O
ministro da Educação, Fernando Haddad, e a representante
do Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) no Brasil, Marie-Pierre Poirier lançam hoje
o resultado do estudo Aprova Brasil, o Direito de Aprender.
O evento ocorrerá às 11h, no auditório
do MEC. Diferente de análises quantitativas sobre a
educação, o estudo do Unicef aponta caminhos
para consolidar a escola como agente de transformação
social.
Para o estudo, foram selecionadas e analisadas as experiências
de 33 escolas que obtiveram bom desempenho na Prova
Brasil em 2005. O desafio foi buscar escolas em que o
direito de aprender de cada criança se concretiza,
apesar de situações desfavoráveis de
pobreza, violência e desemprego dos pais.
Um exemplo de impacto positivo apontado no estudo é
o combate à evasão. Em algumas escolas selecionadas,
quando falta um aluno, uma equipe de visitadores vai à
casa da família para saber o que está acontecendo.
Integração e transformação social
- As escolas do estudo apresentam modelos de gestão
participativa, em que alunos, pais, professores, funcionários
e a comunidade opinam sobre as decisões administrativas,
pedagógicas e financeiras.
A integração da escola com a família
ocorre por meio de projetos especiais. Em alguns deles, mães
desempregadas participam de oficinas de profissionalização.
Os brinquedos confeccionados também são usados
pelas crianças.
Karla Nonato
Site do MEC.
Estudo Aprova Brasil, o Direito de Aprender
O estudo Aprova Brasil, o Direito de Aprender, realizado pelo
Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), identificou fatores comuns a 33 escolas que, apesar
de todas as condições desfavoráveis,
conseguiram causar um forte impacto positivo sobre a vida
e a aprendizagem dos alunos. O impacto se refletiu nos excelentes
resultados que essas crianças alcançaram na
Prova Brasil 2005.
Durante três meses, 12 pesquisadores visitaram as 33
escolas, tendo em mãos um questionário-padrão
que foi aplicado aos chamados atores da escola: direção,
coordenação pedagógica, professores,
alunos, pais, funcionários e membros do conselho escolar.
Todos responderam qual seria o motivo do desempenho na Prova
Brasil acima da média das escolas públicas brasileiras.
As respostas mostraram três fatores comuns: o papel
central e fundamental do professor; o projeto pedagógico
da escola e a participação dos alunos.
Seleção - As 33 escolas foram escolhidas pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep) e pelo Unicef, levando em consideração
o contexto de cada uma. Não se trata de escolas com
maior nota na Prova Brasil, mas sim daquelas que agregam mais
aos seus alunos, possuindo os melhores Indicadores de Efeito
Escola (IEE).
O IEE mede o impacto que a escola tem na vida e no aprendizado
dos alunos. O índice é determinado a partir
de um critério científico: são considerados
dados socioeconômicos dos alunos, perfil do município
onde está a escola e o desempenho médio na Prova
Brasil 2005.
Nas instituições analisadas, o desempenho médio
dos alunos, tanto da 4ª como da 8ª série,
estavam acima do valor médio esperado para escolas
de perfil semelhante. A maioria atende a crianças de
baixa renda. Em casa não há livros infantis
e a maioria dos pais tem baixa escolaridade.
A estrutura física das escolas também é
precária. A maior parte fica em comunidades carentes,
não é equipada e não possui computadores.
A realidade social dos alunos é complexa e cheia de
desafios. Alguns até mesmo falam outra língua,
como as crianças que pertencem a povos indígenas.
Nessas escolas, os alunos estão mais vulneráveis
à exclusão social, mas mesmo assim têm
um bom aprendizado, como foi demonstrado na Prova Brasil.
Portanto, acredita-se que o processo educacional se deve principalmente
à ação da escola como agente de transformação
da realidade dos alunos.
Essa transformação foi avaliada em sete dimensões
consideradas fundamentais para a aprendizagem:
1. ambiente educativo – respeito, solidariedade e disciplina
na escola;
2. prática pedagógica – proposta pedagógica
da escola, planejamento, autonomia dos professores e trabalho
em grupo de professores e alunos;
3. avaliação – (além das provas
e das formas tradicionais de avaliação) processos
de auto-avaliação, por participação
dos alunos em projetos especiais, etc;
4. gestão escolar democrática – compartilhamento
de decisões e informações com professores,
funcionários, pais e alunos e participação
dos conselhos escolares;
5. formação e condições de trabalho
dos profissionais da escola – habilitação
dos professores, formação continuada e estabilidade
da equipe escolar;
6. ambiente físico escolar – materiais didáticos,
instalações, existência de bibliotecas
e espaços de prática de esportes, condições
da sala de aula;
7. acesso, sucesso e permanência na escola –
índices de falta, abandono e evasão escolar,
defasagem idade-série.
Resultados - Em 32 escolas, o êxito na prova foi atribuído
ao professor. O empenho, a competência, a capacitação,
o interesse, a dedicação e a abertura para criar,
inventar atividades e estimular os alunos foram os aspectos
mais destacados. Relata-se o compromisso dos professores em
relação à escola, aos alunos e à
comunidade, que se concretiza na forma de relacionamento,
na busca por capacitação, na disponibilidade
ao diálogo. O fato de serem exigentes e cobrarem responsabilidade
dos alunos foi destacado fortemente pelos alunos e pais.
Outro aspecto destacado é a atitude do professor em
relação ao processo da aprendizagem, como a
paciência, a calma, a forma divertida de ensinar, a
capacidade de dialogar e a disposição de manter
a disciplina na base de regras acordadas entre todos. Foram
identificados também aspectos afetivos da relação
entre professores e alunos, destacando o carinho, a dedicação,
a amizade e o cuidado para com as necessidades de cada um.
Muitas referências foram feitas aos processos de capacitação
dos professores. Participação em cursos, formação
continuada, busca de especialização e a própria
escola desenvolvendo atividades de capacitação.
Na maioria das escolas os professores têm nível
superior completo.
Em 25 escolas, os alunos foram reconhecidos como os principais
responsáveis pelo bom êxito na prova. Expressões
como 'a qualidade dos alunos', 'alunos interessados em aprender',
'maturidade dos alunos e compromisso em aprender', 'porque
os alunos são exigentes', 'o próprio esforço
dos alunos', 'crença no potencial das crianças',
'os alunos são inteligentes', 'a capacidade dos alunos',
'o empenho e a dedicação dos alunos' são
exemplos de uma visão majoritariamente positiva em
relação às crianças.
Em 21 escolas, o bom desempenho na Prova Brasil está
relacionado à proposta pedagógica, que inclui
o desenvolvimento de projetos especiais. É o caso das
aulas de artes que ensinam conceitos de geometria, dos projetos
de estímulo à leitura, do incentivo ao jogo
de xadrez para ajudar no raciocínio matemático,
da horta comunitária, do jornal mural e do rádio
na escola.
As expressões utilizadas constituem uma lista bem
diversificada: 'pedagogia do amor', 'projeto horário-aula',
'projeto político-pedagógico', 'trabalho de
pesquisa e projetos', 'planejamento estratégico', 'projetos
que envolvem a comunidade', 'mercantil', 'educação
integral' e 'educação de tempo integral'.
Além disso, há muitas referências à
utilização de múltiplos recursos, como
livros de leitura, oficinas de leitura e escrita, textos poéticos,
revistas, trabalhos em equipe, mercadinho de compras com objetos
reciclados, atividades baseadas na melhoria da auto-estima,
tarefas escolares que envolvem os pais, planejamento avaliado
e monitorado pelos diferentes atores da escola, teatro, pesquisa,
grupos de estudo, estímulo ao raciocínio e à
leitura, gincanas, olimpíadas de matemática,
jogo de xadrez, aulas de reforço ou recuperação
e oficinas pedagógicas.
Cíntia Caldas
Site do MEC.
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