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ELIANE CANTANHÊDE
A brincadeira acabou
BRASÍLIA - No dia em que o Paloccinho deixou de ser paz e amor e virou
um ministro da Fazenda de discurso
duro, contundente e implacável contra o atual governo, tudo começou a
mudar nas relações FHC-Lula, atual
e futuro governo.
A única curiosidade do discurso de
Palocci na primeira reunião ministerial, na sexta-feira, foi deixar de fora
críticas diretas à área de Saúde, reduto de José Serra, adversário de Lula
no segundo turno. Por quê? Sei lá.
De resto, não sobrou pedra sobre
pedra. Nem do governo FHC, nem do
jeitão paz e amor de Lula. Que, aliás,
não se deu por satisfeito com o discurso do seu ministro da Fazenda e
engrenou a segunda.
Palocci desmontou a política econômica, o planejamento estratégico,
os resultados na educação, as prioridades sociais, a política externa e não
reconheceu nem o êxito da estabilidade, já que os preços sobem e a inflação ameaça.
Lula veio em seguida, prometendo
continuar a vasculhar tudo, descobrir barbaridades e abrir cada detalhe para a sociedade. "Para não sermos culpados pelos erros dos outros."
Apesar disso, Lula avisou que não
estava interessado em bate-boca. Do
Palácio do Planalto, a quatro dias de
deixar o cargo, FHC reagiu na linha
do "quem ri por último ri melhor".
Mandou o porta-voz retrucar que, logo logo, o novo governo vai abandonar "a retórica de palanque" e ver o
que é bom para a tosse.
O que fica de tudo isso, após uma
transição tão elegante, é um punhado de dez folhas, com 18 itens, com as
críticas do governo que entra ao governo que sai. Até para comparação
com o passado e, principalmente,
com o futuro. Entra ano, sai ano, o
discurso é de estabilidade, crescimento e justiça social. Mas, como disse
Palocci, "o quadro de distribuição de
renda está inalterado há 30 anos".
A expectativa que Lula, Palocci e o
governo do PT abrem é de que esse
quadro seja profundamente alterado
nos próximos quatro ou oito anos. E
que o discurso de Palocci não esteja
perfeitamente atual na boca e na
posse do sucessor de Lula. A conferir.
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