2003,
os investimentos contribuíram
com 40% do crescimento total.
Tendência global
O mundo está se recuperando e
boa parte do crescimento vem
sendo gerada nas cercanias do Japão, em parte como resposta à retomada do crescimento nos EUA.
Essa tendência vem atingindo o
Japão, o mais competitivo dos
fornecedores de máquinas e componentes da região. Mas é difícil
evitar a sensação de "déjà vu".
A questão mais importante, no
entanto, é determinar se estamos
no começo de uma recuperação
sustentada. A resposta depende
de nossa análise sobre os males
subjacentes da economia. E quanto a isso existem duas opiniões radicalmente divergentes.
Uma opinião é a de que o Japão
está sofrendo as conseqüências de
um superávit estrutural de poupança privada desejada, em relação ao investimento, equivalente
a pelo menos 10% de seu PIB
(Produto Interno Bruto). Além
disso, a tendência de longo prazo
para esse superávit é de crescimento, porque as grandes empresas japonesas continuam a investir demais. No curto prazo, como
agora, pode haver um surto de investimentos propelido pelas exportações. A longo prazo, porém,
a participação do investimento
privado deve cair em relação ao
PIB. Quando isso acontecer, a demanda voltará a se enfraquecer.
Sustentável
A opinião alternativa é a de que
o Japão, basicamente, continua a
sofrer as conseqüências da bolha
no preço dos seus ativos no final
dos anos 80. Uma vez que os balanços das empresas privadas se
fortaleceram e a política monetária do Banco do Japão ganhou eficiência, o nível de poupança privada deve começar a cair. De
acordo com essa corrente de pensamento, o Japão estaria à beira
de uma recuperação sustentada.
Os próximos anos mostrarão
qual das duas explicações é a correta. Mas, pelo menos quanto a
um ponto, todas as opiniões plausíveis tendem a convergir. O Japão precisa de exportações fortes
e de um grande superávit em conta corrente se quiser equilibrar
oferta e procura e obter um crescimento sustentado.
Para sustentar um crescimento
econômico acelerado, o Japão
precisa da Ásia, da mesma forma
como a Ásia precisa dos Estados
Unidos. Nesse sentido, ao menos,
nada de importante mudou. A demanda doméstica japonesa provavelmente não será uma fonte
vigorosa de dinamismo para a
economia mundial.
Tradução de Paulo Migliacci
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