São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Reunião faz parte de encontros regionais temáticos para avaliar temas que serão discutidos no fórum de Porto Alegre

Fórum Social Mundial promove debates em Ramallah

PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

Num momento de particular tensão no Oriente Médio, o Fórum Social Mundial está promovendo uma série de debates relacionados ao conflito israelo-palestino, em Ramallah, na Cisjordânia, com o intuito de discutir temas como Jerusalém, recursos hídricos, refugiados, negociações, assentamentos e militarização, entre outros, e integrá-los à agenda em Porto Alegre.
A proposta do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial é organizar fóruns temáticos como os que já aconteceram na Argentina e na Europa e os que estão programados para o início de janeiro em Adis Abeba (Etiópia) e Haiderabad (Índia) a fim de abordar questões específicas.
Durante o FSM no Brasil, no mês que vem, a mesa de diálogo e controvérsia "Em oposição às guerras do século 21, como construir a paz entre os povos?" deve priorizar o Oriente Médio.
Entre os cerca de 380 palestinos e 200 estrangeiros em Ramallah, o paranaense Zelitro Luz da Silva, 41, integrante do MST (Movimento dos Sem Terra), participou ontem de uma plenária sobre "O Papel dos Movimentos Sociais na Resistência a Impactos Negativos da Globalização".
Ele afirma ter sido interrogado durante cinco horas, no aeroporto de Tel Aviv (Israel), na última quinta. "Insisti todo o tempo em que ia visitar uma comunidade agrícola, pois sabia que, se revelasse o propósito da viagem, provavelmente não entraria", alega.
Ao menos 12 estrangeiros teriam sido expulsos ainda no aeroporto. O Ministério do Interior de Israel confirmou sete expulsões de belgas e disse que a medida foi necessária porque eles poderiam "ameaçar a paz" do país.
"Temos uma longa tradição de solidariedade com os palestinos e os israelenses que desejam a paz", diz a italiana Rafaela Bolini, 42, responsável pela organização do Fórum Temático Europa, que ocorreu em novembro.
"É triste que mais de 50 anos após a declaração dos direitos humanos estejamos esquecendo os verdadeiros valores e privilegiando o preconceito em relação ao Oriente Médio. Para mim, as pessoas que lutam pela terra no Brasil ou por empregos na Itália estão na mesma luta que os palestinos e todos os que querem o fim da ocupação israelense para haver paz na região e no mundo", argumenta Bolini.
Uma das organizadoras da conferência em Ramallah, a palestina Bahya Amra, 34, diz lamentar a ausência de representantes israelenses no fórum. "Não há espaço para intolerância, mas eles não podem entrar na cidade."
A princípio, cogitou-se a possibilidade de promover os debates em Jerusalém Oriental, afirma Amra, mas "provavelmente Israel prenderia os participantes palestinos, pois ultimamente até um jantar com cinco pessoas é considerado um ato político nacionalista. Nas cidades de Israel, os palestinos não podem entrar. Não havia outra opção a não ser uma localidade palestina ou um terceiro país, mas é difícil viajarmos, e a volta não é garantida".
Restrições semelhantes enfrentam representantes das entidades palestinas que pretendem participar do fórum em Porto Alegre, segundo o Centro de Democracia e Direitos Trabalhistas na Palestina (CDDTP). Para obter um visto, precisariam ir à Embaixada do Brasil em Tel Aviv, mas dizem encontrar dificuldade em conseguir permissão para ir à cidade israelense. Além disso, ainda de acordo com o CDDTP, a embaixada haveria dito que teria de enviar os passaportes ao Brasil durante um mês. A reportagem tentou entrar em contato com a embaixada na semana passada, mas ninguém atendeu ao telefone.


Paulo Daniel Farah viajou a Ramallah a convite do Fórum Social Mundial


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