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Análise Coreias

Kim coloca à prova teoria da destruição mútua

Ditador norte-coreano é capaz de aceitar morte de milhões de compatriotas, como mostra escalada da fome no país

GIDEON RACHMAN DO “FINANCIAL TIMES”

A teoria da destruição mutuamente assegurada requer que os dois lados sejam sãos.

O cálculo de que nenhuma liderança política racional aceitaria o risco de milhões de mortes entre seus habitantes permitiu que o mundo sobrevivesse da crise dos mísseis de Cuba à queda do Muro de Berlim.

O aspecto mais alarmante da atual crise da Coreia do Norte, um país equipado com armas nucleares, é que seu regime pode representar uma das raras aberrações para as quais a lógica normal da dissuasão nuclear não funciona.

Isso aconteceu no final dos anos 50, quando Mao Tse-tung chocou até mesmo ex-stalinistas da União Soviética ao sugerir, em viagem a Moscou, que uma guerra nuclear talvez não fosse assim tão ruim, declarando aos atônitos anfitriões que, "se o pior acontecer e metade da humanidade perecer, restará a outra metade".

A Coreia do Norte reproduz alguns dos piores traços da China maoista: isolamento em relação ao mundo externo, campos de trabalho, culto à personalidade e disposição de tolerar fome em escala letal entre seus habitantes.

Esse último aspecto é especialmente perturbador, se levarmos em conta que a dissuasão nuclear se baseia na ideia de que um líder não aceitaria a morte de milhões de seus compatriotas.

No Ocidente, ainda persiste a tendência infeliz de tratar a Coreia do Norte como piada. Na realidade, o regime de Pyongyang nada tem de engraçado. Comanda um pesadelo totalitário que arruinou as vidas de milhões de pessoas e que agora ameaça abertamente o mundo externo com armas nucleares.

Tentar adivinhar o que os norte-coreanos estão de fato pensando é uma tarefa difícil, mas crucial.

Talvez eles compreendam o mundo externo melhor do que supomos. Certa vez, perguntei a um importante diplomata chinês que havia negociado frequentemente com Kim Jong-il, o pai do atual líder, se o ditador norte-coreano conhecia alguma coisa sobre o Ocidente. "Claro", foi a resposta, "ele passa a noite inteira na internet".

Havia certa esperança de que seu filho abrisse ainda mais a janela para o mundo externo. No entanto, o jovem Kim, no momento, está conduzindo as bazófias nucleares norte-coreanas a novas e ainda mais perigosas alturas.

Especialistas continuam a argumentar que a Coreia do Norte não tem intenção real de provocar um conflito. Mas a perturbadora realidade é que não há como ter certeza.

Se existe um regime no planeta que poderia desafiar a lógica normal da dissuasão nuclear, é o de Kim Jong-un.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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