São Paulo, domingo, 06 de outubro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O hoje e o amanhã

BRASÍLIA - Num quadro de indefinição, muitos petistas e não-petistas devem pensar, lá no íntimo, o que seria melhor para Lula: manter-se como o mito e preservar sua imagem para a história ou arregaçar as mangas na rotina desgastante da administração de um país tão difícil e desigual?
A dúvida deve estar também na alma do próprio Luiz Inácio Lula da Silva, que pegou um pau-de-arara, virou líder sindical e está hoje disputando pela quarta vez a Presidência. Será assaltado por uma angústia íntima, interior? O que é melhor: o Lula mito ou o Lula presidente? O Lula vitrine ou o Lula vidraça?
O grande aliado de Lula é a expectativa negativa: será que ele vai dar certo? Tem capacidade? E a falta de experiência administrativa? E os estigmas do PT? Qualquer coisa que dê certo já é uma vitória.
E o grande adversário é justamente a expectativa positiva: será que tudo vai ser diferente? Será que, com uma vitória em primeiro turno, o Brasil vai amanhecer diferente na segunda-feira e todos seremos felizes para todo o sempre? Qualquer coisa que dê errado já é uma derrota.
No caso do segundo turno, novos acordos políticos, grupos de indecisos, estratégias. A eleição vira um pingue-pongue e, se for com o tucano José Serra, o que é mais provável, o eleitorado estará finalmente entre dois pólos: oposição e governo.
Serra vai ter de se assumir governo, FHC vai ter de entrar na campanha, e os eleitores de Ciro e de Garotinho, que se recusaram a ir para um lado (oposição) ou outro (governo), vão ter de finalmente optar pelo "menos ruim". A dúvida com Lula é enterrar ou não a última esperança. Com Serra, é desenterrar ou não a esperança da era FHC.
O primeiro turno de 2002 entra para a história pela qualidade dos candidatos, grau de exigência dos eleitores, nova atitude da mídia e ausência de denúncias de uso da máquina.
Que ganhe o melhor, no primeiro ou no segundo turno. Hoje, tudo são interrogações. Que daqui a dez anos tenhamos uma certeza: votamos bem, deu certo!


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