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Chávez "inspira" 1ª Copa América na Venezuela
Torneio, assim como presidente local, é ambicioso, politizado e controvertido
Em país que cultua beisebol, governo constrói 3 estádios e reforma os outros 6 que serão usados para abrigar a mais cara edição do evento
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BARQUISIMETO
A primeira Copa América na
Venezuela parece feita à imagem e semelhança do seu presidente, Hugo Chávez: ambiciosa, improvisada, politizada e,
claro, controvertida.
Pela primeira vez desde que o
torneio foi criado, há 91 anos, o
país anfitrião terá nove sedes
-a última Copa América, realizada no Peru em 2004, foi distribuída em sete cidades.
Se a competição fosse no Brasil, a expansão passaria desapercebida. Mas, num país onde
o futebol apenas engatinha
atrás do beisebol, isso significa
criar uma megaestrutura praticamente do zero. Dos nove estádios, três foram -ou ainda
estão sendo- construídos, enquanto os demais passaram por
reformas, algumas profundas.
O resultado é uma fatura altíssima e outro recorde: a Venezuela produzirá a Copa América mais cara da história.
De acordo com números oficiais, os gastos já alcançam cerca de US$ 1,2 bilhão (R$ 2,3 bilhões), dos quais US$ 175 milhões foram liberados no final
de maio para acelerar as obras.
Já o Peru desembolsou, há
três anos, US$ 13,2 milhões
(cerca de R$ 25,6 milhões) para
reformar sete estádios.
A maior extravagância é o recém-inaugurado estádio Monumental, em Maturín, onde o
Brasil enfrenta o Chile no próximo domingo. Com capacidade para 52 mil pessoas, é o
maior da Venezuela, mas fica
numa cidade de aproximadamente 400 mil habitantes.
A equipe local, o fraco Monaguas, só entrou na primeira divisão venezuelana neste ano
porque houve uma ampliação
de dez para 18 equipes.
Dos estádios ainda em obras
na semana passada -e a Copa
começa depois de amanhã-, a
situação mais dramática talvez
seja a do Metropolitano de Barquisimeto, onde 2.600 trabalhadores se revezam freneticamente durante as 24 horas do
dia para entregá-lo a tempo das
duas primeiras partidas no local, no dia 5 de julho.
Na sexta-feira, a reportagem
da Folha visitou o estádio. É
difícil, quase impossível, acreditar que haverá condições mínimas para que Colômbia e
EUA, seguidos de Argentina e
Paraguai, disputem as suas
partidas daqui a apenas 11 dias.
A avenida de acesso está sendo pavimentada. Vários pilares
expõem seus ferros apontados
para o céu. Apenas um dos três
tetos está pronto. O estádio está cercado de guindastes, caminhões e pó. A grama, plantada
há menos de um mês, ainda
não "agarrou". O placar e as
traves não foram instalados, e
as linhas não estão pintadas.
Com apenas 70% das obras
concluídas, o governo estadual,
responsável pelo estádio, foi
obrigado a cancelar a sua inauguração, prevista para o próximo domingo, com um jogo
amistoso entre o time venezuelano Portuguesa e o Cúcuta, da
Colômbia. O batismo será a Copa América, sem ensaio.
O estádio de Barquisimeto,
cidade de 900 mil habitantes
distante 360 km a oeste de Caracas, também é um exemplo
de estouro do orçamento.
A aceleração das obras, segundo dados oficiais, fez o custo pular de US$ 74 milhões para US$ 116 milhões -um aumento de 56%.
Protestos
A Copa América ocorre ainda
num momento de turbulência
política. No final de maio, Chávez tirou do ar a emissora oposicionista RCTV, uma das mais
populares do país, desatando
uma série de manifestações, a
maioria protagonizada por estudantes universitários.
Na quarta-feira -um dia depois do início da Copa América-, jornalistas e estudantes
prometem fazer uma grande
marcha de protesto em favor da
liberdade de expressão.
Mas Chávez, que promete
coibir protestos perto dos estádios, já achou o bode expiatório
para eventuais problemas: os
EUA de George W. Bush. Segundo ele, o "império" tem um
"plano desestabilizador" para
estragar a competição.
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