Karina
Costa
especial para o GD
Oitenta e sete por cento dos professores da rede pública
de ensino do Estado de São Paulo confirmam conhecer
casos de violência dentro das escolas. Tráfico
e consumo de drogas, por exemplo, são situações
presenciadas por aproximadamente 70% dos professores.
Os dados são de uma pesquisa do Sindicato dos Professores
do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp),
feita com 684 professores, com o objetivo de entender qual
a percepção dos professores em relação
à violência no ambiente escolar.
Agressão verbal é a modalidade de violência
mais rotineira. Noventa e seis por cento dos professores declaram
já terem presenciado algum episódio desse tipo.
Além disso, completam a lista atos de vandalismo, apontados
por 88,5% dos professores, agressão física,
citada por 82% e casos de furto, lembrados por 76,4%.
"Essa violência atinge a todos, professores, alunos,
funcionários e comunidade", lembra o presidente
da Apeoesp, Carlos Ramiro de Castro. De acordo com os dados,
74% dos entrevistados disseram conhecer casos de ameaças
a professores dentro da escola e 68% revelaram conhecer situações
em que alunos sofreram ameaças. "Não é
uma pesquisa com dados surpreendentes, mas, sem dúvida,
vem a reforçar a visão de que a situação
é extremamente preocupante e de que providências
devem ser tomadas", diz.
As principais causas da violência, segundo os professores
entrevistados, são o conflito entre alunos (76%), o
consumo de drogas e álcool (63%), a falta de funcionários
(60%) e a pobreza generalizada (45,6%). Na opinião
dos educadores, em 93,3% dos casos, os alunos são os
responsáveis pela violência. Pessoas desconhecidas
são responsáveis por 31,6% dos casos e 25,2%
das situações são causadas por pais ou
responsáveis.
Para a mestra em educação e linguagem e especialista
em questões relacionadas à disciplina em sala
de aula, Anna Rita Sartore, existem dois tipos de violência:
um deles está na sociedade (a marginalidade e o banditismo
que invadem a escola), o outro é a violência
causada dentro da própria instituição.
"No primeiro caso, a resolução compete
não às escolas, mas ao poder público.
É uma questão de polícia, está
fora da alçada pedagógica da escola", explica.
"Já a violência causada dentro da escola
acontece porque há frouxidão de limites da instituição
para com os estudantes. A escola, sendo o primeiro meio de
convívio social dos alunos, deve primar pelos limites
e pela ética", analisa.
A pesquisa demonstra ainda que 39% dos alunos se sentem inseguros
a ponto de deixarem de ir às aulas. Vinte e nove por
cento dos professores não se sentem seguros e, por
isso, deixam de lecionar. "Para o ensino-aprendizagem
acontecer, é preciso, no mínimo, haver um ambiente
em que as pessoas possam se relacionar. Os dados coletados
revelam a falta de condições de trabalho dentro
dessas instituições, o que inclui a precariedade
da infra-estrutura, a indisciplina, a falta de funcionários
e a carga horária reduzida", aponta Castro.
Tanto Castro quanto Sartore defendem uma gestão democrática
como caminho para a redução da violência
nas escolas. "A comunidade deve participar da elaboração
do projeto pedagógico da escola", sugere Castro.
"É preciso integrar a comunidade, os serviços
de saúde, a assistência social e o Conselho Tutelar,
entre outras instituições, para desenvolver
uma educação mais abrangente. O professor não
pode mais ser o 'faz-tudo' na escola e abarcar, inclusive,
o papel de psicólogo, de pai ou de mãe",
defende o presidente da Apeoesp.
"Essa gestão deve incluir também reuniões
de pais com discussões que vão além das
notas no boletim escolar. Só essa parceria modificará
a situação. Pais, alunos e professores passarão
a se entender e a enxergar que estão em busca de um
mesmo objetivo: formar cidadãos de bem. Isso trará
de fora mais respeito à instituição e
a seus colaboradores. Além disso, a comunidade e o
corpo pedagógico estarão unidos e prontos para
gritar ao poder público, pedindo o respaldo que ele
é obrigado a dar", acredita Sartore.
Uma experiência nas redes pública e particular
de ensino de Curitiba (PR) ajuda professores a identificarem
mais facilmente alunos que estejam sofrendo tal punição
também fora desse ambiente. Trata-se de uma capacitação
acompanhada de uma cartilha com dicas de como fazer essa identificação.
Cerca de 13 mil profissionais que lecionam na rede pública
e duas mil escolas particulares participam da ação
desenvolvida pelo Hospital Pequeno Príncipe em parceria
com a Prefeitura e o Sindicato das Escolas Particulares do
Paraná (Sinepe-PR).
"O aluno passa metade do seu dia na escola, portanto,
se um grupo é capacitado para identificar casos de
violência, conseguimos combatê-la precocemente",
acredita a diretora de Relações Institucionais
do hospital, Ety Cristina Forte Carneiro. Segundo ela, no
Brasil, os professores são responsáveis por
cerca de 8% das denúncias de maus-tratos. A rede criada
em Curitiba faz com que os profissionais gerem 31% desse tipo
de denúncia.
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