Até
a centenária escola de negócios da Universidade
de Chicago, considerada "número um" dos cursos
de MBA este ano pela "Economist Business Unit",
está preocupada em quantificar os investimentos destinados
à gestão de pessoas. Mensurar o intangível
nas ciências econômicas sempre foi uma virtude
da escola, que contabiliza em seu histórico sete prêmios
Nobel. Este ano, Roger B. Myerson foi mais um vitorioso de
seu quadro de professores.
Mas quando o assunto é contabilizar o dinheiro investido
em capital humano, o desafio é grande até para
os pragmáticos estudiosos de Chicago. O reitor associado
da escola de negócios, William Koozer, responsável
pelo MBA executivo, acredita que isto é possível.
"Esse retorno aparece nas variações de
performance, no nível de promoções e
nas taxas de retenção", disse em entrevista
exclusiva ao Valor. "Estamos pesquisando formas de mostrar
isso para as empresas". Koozer esteve em São Paulo,
semana passada, para participar do seminário "Leaders
Development 2007", promovido pela empresa Mindquest.
Segundo o reitor, temas como gestão do capital humano,
inovação e criatividade hoje fazem parte do
currículo da escola. Boa parte dos 120 professores,
que se dedicam exclusivamente à vida acadêmica
e pesquisa (no total existem 160), tem se empenhado para adaptar
seus cursos às novas tendências de ensino. Na
entrevista, ele falou sobre o aquecimento da procura pelo
MBA este ano, impulsionada pelo maior assédio dos recrutadores
e a valorização dos salários. Um recém-formado
em Chicago ganha, em média, US$ 130 mil dólares
ao ano, fora os bônus. Comentou também a entrada
das escolas de administração chinesas na mercado.
A seguir os principais trechos da entrevista:
Valor: É possível medir o
retorno dos investimentos destinados ao desenvolvimento de
pessoas?
William Koozer: As pesquisas que fazemos
dizem sim. Uma das coisas que focamos na hora de medir o retorno
do investimento é o quanto os empregados estão
bem em seus empregos, o quanto eles são importantes
para a organização, o quão bem você
os segura. São alguns aspectos que as pessoas devem
olhar quando pensam em gastos com capital humano e desenvolvimento
gerencial. Como as pessoas estão aparece na avaliação
de performance, como elas contribuem para a organização
e se elas vão ficar nela, pode ser medido com as taxas
de retenção. Essas são coisas que as
companhias já estão começando a fazer
e que nós estamos encorajando para que façam
mais e mais, porque os gastos estão aumentando o tempo
todo e é preciso demonstrar que eles são válidos.
Valor: Pelo que o senhor observa as companhias
fazem o que falam ou o discurso não chega à
prática?
Koozer: Existem empresas que fazem um bom
trabalho e outras que falam sobre mas na prática não
fazem um trabalho tão bom. E tem aquelas para as quais
o desenvolvimento do capital humano ainda não é
prioridade. Recursos humanos, desenvolvimento gerencial, de
capital humano, não importa como você chame,
tornou-se incrivelmente importante no mundo globalizado. Isso
porque ele está tecnicamente mais sofisticado e hoje
as habilidades das pessoas se tornaram mais importantes do
que a infra-estrutura tecnológica.
Valor: Os investimentos na área de
capital humano estão crescendo e acompanhando esta
evolução?
Koozer: Acho que estão crescendo.
As organizações estão mudando sua postura.
O que vemos são muitos indivíduos entendendo
a sua importância, mesmo quando as organizações
não entendem. Então temos vários casos
onde as pessoas decidem investir nelas mesmas, ganhando títulos,
fazendo cursos curtos ou online. Elas reconhecem a importância
disso para a própria carreira.
Valor: Chicago tem muitos alunos que bancam
o próprio curso?
Koozer: A maioria dos estudantes do nosso
MBA tempo integral paga do próprio bolso (cerca de
US$ 84 mil, fora o custo de moradia). No MBA executivo, um
terço dos nosso alunos bancam o curso. Esse número
aumentou nos últimos 15 anos. Os cursos curtos são
tipicamente bancados pelas companhias. Mas não é
raro os indivíduos irem para suas companhia dizerem
o quanto é importante para eles e elas acabarem concordando
em pagar.
Valor: Em termos acadêmicos, a ênfase
nos estudos sobre gestão de pessoas tem crescido?
Koozer: Nosso foco particular nesta área
está voltado para como os princípios da economia
agem no desenvolvimento do capital humano, assim como acontece
no capital social ou tecnológico. Nossos professores
fazem mais estudos nessa área, do que faziam há
alguns anos. Principalmente sobre como os indivíduos
se desenvolvem e isso gera valor econômico. Esses conceitos
estão muito mais presentes nas nossas classes do que
há cinco, dez anos.
Valor: Grandes escolas americanas têm
promovido mudanças recentes em seus currículos,
Chicago também está fazendo isso?
Koozer: Nós sempre mudamos o currículo,
de várias maneiras. Os professores individualmente
adaptam suas classes ao que acontece no mercado. Eles muitas
vezes mantém o título das classes de dez anos
atrás, mas o material e o conceito são novos.
Nós também temos revisões de currículo
regulares e formais que acontecem quando um grupo de professores
juntos identificam as áreas em que precisamos expandir
e as que talvez devamos dar menos ênfase.
Valor: Disciplinas ligadas à criatividade
e inovação entraram no currículo?
Koozer: No MBA full time temos uma classe
chamada "leadership exploration and development"
e um dos conceitos chave para ela é a criatividade
e a inovação. Um dos nossos professores tem
o título de professor de administração
criativa. Ele dá várias aulas sobre o papel
da estratégia, como uma organização pode
se tornar mais criativa, se adaptar para ser mais inovadora
e dar um passo a frente. Ele dá uma aula eletiva no
nosso programa de MBA chamada "personal organizational
creativity". Então esses conceitos eu acho que
existem em cursos específicos, mas tendem a permear
várias classes.
Valor: Que tipo de alunos vocês procuram?
Koozer: De uma forma muito simples: procuramos
alunos brilhantes, com boa performance na graduação,
uma boa carreira e que achamos que se dará bem como
alumni. Alguém que poderá crescer. Queremos
gente que se comunique bem, interessante, que se adapte bem
com pessoas de backgrounds diferentes na hora de trabalhar.
Queremos pessoas motivadas e excitadas com a idéia
de passar um tempo em Chicago.
Valor: Como está o mercado de MBA
este ano?
Koozer: É cedo para falar, mas tudo
indica que será um ano muito bom de inscrições.
Estudantes de todas as partes do mundo estão interessados
no MBA. Isso porque o recrutamento de alunos na porta do campus
está em alta. Existe uma grande demanda na área
de serviços financeiros, bancos de investimentos, fundos
de private equity, consultorias e todos oferecem bons salários.
Valor: Como o senhor vê o crescimento
do número de universidades e escolas de negócios
em novos mercados como o chinês e indiano?
Koozer: Essas universidades estão
claramente preenchendo uma necessidade. Existe uma grande
demanda para aumentar o número de talentos na administração
em todo o mundo. Existem escolas muito boas surgindo na China,
na Índia e também no Brasil. Mas existe uma
demanda tão grande nas companhias por talentos que
há espaço para muitos players.
Valor: Esse crescimento pode tirar alguns
chineses das escolas americanas? Isso preocupa?
Koozer: As pessoas vem para o MBA por muitas
razões. Alguns chineses vêm para Chicago melhorar
o inglês, encontrar estudantes de todos os lugares do
mundo. Outros preferem ficar perto de casa por razões
pessoais. Eles podem estar interessados em trabalhar para
companhias na China e estão felizes com os programas
locais, justamente porque eles têm prioritariamente
participantes chineses. Então existem diferenças
e as pessoas fazem escolhas baseadas em suas necessidades.
Valor: A escola já investiu no mercado
asiático? Por que?
Koozer: Temos um campus em Cingapura que
atrai bastante chineses. Temos muitos executivos da Ásia.
Temos outro em Londres que atrai gente de toda a Europa e
também da América do Sul. Abrimos o de Cingapura
em 2000 e o de Londres em 1994. Queríamos oferecer
mais opções. Se o estudante está interessado
no programa de MBA integral, de dois anos, vai para Chicago.
Se ele está com trinta e poucos anos e não quer
parar de trabalhar pode fazer o MBA executivo em Chicago ou
em Londres. Temos vários estudantes do Brasil que preferem
ir para Londres.
Valor: Como o senhor está vendo a
situação econômica do Brasil?
Koozer: Não sou expert em Brasil,
mas tenho ouvido coisas muito boas sobre o país, sobre
como a economia melhorou. Hoje, temos muito mais estudantes
brasileiros interessados em voltar para casa. Há alguns
anos, eles certamente preferiam trabalhar em Nova York ou
Londres. Este é um bom sinal.
Stela Campos
O Valor Econômico.
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