Pesquisadores
dizem que apenas o aumento da jornada escolar e do número
de professores com ensino superior melhoram ensino
Não haverá avanços
se apenas aumentarmos os recursos para equipamentos e salários
dos professores, afirma pesquisador
Estudo da faculdade Ibmec São Paulo indica que o simples
aumento nos gastos com a educação não
basta para melhorar a qualidade de ensino.
A pesquisa cruzou o gasto por estudante do ensino fundamental,
segundo dados do Tesouro Nacional, com o desempenho das redes
municipais na Prova Brasil (exame federal).
A conclusão foi que os municípios que mais investiram
não necessariamente tiveram médias melhores
na prova. "Fica claro que, para que se obtenha melhoras
no desempenho escolar, não basta um aumento de recursos",
diz o trabalho.
Uma das formas utilizadas pelos pesquisadores do Ibmec para
a análise foi separar os municípios de cada
Estado em duas metades: o grupo dos que mais gastam por estudante
e dos que menos gastam.
Em São Paulo, por exemplo, a média de investimento
anual por aluno no primeiro grupo de cidades foi de R$ 2.018,
ante R$ 1.080 do segundo bloco.
Apesar da diferença de quase 90% no investimento, as
médias na Prova Brasil entre os dois grupos ficaram
praticamente iguais -193,1 ante 191,8 (em matemática,
na quarta série, na edição 2005 do exame).
No Amazonas e em Goiás, os municípios que menos
gastam chegaram a ter médias no exame federal levemente
maiores que os que mais investem.
O estudo também comparou os dados do país como
um todo, mas com controle estatístico para que fosse
analisado apenas o impacto do aumento dos recursos (excluindo-se
fatores como a escolaridade dos pais dos alunos, que sofrem
grandes variações entre os Estados).
Nesse recorte também não se verificou relação
entre mais verbas e melhores notas.
Especialistas consultados pela reportagem discordaram da avaliação.
Eles defendem que o estudo não capta ações
essenciais, que só podem ser feitas com aumento de
verbas, como aumento salarial para atrair os jovens mais bem
preparados para o magistério.
Jornada escolar
"Os resultados mostram que não adianta colocar
mais dinheiro em educação em um sistema como
o atual", afirmou Naércio Menezes Filho, autor
do trabalho, juntamente com Luiz Felipe Leite Estanislau do
Amaral -ambos também pesquisadores da USP.
"Não haverá melhora na aprendizagem se
simplesmente aumentarmos os recursos para coisas como compra
de computadores, construção de quadras e salários
dos professores, como vem ocorrendo. São ações
que não têm trazido impacto na aprendizagem",
afirmou Menezes Filho.
Segundo a pesquisa, apenas aumento da jornada diária
dos estudantes e maior número de professores com ensino
superior completo causaram impacto positivo no rendimento
dos estudantes.
O aumento de recursos para a educação é
controverso. Enquanto alguns pesquisadores defendem que o
principal para melhorar a aprendizagem dos alunos é
aperfeiçoar a gestão do dinheiro disponível,
outros dizem ser impossível mudar a situação
com o montante atual.
O próprio Ministério da Educação
defende ser necessário aumentar a verba para a educação,
considerando o "atraso" que o país sofre
na questão da qualidade de ensino.
O movimento Todos pela Educação (que reúne
empresários, educadores e gestores, entre outros segmentos)
estipulou como uma das metas para o país a elevação
do percentual do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação
básica, de 3,7% (dado de 2006) para 5%.
Segundo o movimento, a meta se baseia nos gastos dos países
desenvolvidos com a área. "Atingindo, até
2010, patamar mínimo de 5% do PIB e gerindo de forma
eficiente o investimento, objetivamos criar condições
de atingir a cobertura e a qualidade que desejamos",
diz o relatório do grupo.
Fábio Takahashi
Folha Online