Depois
de sucessivas quedas até 2005, rendimentos voltaram
a crescer para todas as camadas sociais
Depois de anos em queda, a renda da classe média dá
sinais de recuperação. Praticamente todas as
faixas de domicílios do País tiveram sua renda
elevada em 2006, diferentemente do que aconteceu de 2002 a
2005, quando aumentos substanciais aconteceram só nas
classes mais baixas, por conta de transferências promovidas
por programas assistenciais, como o Bolsa Família,
e dos fortes aumentos do salário mínimo.
A tendência é de que a renda continue a crescer
de maneira generalizada nos domicílios de todas as
classes sociais ao menos até 2008.
Nos domicílios 10% mais ricos (R$ 7.063,00, em média),
por exemplo, o incremento de renda foi de apenas 1,3% entre
2002 e 2006 , enquanto nos 30% a 40% mais pobres (R$ 473,00)
chegou a 18,9%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), do IBGE. Já em 2006, o crescimento
nessas mesmas faixas ficou muito próximo: 7,1% e 10,7%,
respectivamente, em relação a 2005.
'Esse tipo de crescimento equilibrado é bastante saudável,
pois indica que o aumento da renda não está
se dando só por transferência do governo, mas
também pelo próprio dinamismo da economia, o
que tem impacto direto na classe média', diz Sérgio
Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, autor
do estudo sobre renda no País. 'A classe média
deve continuar a crescer sustentada pela evolução
positiva do emprego qualificado.'
Pelos cálculos do economista, cerca de R$ 99 bilhões
engrossaram a massa real de renda em 2006, que aumentou 10%,
para R$ 1,1 trilhão. Este ano, o acréscimo deve
ser de R$ 90,9 bilhões, o que representaria aumento
de 8,5%. Para 2008, a previsão é de incremento
de R$ 70 bilhões , que daria 6% de alta.
'O cenário é extremamente positivo e abre espaço
para um consumo de maior valor agregado, por se dar agora
também na classe média', diz Vale. Ele observa
que a renda das classes mais baixas ainda tende a crescer,
porque o salário mínimo deverá ter aumentos
relevantes. Além disso, o comércio e os serviços
estão em franca expansão e são demandantes
de mão-de-obra menos qualificada.
Um exemplo de recuperação da classe média
é no setor da construção civil. Até
o início de 2006, o crescimento maior do salário
no setor se dava nos empregos não qualificados. Depois
que as obras deslancharam nos últimos dois anos, começou
a faltar mão-de-obra qualificada e os salários
dos engenheiros passaram a crescer mais do que a média.
O engenheiro Luiz Nobre de Lima, de 52 anos, trocou recentemente
o emprego de gerente de obras de uma grande construtora na
cidade de São Paulo pelo de gerente de projetos da
Método Engenharia e passou a ganhar 30% a mais. Lima
é um dos 14 profissionais que a Método foi buscar
este ano no mercado para ocupar cargos executivos, cujos salários
estão na faixa de R$ 15 mil a R$ 20 mil.
'Do pondo de vista familiar, a mudança possibilitou
melhor qualidade de vida e aumento da capacidade de poupança,
além do conforto de ganhar mais'.
Lima é casado e tem duas filhas, uma de 23 anos, formada
em administração de empresas, e outra de 20
anos, estudante de propaganda e marketing. Sua mulher é
dona de casa.
O aumento da demanda por profissionais qualificados como
Lima já começa a aparecer nas estatísticas
do emprego com carteira assinada do Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
De janeiro a setembro de 2006, 98% dos empregos formais criados
no País não pagavam mais que 1,5 salário
mínimo (R$ 525). Hoje, a proporção já
caiu para 88%.
Este ano, o emprego cresceu 16,1%, mas o número de
postos de mais de 1,5 a 3 salários mínimos (até
R$ 1.050) aumentou 30,1%. Já a quantidade de vagas
de até 1,5 salário mínimo aumentou só
8,4%.
O perfil das contratações mudou porque as empresas
passaram a investir mais, diz o presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann.
'A demanda passou a ser por trabalhadores mais qualificados,
pagando-se mais por isso'.
O metalúrgico José Aparecido Soares Fernandes,
de 25 anos, trabalha há um ano na Caterpillar, fabricante
de máquinas e equipamentos para construção
pesada. Entrou como auxiliar de soldador, ganhando R$ 700.
Passou por treinamentos internos e, em agosto, foi promovido
a soldador, com salários de R$ 1,2 mil, quase o dobro
do que ganhava quando foi contratado pela empresa.
Marcelo Rehder
O Estado de S.Paulo
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