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São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES


Viva a democracia, abaixo a anarquia

Os nossos parlamentares estão de parabéns. Trabalharam duro, negociaram à exaustão e puseram o Brasil acima dos seus interesses pessoais.
Assim foi a aprovação da reforma da Previdência Social no primeiro turno de votação na Câmara dos Deputados na semana que passou.
O estresse foi grande. Os recuos, inevitáveis. Mas, no final, colocou-se o país na direção certa.
Não haverá milagres imediatos. Os principais impactos da reforma virão a médio e a longo prazo. O importante é que os investidores olharão para a frente, vendo um déficit cadente, enquanto, até hoje, enxergavam um pavoroso desequilíbrio crescente -o suficiente para jogar a taxa de juros nas nuvens e espantar investimentos e empregos.
Excelente também foi a conduta dos parlamentares da oposição, que garantiram o difícil quórum para uma mudança constitucional. Uma atitude digna de aplausos, assim como foi merecedor de críticas o comportamento dos opositores do passado que retiraram do plenário os votos para aprovar os projetos.
Portanto, homenagens aos parlamentares da base governista -que tiveram competência para mobilizar seus companheiros- e respeito aos parlamentares da oposição -que tiveram o patriotismo de apoiar o Brasil numa hora em que o mundo esperava um sinal positivo no combate efetivo à principal causa de déficit público -a Previdência Social.
Há mais uma razão para cumprimentar os parlamentares. No dia da votação, manifestantes equivocados, em lugar de seguir o lema da nossa bandeira -ordem e progresso-, decidiram investir contra as instalações do Congresso Nacional, depredando o que encontraram.
Como resposta, os congressistas deliberaram trabalhar mais ainda e votar as matérias até a madrugada. Foi a resposta da democracia à anarquia. O Brasil mostrou ter defensores aguerridos, que não se acanham em defender os princípios democráticos até mesmo quando ameaçados. Oxalá os detratores da liberdade tenham aprendido que democracia sem ordem é tão ruim quanto ordem sem democracia!
Por trás de todo esse esforço, há que se destacar o realismo do presidente da República, que, apesar de eleito por muitos grupos corporativistas, colocou o futuro das próximas gerações à frente de acertos eleitorais.
O presidente Lula cansou de dizer que a reforma é para garantir a aposentadoria dos nossos filhos e netos. Teve vontade política. Exerceu-a com denodo. Conseguiu seu intento.
Há muitos aperfeiçoamentos a fazer e novas votações a realizar, até mesmo em outras áreas. Esperemos apenas que, na reforma tributária, o governo não venha tirar dos contribuintes o que se deixou de economizar com o projeto inicial da Previdência Social.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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