Estudo
mostra que renda média de professores é pouco
menor na rede pública, mas benefícios na aposentadoria
são maiores
Diferença a favor de docentes da rede privada
varia apenas de 4,9% no caso da pré-escola para 11%
no caso do ensino médio
Um estudo que será divulgado hoje contesta um dos
mitos mais disseminados da educação brasileira:
o de que o ensino público vai mal quando comparado
ao particular por causa dos baixos salários dos professores.
Feito pelos pesquisadores Samuel Pessoa, Fernando de Holanda
Barbosa Filho e Luís Eduardo Afonso, da FGV e da USP,
o trabalho mostra que a renda média de professores
da rede privada é quase a mesma dos seus colegas da
rede pública. A diferença não passa de
11%, no caso dos que trabalham no ensino médio.
No entanto, se forem considerados os benefícios da
aposentadoria no setor público, a situação
se inverte em favor dos professores estaduais, municipais
e federais.
O estudo será apresentado no seminário Remuneração
do Professor, Gestão e Qualidade da Educação,
realizado pela Fundação Lemann, pelo Instituto
Futuro Brasil (IFB) e pelo Ibmec para discutir as causas do
fracasso do ensino público.
No Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação
básica), os resultados da rede privada no 3º ano
do ensino médio são significativamente superiores
aos da rede pública. Numa escala de 0 a 500, as médias
na rede privada foram de 307 pontos em matemática e
333 em português. No setor público, elas caem,
respectivamente, para 249 e 260.
O Enem (outro exame do MEC restrito ao ensino médio)
mostra o mesmo quadro. De 0 a 100, a média nas escolas
particulares foi de 52,7, enquanto nas públicas ficou
em 39,5.
Essa diferença de desempenho, para os autores do estudo,
tem muito pouco ou nada a ver com o salário dos professores.
Para chegar a essa conclusão, eles compararam pelo
Censo 2000 do IBGE a renda média de professores da
rede pública com os da rede privada em todos os níveis
de ensino.
Levando em conta apenas a renda, a diferença a favor
da rede privada variou apenas de 4,9% no caso da pré-escola
para 11% no caso do ensino médio.
Os autores do estudo, no entanto, ampliaram essa análise
levando em conta também o regime de contribuição
previdenciária e aposentadoria em cada rede. Ao fazer
isso, perceberam que os rendimentos pagos na rede pública
são melhores do que os da rede privada se, nessa análise,
forem considerados os descontos que os trabalhadores fazem
para contribuir para a previdência e o valor dos rendimentos
após aposentados.
No caso das mulheres -que se aposentam mais cedo que os homens-,
os contratos na rede pública são mais vantajosos
em todos os níveis de ensino. No caso dos homens, isso
é verdade para professores de pré-escola e do
ensino fundamental.
"Os diferenciais de salários dos professores entre
a rede pública e a privada não favorecem o setor
privado como tanto advogado tem defendido muitas vezes em
debates acalorados. Com exceção do ensino secundário,
os professores da rede pública recebem uma remuneração
superior ou igual à paga aos da rede privada",
afirmam os autores no estudo.
O presidente do sindicato dos professores da rede privada
em São Paulo, Luiz Antonio Barbagli, concorda com a
tese de que os contratos na rede pública são
mais vantajosos: "Se formos trabalhar com a média
e pensarmos a longo prazo, pode ter certeza absoluta de que
na maioria dos casos o contrato é melhor na rede pública
do que na rede privada. É preciso, no entanto, considerar
que os salários nas escolas particulares variam bastante".
Juçara Dutra Vieira, presidente da (CNTE) Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Educação, diz
que o fato de o diferencial ser maior ou menor entre as duas
redes não significa que o salário seja adequado.
"Entendemos que é importante pagar um salário
digno ao professor, mas achamos que isso não basta
para melhorar a qualidade do ensino. No que diz respeito ao
professor, é fundamental também investir na
formação e na carreira."
Antônio Gois
Folha de S.Paulo
Professor
da rede pública tem maiores ganhos em SP
Professor
que faz cursos não melhora aprendizado
Boa
gestão, e não orçamento maior, determina boas notas
Melhores
alunos ficam mais tempo na escola
Onde
havia tudo para dar errado, um bom exemplo
Veja
o ranking das escolas e dos distritos educacionais da cidade
de SP
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