A preferência
dos eleitores pelo PT não foi alterada pelo escândalo do "mensalão".
É o que mostra pesquisa nacional do Datafolha realizada na
última quinta-feira.
Mesmo após a queda de quatro homens fortes da cúpula do partido,
entre eles, um ex-tesoureiro que, na TV, confessou ter operado
um esquema de caixa dois de pelo menos R$ 39 milhões, 19%
dos entrevistados responderam, espontaneamente, que o PT é
o partido preferido -o maior percentual entre as siglas.
Em comparação com a pesquisa feita em 16 de junho pelo instituto,
a taxa oscilou para baixo (de 21% para 19%, dentro da margem
de erro de de dois pontos percentuais, para mais ou para menos).
Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Francisco Paulino,
o resultado surpreende, mas se refere mais à fidelidade dos
simpatizantes ao partido do que à descrença do envolvimento
dele em irregularidades. "É surpreendente por conta do tamanho
da crise. Há outros números que mostram um desgaste de imagem
do PT, mas esses 19% de preferência mostram uma fidelidade
que não se alterou", diz ele. A pesquisa mostra que 67% dos
entrevistados acreditam que o PT pagava mesada em dinheiro
aos parlamentares da base aliada.
Entre as razões para a estabilidade da preferência, Paulino
aponta o "recall" do PT, o partido com maior exposição e histórico
de participação nas principais eleições de 1989 para cá. Depois
do PT, o PMDB é o partido preferido, com 10%. PFL e PSDB aparecem
com 5% cada um.
Legislativo abalado
Os números do instituto mostram, porém, que a decepção com
o Poder Legislativo é grande. Questionados, 67% dos entrevistados
disseram ter mais vergonha que orgulho dos deputados federais,
a maior taxa entre os itens apresentados. Só 19% disseram
ter mais orgulho dos integrantes da Câmara, também no centro
do escândalo do "mensalão".
A vergonha também venceu o orgulho na percepção sobre senadores
e vereadores.
Já o orgulho do brasileiro -mote e subtexto de campanhas publicitárias
oficiais e privadas- está em alta: 76% dizem se orgulhar da
população. Os entrevistados também sentem mais orgulho do
que vergonha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (54%)
e dos governadores (54%). Sobre os prefeitos, 49% dizem se
orgulhar, contra 39% que têm mais vergonha deles. Além do
escândalo, Mauro Paulino vê outra razão para os danos à imagem
do Legislativo: "Os políticos, em geral, têm uma imagem negativa,
mas no caso do Executivo as realizações positivas são mais
percebidas população".
Em geral, as populações do Nordeste e do Centro-Oeste foram
mais condescendentes com os ocupantes de cargos públicos do
que as do Sudeste e Sul.
Apoio à reeleição
A pesquisa Datafolha também mostra o apoio da população à
reeleição, para todos os cargos do Executivo, embora a modalidade
seja permitida há pouco tempo: 65% dos entrevistados apóiam
a reeleição para presidente, 64% apóiam a medida para governadores
e 63% para prefeitos.
O direito do presidente se candidatar à reeleição chegou a
ser discutido, com a escalada da crise. Setores da oposição
ensaiaram enviar ao Congresso um projeto para mudar a Constituição
e voltar a proibir mandatos em seqüência para presidente.
Para 58% da população, o mais importante em um candidato a
presidente é sua proposta de governo, contra 30% que escolhem
pela "pessoa do candidato". Foram ouvidas 2.110 pessoas, maiores
de 16 anos, em 134 municípios de todos os Estados.
FLÁVIA MARREIRO
da Folha de S.Paulo
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