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Teatro de autoajuda

Mulheres atacadas e guerra de sexos invadem espetáculos, que ganham feições de folhetim

DE SÃO PAULO

Com apelo popular, o melodrama tem subido ao palco em diálogos rasgados de revolta e desejo.

"Eu quero mais, Orlando! Muito mais!", desespera-se, por exemplo, uma das personagens centrais de "Doidas e Santas", com texto que adapta livro homônimo de Martha Medeiros e a atriz Cissa Guimarães no elenco.

Medeiros, jornalista gaúcha, tornou-se quase um símbolo dessa safra, com seus livros sobre relacionamentos a partir do ponto de vista das mulheres. Sua obra "Fora de Mim", recentemente também foi adaptada para o teatro, com direção de Francisco Ramalho Jr. e Lavínia Pannunzio no papel principal.

O texto retrata uma mulher que inicia um relacionamento, toma um fora e surta.

Há ainda, neste cenário, extremos do kitsch, como a peça "Roupa, Comida e Alma Lavada". Superpopular, o espetáculo coloca um casal discutindo dentro de um ringue.

As DRs (discussões de relacionamento) sobre o palco passam a sensação de que as coisas não mudam com o passar do tempo.

"Hoje ainda se discute a fidelidade. A única coisa que mudou foi o vocabulário, alguns termos são usados com mais liberdade", diz Elias Andreato, diretor de "Myrna Sou Eu", escrita nos anos 1940.

"Sabemos tão pouco como sermos felizes quanto se sabia há mil anos", afirma o filósofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé.

GENTE RESOLVIDA

A grande diferença nesta apropriação que Nelson Rodrigues faz da consulta sentimental é o olhar irônico. "Ele sabia que o desejo é sempre triste e não queria fazer bonitinho' pra nenhuma militância", aponta Pondé.

"Hoje, normalmente, reforça-se que existem seres bem resolvidos nos afetos. Se a mentira da Idade Média era a pureza, a mentira de hoje é a evolução nos afetos. Todo bem resolvido é um mentiroso contumaz", argumenta.

Depois, o filósofo se atém a uma questão específica: a ideia de que a mulher difícil sempre tem mais chance de se dar bem.

"Todo mundo sabe que mulher tem que ser difícil, menos as feministas, que não entendem nada de mulher", desfere. Porém, a ideia de que a mulher fica feliz com dinheiro e sem amor, segundo ele, é coisa de iniciante.

"De maneira geral, as pessoas são obcecadas pela ideia de exclusividade". Essa é uma conclusão a que chegou a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, autora de "O Livro do Amor".

O sentimento de posse, explorado à exaustão pelas novelas, para ela, reforça uma armadilha. "Estamos no século 21 e muitos ainda exigem exclusividade dos parceiros, acham inadmissível que sintam desejo por outra pessoa." Na realidade, prossegue ela, "todos são afetados por estímulos sexuais de outros que não seus parceiros fixos. Esses são estímulos que não podem ser eliminados."

Enfim, essa é uma roupa suja que a TV tenta lavar com frequência e que tem ganhado feições de folhetim no teatro.


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