Guilherme, 13, passa em 1º lugar na federal do Paraná
Aprovado
em química, garoto aprendeu a ler aos 2 anos e concluiu
o ensino médio em 2008
Mãe, que é
diarista, chegou a ir a programas de TV para buscar apoio;
empresa custeou estudos do menino em um colégio particular
Um adolescente de 13 anos, que aprendeu
a ler aos dois anos de idade e concluiu a sexta série
do ensino fundamental em uma semana, foi o primeiro colocado
no vestibular 2009 de química da UFPR (Universidade
Federal do Paraná).
Guilherme Cardoso de Souza, de Curitiba, começa a frequentar
as aulas em fevereiro. Segundo a universidade, não
há restrição de idade para ingressar
no curso. O vestibulando só precisa comprovar que terminou
o ensino médio -ele concluiu a fase em 2008. Ele será
o aluno mais jovem da história da UFPR a entrar na
universidade. Filho de uma diarista e de um motorista, o garoto
conseguiu uma bolsa de estudos em uma escola particular.
Guilherme sonha em ser professor de química. Estudar
a disciplina, aliás, é um dos principais hobbies
do garoto, que diz não gostar muito de "sair de
casa" nem de esportes. Ele gosta de assistir TV -"Big
Brother" é um de seus programas favoritos- e de
navegar na internet. Diz não gostar de literatura.
"Dos dez livros de literatura que me foram passados para
fazer o vestibular, li dois."
No vestibular, a concorrência era de 5,1 candidatos
por vaga. Após fazer as provas, ele nem sequer tinha
certeza de que seria aprovado. "Achei que tinha ido bem,
mas sempre tem aquele pedacinho de dúvida."
Aos quatro anos, diz ter aprendido sozinho a desenvolver os
mesmos cálculos repassados a um aluno de 14 anos, da
oitava série. Concluiu em uma semana a sexta série
do ensino fundamental após passar por uma série
de testes.
A vida escolar do menino, porém, começou com
dificuldades. A mãe, a diarista Édina Lopes
Cardoso, 44, lembra que se surpreendeu ao procurar ajuda para
o desenvolvimento do filho. "Numa escola pública,
me disseram que não tinham como ajudar e que era para
pôr o meu filho num colégio particular. Mas como,
se sou pobre?" Aos dois anos, o menino começou
a apresentar os primeiros sinais de que estava à frente
das crianças da mesma idade.
Foi quando a mãe o flagrou lendo em voz alta nomes
e preços de produtos estampados em um encarte de supermercado.
"Não acreditava no que via. Comecei a procurar
ajuda. Fui até em programa de TV para ver se alguém
se interessava, mas não apareceu ninguém."
Após muitos contatos, a família soube de uma
empresa (BS Colway, fabricante de pneus) que custeava estudos
dos melhores alunos da rede pública. Há três
anos, o filho foi matriculado no colégio Bom Jesus
-uma das instituições mais frequentadas por
famílias de classe média alta de Curitiba. Mais
tarde, foi indicado a uma instituição particular
que trabalha com superdotados.
Guilherme diz ter o "dom de ensinar". "Sempre
ajudei meus amigos e primas nas lições de casa",
afirma. Ele conta que tinha a casa sempre cheia de interessados
em receber aulas de reforço. A mãe sugeriu então
que as aulas fossem pagas. "Não veio mais ninguém",
diz ele.
A mãe atribui a "um dom de Deus" a facilidade
com que o filho acumula conhecimento. "Não tem
outra explicação."
Dimitri do Valle
Da Agência Folha, em Curitiba