A classe
média brasileira gasta mais com telefone (fixo, móvel
e acessórios) que com empregada doméstica e
mais com serviços de cabeleireiros que com jornais,
livros e revistas. Também desembolsa mais dinheiro
com cigarros do que com consultas médicas.
É o que constata o economista Marcio Pochmann com base
em dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
realizada em 2002 e 2003.
Para identificar o que considera "preciosidades do consumo
estilizado da classe média brasileira", Pochmann
considerou classe média as famílias com rendimento
mensal de cinco (R$ 1.500) a 30 salários mínimos
(R$ 9.000), com renda média mensal de 16,5 salários
mínimos (R$ 4.951).
Os gastos médios com telefonia (telefones fixo e móvel
e acessórios), segundo levantamento feito pelo economista,
correspondem a 3,04% (ou R$ 150,05) das despesas mensais.
Os gastos com empregada doméstica já representam
2,20% (ou R$ 108,92).
Os serviços com cabeleireiros, que incluem manicure
e pedicuro, absorvem 0,73% (ou R$ 36,14) do rendimento mensal
da família da classe média. A aquisição
de livros, revistas e jornais corresponde a 0,50% (R$ 24,76).
Esses dados estão citados no livro "Classe Média
- Desenvolvimento e Crise", que será lançado
hoje, em São Paulo, do qual Pochmann é um dos
autores. Lançado pela editora Cortez, o livro é
o primeiro volume da série Atlas da Nova Estratificação
Social. Os outros volumes vão abordar os trabalhadores
urbanos, os proprietários, os agregados sociais e os
trabalhadores rurais.
O economista também constatou que a classe média
brasileira gasta em média mensalmente com curso superior
o mesmo que gasta com perfumes, sabonetes e produtos para
cabelo -1,08% do rendimento mensal ou R$ 53,47.
Pocchmann também identificou um gasto maior da classe
média com viagens, jogos, apostas e festas, que compromete
2,14% do rendimento médio mensal, do que compra de
imóveis, que absorve 1,45%. Constatou ainda um gasto
maior com fumo (que participa com 0,62% do rendimento) do
que com consulta médica (corresponde a 0,32%).
O levantamento mostra ainda que os Estados das regiões
Centro-Oestre e Nordeste possuem as famílias que mais
gastam com serviços de telefonia. Os Estados que mais
gastam com serviços domésticos são os
das regiões Norte, Nordeste e Sul.
O estudo de Pochmann indica ainda que quase 70% das famílias
de classe média do país estão em São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
O Brasil tem cerca de 15,4 milhões de famílias
de classe média -das quais 93,3% residem em cidades-
ou 31,7% do total de famílias existentes no país.
Em valores de novembro de 2005, o piso da renda mensal das
famílias de classe média foi de R$ 1.556,30
e o teto, de R$ 17.351,56.
FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo
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