Uma cidade
da região metropolitana de Salvador (BA) quer utilizar
a estética para melhorar a auto-estima de 597 servidores
que integram algumas categorias de baixo prestígio
e remuneração.
Há uma semana, funciona em Simões Filho (21
km da capital) um salão de beleza que oferece gratuitamente
todos os serviços (corte, barba, manicure, escova,
massagem, tintura, reflexo e alisamento, entre outros) para
garis, jardineiros, vigilantes e pintores de meio-fio e seus
dependentes.
"Foi a forma que encontramos para valorizar profissionais
que mantêm a cidade limpa e bonita e, na maioria das
vezes, simplesmente são ignorados pela população",
disse Manoel Almeida, 50, secretário de Serviços
Públicos.
O salão, de 30 metros quadrados, é uma construção
anexa à Casa do Gari -um espaço onde os profissionais
fazem cerca de 800 refeições por dia (entre
café da manhã e almoço), também
sem pagar pelo serviço oferecido.
Desde a inauguração, ele tem realizado, em média,
30 atendimentos por dia. Foram investidos R$ 5.000 no estabelecimento,
que conta com cinco funcionários fixos das 8h às
17h (segunda a sexta) e das 8h às 12h (sábados).
"Antes, eu gastava R$ 10 por semana para fazer as unhas.
Vou economizar e continuar bonita", disse a gari Alete
Ventura, 44.
O salário médio de um gari na cidade é
de R$ 430 (com hora extra e insalubridade) -25% menos do que
em Salvador.
O gari Ronaldo Silva Pessoa, 55, que tem sete filhos, acha
que a construção do salão pode ser comparada
a um "salário indireto". "Vou economizar
quase R$ 100 por mês só com os cortes de cabelo
dos filhos e os serviços de manicure de minha mulher."
O prefeito de Simões Filho, Edson Almeida (PL), 55,
disse que a inauguração do salão também
tem outra função. "Os filhos dos garis
e de outros servidores podem se inscrever para um curso profissionalizante,
que será dado no local. Com três meses, vamos
formar futuros profissionais."
Atriz nas horas vagas, Marineuza Bispo Nascimento, 33, foi
uma das beneficiadas pelo projeto municipal. "Como já
tinha feito um curso, fui contratada para trabalhar no salão",
acrescentou.
Ao contrário dos salões tradicionais, que funcionam
com agendamento, na Casa do Gari não há telefones
-os profissionais são atendidos pela ordem de chegada.
"A única coisa que exigimos é que os atendimentos
sejam realizados fora do horário de trabalho",
disse Manoel Almeida.
Mesmo satisfeitos pela inauguração do salão,
os garis de Simões Filho, responsáveis pela
coleta de 1.500 toneladas de lixo por mês, querem mais.
"Precisamos de postos médicos e odontológicos",
disse Ronaldo Pessoa.
"É claro que a nossa auto-estima melhorou muito.
A verdade é que ninguém liga para a gente. Muitas
vezes as pessoas jogam lixo na rua. Pelo menos aqui a gente
se sente mais feliz e recompensada", disse Alete Oliveira.
As informações são
da Folha de S. Paulo.
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