|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pais já dão capim para os filhos
DA REPORTAGEM LOCAL
Pais estão dando capim para
seus filhos porque não dispõem
de nenhum outro alimento. É o
que consta de informes de entidades filantrópicas que atuam no
Afeganistão, recebidos nos últimos dias em Londres.
O fato foi relatado à Folha pelo
antropólogo inglês Werner Nijman, 44, que viveu seis anos na região e é hoje um consultor de
ONGs (organizações não-governamentais) que atuam na Ásia
Central. Ele foi o criador de uma
delas, que trabalha com crianças
deficientes físicas em campos de
refugiados afegãos.
Segundo Nijman, nos últimos
20 anos, a cada quatro minutos
morreu um afegão em razão da
guerra ou de moléstias derivadas
ou agravadas pela desnutrição.
Foram ao todo 2,2 milhões de
pessoas que, em condições normais, estariam ainda vivas.
Essa cadência tende a se acentuar dramaticamente caso norte-americanos e britânicos não interrompam os bombardeios e
permitam a chegada às regiões
mais flageladas de comboios com
auxílio alimentar.
Se isso não acontecer, Nijman
diz acreditar ser perfeitamente
plausível a previsão de que 7,5 milhões de pessoas estejam passando fome nas próximas semanas.
As ONGs que não conseguem
transportar com segurança a comida para dentro do país já a tem
estocada em países vizinhos
-Tadjiquistão, Paquistão ou Irã.
Ele afirma ainda que é inviável
conter a fome com alimentos despejados por aviões, seja por iniciativa das ONGs, seja por distribuição já efetuada em larga escala
pelos Estados Unidos.
O antropólogo diz que a comida
assim lançada é recolhida por homens armados, que em seguida a
colocam à venda em bazares.
A ração lançada de avião transforma-se em fonte suplementar
de conflitos internos e prejudica
justamente quem não tem dinheiro para comprar algo que, paradoxalmente, deveria estar sendo
distribuído de graça.
Ao norte do Afeganistão, as entidades têm transitado com relativa segurança, servindo-se até de
helicópteros para atingir aldeias
mais remotas. Mas não conseguem repetir a operação em territórios sob controle do Taleban, ao
sul do Afeganistão.
Mesmo os afegãos com estoque
de batata, trigo e arroz, base da
dieta local, estão, segundo Nijman, sem fontes de proteína animal. A carne nunca foi tão rara,
porque, bem antes da intervenção
militar americana, quatro anos de
secas inutilizaram a pastagem e
prejudicaram a alimentação e a
sobrevivência dos rebanhos.
Com a seca, reduziu-se em um
quinto -embora não haja dados
precisos- o número de cabeças
de caprinos, que há 15 anos totalizavam 22 milhões.
(JBN)
Texto Anterior: A FOME ANUNCIADA A outra batalha: 7,5 milhões precisam de comida no Afeganistão Próximo Texto: As razões: Taleban não tem política para reduzir a tragédia Índice
|