As empresas
estão empenhadas em expandir projetos focados na chamada
"construção sustentável". Esse
movimento ganhou força nos últimos anos, tem
apoio das principais entidades privadas do setor e já
resulta em ganhos para as empresas. A idéia principal
é minimizar o uso de insumos e, ao mesmo tempo, ampliar
a utilização de material renovável ou
reciclável nas edificações.
O interesse no desenvolvimento sustentável, tanto
por parte de construtoras como de grandes empresas de diferentes
setores, ampliou-se após recentes debates sobre o risco
de esgotamento dos recursos naturais. Montadoras de automóveis,
redes varejistas, indústrias farmacêuticas e
outros segmentos que investem em grandes fábricas ou
lojas, passaram a contratar empreiteiras e escritórios
de arquitetura envolvidos num planejamento responsável.
Há dois anos, a empresa Esfera Empreendimentos criou
um projeto batizado de Ecolife, em que prédios são
planejados para que os recursos naturais sejam otimizados,
refletindo uma redução da taxa de condomínio
em até 30%. Nesses edifícios há, por
exemplo, sensores de presença, tecnologia para o reuso
da água, churrasqueira ecológica (não
produz fuligem e não consome carvão vegetal)
e medidores individuais de gás e água - para
incentivar o controle dos recursos por apartamento. A empresa
também utiliza nos edifícios placas de captação
de energia solar. Essa energia é armazenada em baterias
e utilizada pelo condomínio em algumas áreas
comuns, economizando eletricidade e reduzindo os gastos com
o condomínio.
Em dois anos, de 2005 a 2007, a Esfera lançou quatro
unidades do Ecolife em diferentes bairros de São Paulo
e em Campinas (SP), com faixa de preços entre R$ 150.000,00
a R$ 300.000,00 por unidade. Até 2009, outros quatro
novos edifícios devem ser lançados dentro dessa
proposta.
Maior rede varejista do país, o grupo Pão de
Açúcar cresceu veloz-mente na última
década e esse crescimento precisou ser realizado por
meio de controles dos efeitos nocivos ao meio ambiente, segundo
a empresa. A preocupação ambiental na companhia
se dá, por exemplo, por meio da seleção
dos materiais utilizados na construção de suas
lojas e pela definição de programas de ecoeficiência,
passando pelo processo de descarte dos produtos, através
de postos para coleta de materiais recicláveis. "A
idéia do grupo é envolver toda a comunidade
nesse processo, por meio de ações simples. Nesse
contexto, as ações de reciclagem, por exemplo,
são emblemáticas porque transformamos o estado
bruto dos resíduos, ou seja lixo, em ferramenta de
inclusão social e preservação do meio
ambiente", diz Claudia Pagnano, diretora executiva do
grupo Pão de Açúcar.
A aprovação do projeto de construção
das unidades de supermercado e hipermercados do grupo contempla
um estudo interno em que são avaliadas possibilidades
para se reduzir o impacto da operação sobre
o meio ambiente. A empresa, por exemplo, dá preferência
à utilização da iluminação
zenital nas lojas. Esse tipo de luz "inteligente"
consegue ser igualmente distribuída sob o terreno e
na quantidade ideal, gerando uma economia de energia. Além
disso, nos últimos anos, a rede varejista passou a
investir em equipamentos para a captação de
águas pluviais - o que contribui para a redução
de alagamentos e danos provocados pelas chuvas.
Em linha geral, as grandes construtoras como Camargo Corrêa
e Cyrela já adotam práticas responsáveis
no campo ambiental há anos. O mais recente passo da
Camargo Corrêa nesse sentido está sendo dado
agora. Em parceria com a americana Tishman Speyer, a área
de desenvolvimento imobiliário da empresa decidiu lançar
um complexo de escritórios de alto padrão com
o selo green building (prédio verde). Uma unidade do
edifício já foi lançada em 2006 e outra
deve começar a ser erguida nos próximos meses.
A certificação é concedida pelo U.S.
Green Building Council, dos EUA. Para obter esse selo, o empreendimento
é obrigado a seguir certas normas de construção
como, por exemplo, a criação de um plano de
controle da destinação de lixo/entulho, reciclagem
de materiais e retenção e reuso das águas
pluviais.
"O diferencial desse empreendimento é a sua modernidade.
Nele, encontraremos tecnologia de última geração,
com baixos custos de operação", completa
Roberto Perroni, diretor superintendente da Camargo Corrêa
Desenvolvimento Imobiliário.
Empresas de médio porte seguem caminhos semelhantes.
A construtora A.Yoshii Engenharia, com forte operação
no Sul do país, usa esquadrias em suas construções
que permitam maior iluminação natural. Optou
pela medição individual de água e gás
nos prédios, o que resulta em utilização
mais controlada desses recursos. Além disso, os sensores
de presença em área de circulação,
a captação e armazenagem de águas da
chuva e o sistema de aquecimento solar promovem o uso racional
dos recursos naturais. Segundo o diretor da companhia, Leonardo
Yoshii, a empresa só utiliza madeira certificada ou
de reflorestamento, e faz a rastreabilidade do entulho.
O setor da construção civil é responsável
pelo consumo da maior parte da madeira nativa produzida no
Brasil. A construção civil consome cerca de
dois terços da madeira natural do país. Em 2006,
pesquisa realizada pela American Society of Civil Engineers
(ASCE), nos EUA, informa que a questão ambiental é
uma das maiores preocupações dos empresários
do setor de construção no mundo, ocupando o
segundo lugar no ranking geral. Segundo a associação,
a construção civil é responsável
por entre 15% e 50% do consumo dos recursos naturais extraídos
do planeta.
No Brasil o consumo de agregados naturais na produção
de concreto e argamassas é de 220 milhões de
toneladas ao ano. O volume de entulho de construção
e demolição gerado é até duas
vezes maior que o volume de lixo sólido urbano.
Adriana Mattos
Valor Econômico
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