Pesquisa
comparou a profissão de 3,5 milhões de trabalhadores
formados em 21 áreas
Para pesquisador, pautados pelo vestibular, jovens deixam
de cuidar da formação e se preocupam com a angústia
profissional
Todo ano, milhões de jovens brasileiros se deparam
com a difícil escolha de uma carreira ao se inscreverem
num vestibular. O que poucos sabem, no entanto, é que
muitos provavelmente trabalharão numa área que
pouco ou nada tem a ver com o curso escolhido, como mostra
um estudo feito pelo instituto de pesquisa Observatório
Universitário.
Ao comparar, a partir dos microdados do Censo do IBGE de 2000,
a profissão de 3,5 milhões de trabalhadores
formados em 21 áreas diferentes, os pesquisadores descobriram
que a maioria deles, mais precisamente 53%, está hoje
numa profissão distinta daquela para a qual se preparou.
A situação varia conforme a carreira. Em enfermagem,
o índice é de 84%. Em geografia, é de
só 1%.
A baixa correlação entre a área de formação
e a de trabalho levou os pesquisadores Edson Nunes e Márcia
de Carvalho a definir, no título do trabalho, esse
quadro como "A Grande Besteira Educacional Brasileira:
um Ensino Profissional que Não se Aplica às
Profissões que o Defendem".
Na avaliação de Nunes, coordenador do observatório
e presidente do Conselho Nacional de Educação,
isso ocorre porque o Brasil escolheu "o pior dos mundos"
na elaboração de seu modelo de ensino.
"O Brasil oferece uma educação secundária
de péssima qualidade e uma profissional muito precoce,
o que faz com que nossos filhos tenham sua vida de estudantes
secundários pautada por vestibulares. Meninos de 16
anos já têm que começar a decidir se vão
ser médicos ou advogados, o que faz com que deixem
de ter uma formação e passem a se preocupar
com uma angústia. Muitos serão profissionais
frustrados."
Nunes defende a tese de que o objetivo maior do ensino superior
é preparar pessoas competentes e com formação
sólida o suficiente para dominar linguagens que as
permitam aprender qualquer profissão.
"O grosso das profissões no setor terciário
se aprende em um ano e meio ou dois. Grande parte poderia
ser aprendida em ciclos de pós-graduação
curtos. Essa discussão está ausente no debate
sobre a reforma universitária proposta pelo governo,
que é mais uma discussão de processos de regulação
do sistema que de conteúdo e aprendizado", diz.
Para ele, um dos elementos que engessam a educação
é a pressão das corporações profissionais
para limitar a atuação no mercado, regulamentar
as profissões e interferir na definição
dos conteúdos ensinados.
"Há 43 profissões de nível superior
reguladas por lei e uns 14 pedidos para outras. Essas profissões
respondem pela vasta maioria dos universitários, que
estudam hoje para fazer concursos, participar de concorrências
ou ter o diploma."
Presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
e ex-presidente do IBGE, o sociólogo Simon Schwartzman
concorda com a necessidade de flexibilizar o ensino. "Em
geral, o mercado de trabalho requer uma formação
muito menos específica que as carreiras que existem
nas universidades."
Antônio Gois
Folha de S.Paulo
Diploma
em ensino superior garante, em média, salário
duas vezes maior
Na
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