São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Assinatura de Fábio Koff aparece em documento de transferência de jogador, intermediada por empresa investigada pela CPI
Clube dos 13 avalizou negócios da Lake Blue

Caio Guatelli - 11.jul.00/Folha Imagem
Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, que avalizou negociação em abril envolvendo empresa investigada pela CPI do Senado


FERNANDO MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DO PAINEL FC

O Clube dos 13, associação dos 20 maiores times do Brasil, avalizou, por meio de seu presidente, Fábio Koff, uma negociação intermediada pela empresa Lake Blue Development Ltd., com sede em um paraíso fiscal do Caribe e investigada pela CPI do Futebol.
De acordo com documento obtido pela Folha, Koff avalizou o empréstimo do jogador Claiton do Internacional para o Vitória, em abril deste ano.
Uma das cláusulas do contrato avalizado por Koff diz que se o time baiano decidir comprar o passe de Claiton deverá depositar 10% sobre o valor da operação para o agente Fifa espanhol José Antonio Martin, representante da Lake Blue, e para o empresário João Francisco Machado.
Criada para representar os interesses dos grandes clubes do Brasil em 1987, o Clube dos 13, entidade sem fins lucrativos, aparece pela primeira vez como agente negociador em favor de um clube -em tese, favoreceu apenas o Vitória, da Bahia, no negócio.
Nesse caso há também o agravante de uma das empresas do acordo, por receber dinheiro de transações em um paraíso fiscal, estar sendo investigada pela CPI do Futebol. O próprio Clube dos 13 também é alvo das apurações.
No contrato, a assinatura de Koff, que tem depoimento na CPI da CBF/Nike, instalada na Câmara, marcado para a próxima terça-feira, e na CPI do Senado marcado para o próximo mês, está acima do espaço destinado ao Clube dos 13, como "avalista garantidor".
Outro documento mostra que parte do dinheiro que vem sendo pago pelo empréstimo foi dado à uma empresa que é sócia da Lake Blue e que também tem sede em um paraíso fiscal caribenho.
A Lake Blue Development Ltd. está sendo investigada pela CPI do Futebol, do Senado, após a Folha ter revelado que a empresa recebeu US$ 450 mil na compra do meia Petkovic pela parceria Flamengo/ISL, no início deste ano.
A ISL, multinacional que depositou o dinheiro, disse que a transação foi legal porque envolveu empresas estrangeiras -a própria ISL, suíça, a Lake Blue, das Ilhas Virgens, e o Venezia, da Itália, dono do passe do jogador.
Semanas depois, porém, a Folha também apurou que a Lake Blue tem uma sócia com mesmo nome em São Paulo, que participa ativamente do mercado de compra e venda de jogadores no Brasil.
A negociação também está sendo investigada por autoridades financeiras do governo brasileiro, que não querem ter seus nomes divulgados para não atrapalhar as apurações.
No escritório da empresa em São Paulo, segundo a Junta Comercial, funciona a sede da empresa DC-7, do empresário Doddy Sirena Pereira, que assinou contratos em nome da Lake Blue e é irmão de Jaime Sirena Pereira, procurador da empresa no Brasil (leia texto na página ao lado).
Doddy Sirena disse, em entrevista por e-mail, que o dinheiro depositado nas Ilhas Virgens foi para Martin, que seria o representante da Lake Blue Development Ltd. e que negociou Petkovic com o Flamengo.
O clube carioca também confirmou que Martin foi quem recebeu pela Lake Blue no negócio.
As ligações da negociação com a Lake Blue ficam ainda mais evidentes pelo fato de parte do pagamento pelo empréstimo de Claiton ter sido feito à empresa Marccjor Empreendimentos e Promoções, que tem como sócio-gerente Eduardo Gioli Gomes.
Na Junta Comercial de São Paulo, Gomes aparece como procurador da empresa Planet Business Ltd., sócia da Lake Blue do Brasil e também com sede nas Ilhas Virgens Britânicas.
A Lake Blue vem participando do mercado de compra e venda de jogadores no Brasil desde 1998, quando o Vitória pagou US$ 1,75 milhão à empresa, nas Ilhas Virgens, pela compra de Petkovic, à época com passe em poder do time espanhol Real Madrid.
Segundo Folha apurou, Martin tem bom trânsito entre os dirigente dos clube espanhol e uma de suas empresas teria participado da negociação.
A reportagem vem tentando falar com o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, há cerca de duas semanas. Foram deixados recados com a assessoria da associação no Rio Grande do Sul.
Anteontem, o empresário Doddy Sirena disse que não iria se pronunciar sobre o caso.
Os empresários José Antonio Martin e João Francisco Machado não foram localizados pela reportagem.


Texto Anterior: Clube dos 13 avalizou contrato da Lake Blue
Próximo Texto: Caso vira uma das prioridades da CPI do Futebol
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.