Um trabalho divulgado ontem pelo Centro de Políticas
Sociais (CPS), da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), intitulado "Equidade e Eficiência na Educação:
Motivações e Metas", revela que 18% dos
jovens de 15 a 17 anos no Brasil estão fora da escola.
Desse percentual, 11,9% integram o estrato de renda dos 20%
mais pobres da população. Um detalhe da pesquisa
informa ainda que 8% desses jovens não vão à
aula "porque não querem", destaca Marcelo
Nery, diretor do CPS e autor do estudo. Segundo ele, dos 10%
restantes, 4% não vão à aula porque trabalham,
2% não comparecem porque a escola se situa em locais
inacessíveis, e 4% não estudam por outros motivos.
Para Nery, a decisão do governo de dar incentivo a
estes jovens para resgatá-los para a escola através
do Bolsa Família "é uma boa idéia".
A iniciativa é apontado por ele como melhor que a do
primeiro emprego, "pois vai atacar diretamente a questão
da educação como indutor da redução
da pobreza". Ele destacou ainda a importância do
recém-lançado PAC Educacional para colocar o
ensino básico no centro do debate social brasileiro,
saindo da discussão de priorizar a universidade pública.
O trabalho da FGV, que se baseou em entrevistas feitas junto
a estes jovens e seus pais e trabalhando com o Suplemento
Educacional da PNAD do IBGE, levantou, através da criação
de um índice de equidade, em que grau os mais pobres
se beneficiam do ensino médio ou da universidade pública.
No entender de Nery, se uma parte dos jovens não frequenta
a escola "porque não quer", como demonstrou
a pesquisa, é importante ter políticas públicas
que possam ir além do Bolsa Família, para atrair
este contingente "de volta às aulas".
Avaliando as políticas educacionais pelo lado da eqüidade,
Nery considera uma política pró-pobre aquela
que beneficia mais aos pobres que aos não-pobres. Com
base num indicador de eqüidade que vai de zero ( não
beneficia nenhum pobre) a valores acima de 1, o economista
revelou em seu trabalho que os níveis inferiores de
ensino são mais eqüitativos, mais pró-pobres
que os níveis mais altos.
Para Nery, a educação faz uma revolução
na vida do jovem e impacta não só o emprego
e a renda, mas também a saúde e ajuda a resolver
a questão da criminalidade. O seu trabalho mostra que
a o nível de ocupação dos que pelo menos
cursaram o ensino médio para o superior sobe de 68,11%
para 78,16%. O impacto sobre os salários também
é bastante diferenciado, dependendo do nível
de escolaridade de cada um. Os salários do ensino fundamental
situam-se na faixa de R$ 517,11, do ensino médio, de
R$ 767,08 e do ensino superior, R$ 1.681,52.
Vera Saavedra Durão
As informações são do jornal Valor Econômico
Veja Mais:
Alunos ficam menos na escola
do que exige lei
Uma pesquisa feita pela FGV (Fundação Getúlio
Vargas) mostra que a permanência dos alunos em sala
de aula é um dos maiores desafios do país na
área de educação. Estudantes de zero
a 17 anos passam, na média, 3,9 horas por dia em aula,
menos do que as 4 horas mínimas recomendadas pela Lei
de Diretrizes e Bases da Educação.
Segundo o estudo, feito a partir da Pnad (Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios) do IBGE, em apenas seis
unidades da federação -Distrito Federal, Espírito
Santo, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Rio
de Janeiro- a média de horas de aula diárias
é maior do que o mínimo estipulado pela LDB.
O dado diverge do registro feito pelo Ministério da
Educação no Censo Escolar porque o MEC coleta
as informações nas escolas, enquanto a Pnad
é uma pesquisa em domicílios. Pelo Censo Escolar,
a média de horas de estudo por dia no Brasil é
de 4,4 e quase todos os Estados cumprem ao menos o mínimo.
Para mapear o problema e orientar políticas públicas,
a FGV criou também um índice inédito
que avalia a permanência dos alunos por meio de três
indicadores: taxa de matrícula, horas de aula por dia
e número de faltas.
O resultado apontou que o Distrito Federal tem a mais alta
permanência de estudantes -0,68-, seguido por SP (0,66),
Espírito Santo (0,64), Rio de Janeiro (0,62) e Minas
Gerais (0,62).
Os mais baixos índices foram registrados no Acre (0,39),
Amazonas (0,42), Rondônia (0,43), Maranhão (0,43)
e Mato Grosso (0,44).
No Distrito Federal, por exemplo, a jornada chega a 4,8 horas.
Em SP, é de 4,5 horas. No outro extremo, o Acre mantém
estudantes por 3,1 horas em sala de aula.
"Quanto mais a criança ficar na escola mais aprenderá.
Por isso, esse índice pode ajudar a definir estratégias",
disse Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais
da FGV e autor do estudo.
Saúde e educação
A pesquisa identificou ainda a correlação entre
o maior nível educacional e o estado de saúde
das famílias. Segundo Neri, 95% das melhoras percebidas
na saúde das pessoas estão relacionadas diretamente
ao nível de escolaridade, mesmo quando a renda (outro
indicador que leva ao avanço da condição
de saúde) se mantém estável. A FGV considerou
a avaliação das próprias pessoas sobre
seu estado de saúde.
A recompensa
Além da melhora nas condições de saúde,
o maior nível de estudo propicia mais chances de se
conseguir trabalho e principalmente uma remuneração
mais elevada, segundo o estudo.
Para Neri, o chamado "prêmio" da educação
no mercado de trabalho se traduz no nível de ocupação:
60,6% dos analfabetos estavam ocupados em 2005, enquanto 81,48%
dos pós-graduados tinham emprego.
A educação possibilita também mais ganhos
no padrão de rendimento: o salário dos pós-graduados
era 540% superior ao dos analfabetos, segundo a FGV.
O salário médio dos analfabetos era de R$ 321,73.
Pós-graduados tinham rendimento médio de R$
3.041.
Pedro Soares
Folha de S.Paulo
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