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Ser e parecer
Na sexta-feira (1/8), soube de
um leitor, por e-mail, que o programa vendido no Teatro Municipal para o espetáculo "Ohad
Naharin", do Balé da Cidade de
São Paulo, que estreava em 25/7,
trazia um texto da jornalista e
crítica de dança Ana Francisca
Ponzio, autora, também, da
apresentação do mesmo evento
publicada no "Guia da Folha"
daquela semana.
Caso semelhante foi abordado
aqui em 30 de março passado.
Essa duplicidade constitui
uma combinação perigosa. Abre
a possibilidade de leitores se
questionarem sobre a real isenção do jornal em relação a certo
evento. De se perguntarem se o
jornal indica tal espetáculo por
ser realmente bom para eles ou o
faz porque o autor do texto está,
ainda que indiretamente, envolvido com o mesmo espetáculo?
Em comentário ao ombudsman, a jornalista pondera:
"O texto no programa foi por
mim cedido, sem remuneração
ou vantagem alguma. Como
qualquer jornalista, somos requisitados para expressar opiniões em situações diversas, até
por conseqüência da credibilidade que tenhamos construído.
Tudo o que disse no programa
poderia dizer à saída do teatro se
algum repórter de TV me interpelasse, num documentário ou
debate público. Estão preservadas minha liberdade de pensamento, minha isenção e a qualidade da informação, como em
todos meus textos que a Folha
publica desde 1993 sem que nenhum demérito tenha sido
apontado até hoje."
O "Guia" informa que não foi
consultado nem informado pela
crítica de que ela escreveria um
texto para o programa do balé.
Observo, apenas, o seguinte: ao
jornalista -e ao jornal-, não
basta ser isento nem ter a consciência tranquila. É preciso,
também, parecer isento.
Sua independência -como a
do jornal- tem de ser escancarada reiteradamente, para que
não haja chance de pairar no ar
nenhuma interrogação.
A duplicidade aqui apontada
não contribui nessa direção.
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Bernardo Ajzenberg é o ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
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