UOL


São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ser e parecer

Na sexta-feira (1/8), soube de um leitor, por e-mail, que o programa vendido no Teatro Municipal para o espetáculo "Ohad Naharin", do Balé da Cidade de São Paulo, que estreava em 25/7, trazia um texto da jornalista e crítica de dança Ana Francisca Ponzio, autora, também, da apresentação do mesmo evento publicada no "Guia da Folha" daquela semana.
Caso semelhante foi abordado aqui em 30 de março passado.
Essa duplicidade constitui uma combinação perigosa. Abre a possibilidade de leitores se questionarem sobre a real isenção do jornal em relação a certo evento. De se perguntarem se o jornal indica tal espetáculo por ser realmente bom para eles ou o faz porque o autor do texto está, ainda que indiretamente, envolvido com o mesmo espetáculo?
Em comentário ao ombudsman, a jornalista pondera:
"O texto no programa foi por mim cedido, sem remuneração ou vantagem alguma. Como qualquer jornalista, somos requisitados para expressar opiniões em situações diversas, até por conseqüência da credibilidade que tenhamos construído. Tudo o que disse no programa poderia dizer à saída do teatro se algum repórter de TV me interpelasse, num documentário ou debate público. Estão preservadas minha liberdade de pensamento, minha isenção e a qualidade da informação, como em todos meus textos que a Folha publica desde 1993 sem que nenhum demérito tenha sido apontado até hoje."
O "Guia" informa que não foi consultado nem informado pela crítica de que ela escreveria um texto para o programa do balé.
Observo, apenas, o seguinte: ao jornalista -e ao jornal-, não basta ser isento nem ter a consciência tranquila. É preciso, também, parecer isento.
Sua independência -como a do jornal- tem de ser escancarada reiteradamente, para que não haja chance de pairar no ar nenhuma interrogação.
A duplicidade aqui apontada não contribui nessa direção.



Texto Anterior: Acertos e erros
Próximo Texto: "Erramos" on-line
Índice


Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor -recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Bernardo Ajzenberg/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.