São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Chávez "inspira" 1ª Copa América na Venezuela

Torneio, assim como presidente local, é ambicioso, politizado e controvertido

Em país que cultua beisebol, governo constrói 3 estádios e reforma os outros 6 que serão usados para abrigar a mais cara edição do evento

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARQUISIMETO

A primeira Copa América na Venezuela parece feita à imagem e semelhança do seu presidente, Hugo Chávez: ambiciosa, improvisada, politizada e, claro, controvertida.
Pela primeira vez desde que o torneio foi criado, há 91 anos, o país anfitrião terá nove sedes -a última Copa América, realizada no Peru em 2004, foi distribuída em sete cidades.
Se a competição fosse no Brasil, a expansão passaria desapercebida. Mas, num país onde o futebol apenas engatinha atrás do beisebol, isso significa criar uma megaestrutura praticamente do zero. Dos nove estádios, três foram -ou ainda estão sendo- construídos, enquanto os demais passaram por reformas, algumas profundas.
O resultado é uma fatura altíssima e outro recorde: a Venezuela produzirá a Copa América mais cara da história.
De acordo com números oficiais, os gastos já alcançam cerca de US$ 1,2 bilhão (R$ 2,3 bilhões), dos quais US$ 175 milhões foram liberados no final de maio para acelerar as obras.
Já o Peru desembolsou, há três anos, US$ 13,2 milhões (cerca de R$ 25,6 milhões) para reformar sete estádios.
A maior extravagância é o recém-inaugurado estádio Monumental, em Maturín, onde o Brasil enfrenta o Chile no próximo domingo. Com capacidade para 52 mil pessoas, é o maior da Venezuela, mas fica numa cidade de aproximadamente 400 mil habitantes.
A equipe local, o fraco Monaguas, só entrou na primeira divisão venezuelana neste ano porque houve uma ampliação de dez para 18 equipes.
Dos estádios ainda em obras na semana passada -e a Copa começa depois de amanhã-, a situação mais dramática talvez seja a do Metropolitano de Barquisimeto, onde 2.600 trabalhadores se revezam freneticamente durante as 24 horas do dia para entregá-lo a tempo das duas primeiras partidas no local, no dia 5 de julho.
Na sexta-feira, a reportagem da Folha visitou o estádio. É difícil, quase impossível, acreditar que haverá condições mínimas para que Colômbia e EUA, seguidos de Argentina e Paraguai, disputem as suas partidas daqui a apenas 11 dias.
A avenida de acesso está sendo pavimentada. Vários pilares expõem seus ferros apontados para o céu. Apenas um dos três tetos está pronto. O estádio está cercado de guindastes, caminhões e pó. A grama, plantada há menos de um mês, ainda não "agarrou". O placar e as traves não foram instalados, e as linhas não estão pintadas.
Com apenas 70% das obras concluídas, o governo estadual, responsável pelo estádio, foi obrigado a cancelar a sua inauguração, prevista para o próximo domingo, com um jogo amistoso entre o time venezuelano Portuguesa e o Cúcuta, da Colômbia. O batismo será a Copa América, sem ensaio.
O estádio de Barquisimeto, cidade de 900 mil habitantes distante 360 km a oeste de Caracas, também é um exemplo de estouro do orçamento.
A aceleração das obras, segundo dados oficiais, fez o custo pular de US$ 74 milhões para US$ 116 milhões -um aumento de 56%.

Protestos
A Copa América ocorre ainda num momento de turbulência política. No final de maio, Chávez tirou do ar a emissora oposicionista RCTV, uma das mais populares do país, desatando uma série de manifestações, a maioria protagonizada por estudantes universitários.
Na quarta-feira -um dia depois do início da Copa América-, jornalistas e estudantes prometem fazer uma grande marcha de protesto em favor da liberdade de expressão.
Mas Chávez, que promete coibir protestos perto dos estádios, já achou o bode expiatório para eventuais problemas: os EUA de George W. Bush. Segundo ele, o "império" tem um "plano desestabilizador" para estragar a competição.


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