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Luiz Carlos Bresser-Pereira

Preferência pelo consumo imediato

Não são apenas os políticos que praticam o populismo cambial; também os economistas o fazem

O deficit em conta corrente no primeiro semestre alcançou 3,8% do PIB, os gastos com turismo bateram novo recorde em junho, enquanto a crise da indústria continua a se aprofundar. A relação direta entre o deficit, o mau desempenho da economia e a taxa de câmbio sobreapreciada é óbvia. Por que as empresas investiriam se a taxa de câmbio as desconecta do seu mercado?

Não obstante, nenhum dos economistas entrevistados pelo "Valor" para explicar o mau desempenho da economia incluíram a taxa de câmbio em sua explicação. Em seu lugar, alguns repetiram que os estímulos fiscais do governo é que estariam desorientando os empresários.

Por que os economistas resistem tanto admitir a sobreapreciação crônica da taxa de câmbio? Por que acham "naturais" deficit em conta corrente elevados que estão associados à sobreapreciação cambial? Por que adotam a política de crescimento com poupança externa e a política de âncora cambial para combater a inflação, as quais, juntamente com a doença holandesa, causam essa sobreapreciação? Por que, em outras palavras, eles revelam uma clara "preferência pelo consumo imediato"?

Essencialmente porque não querem a diminuição dos salários e demais rendimentos e o aumento da inflação que a depreciação cambial causa no curto prazo. E também porque querem evitar perdas para as empresas endividadas em dólares.

Os economistas ortodoxo-liberais ou keynesianos vulgares, que se revezam no controle da política econômica do país, dirão que, em absoluto, partilham essa preferência, mas minha experiência confirma sua existência e sua força.

Os dois grupos defendem deficit em conta corrente (que denominam "poupança externa"), porque asseguram que seu financiamento causará o aumento dos investimentos, embora causem principalmente o aumento do consumo. Mas eles ignoram que as entradas de capitais para financiar o deficit apreciam o real, o que implica aumento dos salários reais e do consumo e desestímulo aos investimentos.

Na verdade, não é de deficit mais de superavit em conta corrente que o Brasil precisa, porque a neutralização da nossa doença holandesa implica deslocar a taxa de câmbio do equilíbrio corrente para o industrial, o qual, por definição, corresponde a um superavit em conta corrente.

Não são apenas os políticos que praticam o populismo cambial; também os economistas o praticam na medida que suas políticas revelam preferência pelo consumo imediato. Sua aceitação de deficit em conta corrente quando o país deveria apresentar superavit torna evidente essa preferência. Em vez de explicarem os baixos investimentos com a sobreapreciação cambial, inventam outras explicações que os dispensem de falar na taxa de câmbio e do deficit em conta corrente.

Os brasileiros aceitam essa preferência porque ela os agrada e porque não têm instrumentos para criticá-la. Já nossos competidores a saúdam, pois podem exportar mais para o Brasil e comprar empresas nacionais para financiar o deficit em conta corrente. Assim, ocupar o mercado interno do país e onerá-lo com remessas de lucros e pagamento de juros em troca do nosso consumo imediato.


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