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MÁRIO MAGALHÃES
Weffort, o intelectual
RIO DE JANEIRO - Antes que seja tarde, renda-se o tributo. Ainda é tempo. Quem acessa a página do Ministério da Cultura na internet
(www.cultura.gov.br) encontra uma
fabulosa oferta de livros. Com o devido atalho para comprá-los. Foram
pagos com dinheiro público. Pelo menos dois com o co-patrocínio da Associação de Amigos da Funarte.
Consagram o pensador nacional
Francisco C. Weffort, como ele assina
os volumes. É autor ("A Cultura e as
Revoluções da Modernização",
2000), co-autor ("Cinema Brasileiro", 2001), organizador ("Um Olhar
sobre a Cultura Brasileira", 1998),
prefaciador ("Fascínio e Repulsa",
2000) e "apresentador" ("Cultura e
Desenvolvimento", 2000).
Por coincidência, trata-se do ministro da Cultura da era Fernando Henrique Cardoso. O ministério editou os
livros. O intelectual onipresente é
também o ""diretor editorial" da série
pela qual os outros títulos saíram.
Escreve, financia, auto-publica-se.
Só uma mente maldosa especularia
não se tratar de mera casualidade tamanha convergência. O sítio mantido pela repartição chefiada por Weffort anuncia sete livros. Cinco contêm
textos do ministro. O repórter ainda
não leu os dois mais recentes.
A inteligência do país sai enriquecida da leitura de "A Cultura e as Revoluções da Modernização". No prefácio, Márcio Souza assinala a "precisão de raciocínio", a "linguagem
clara" e os "textos brilhantes que
prescindem de apresentação".
Puro acaso, o escritor Souza preside
a Fundação Nacional de Arte, a Funarte. Logo, subordina-se a Weffort.
Em "Fascínio e Repulsa", lançado pela Funarte, o autor é o presidente da
fundação. O prefaciador Weffort incensa o "texto luminoso, instigante"
de Souza. Retribui o adjetivo "brilhante" duas vezes.
Num livro, o ministro diagnostica,
conforme introdução do subordinado, "a síndrome derrotista paranóica
da esquerda". Derradeira coincidência, a mesma esquerda que sucederá
o governo ao qual Weffort serviu e
que bancou, certamente por mérito, a
publicação dos seus textos.
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