Karina
Costa
especial para o GD
O apito tem sido usado para chamar a atenção
de toda a vizinhança quando uma mulher está
sendo agredida. A vítima apita para alertar a vizinha,
que ouve e apita para chamar a atenção das demais
mulheres de Recife (PE) compondo assim uma rede de proteção
contra a violência doméstica. Além do
apitaço, essa rede de mulheres tem apoio do Grupo Cidadania
Feminina para conter agressões tanto física
quanto psicológica.
"Quando a gente ouve o ruído agudo sai cada uma
da sua casa com o apito na boca em direção a
casa da suposta vítima. A idéia é inibir
o agressor e o apito tem nos ajudado para essa visibilidade,
" explica a coordenadora executiva da entidade, Rejane
Maria Pereira da Silva.
A proposta surgiu porque as mulheres não encontravam
outra forma de conter a violência. Segundo dados da
SOS Corpo, organização feminista atuante em
Pernambuco, só este ano, 148 mulheres foram mortas
a tiros ou facadas. Em 53% desses casos, os autores dos homicídios
foram maridos, vizinhos, parentes e sogros. As causas mais
freqüentes são ciúmes, bebedeiras, crise
conjugal e disputa de guarda de filhos.
Segundo a coordenadora, as mulheres estão inibidas
quando procuram ajuda da instituição mas com
vontade de promover mudanças em suas vidas. Lá,
conversam sobre enfrentamento da violência, identidade,
gênero, raça. "Abordamos esses temas porque
muitas delas sofrem agressão verbal de seus companheiros.
Dizer que são feias, que ninguém as quer é
um ato que desestimula muito essas mulheres. Nossas oficinas
são um meio de fortalecê-las".
A partir do momento em que se sentem seguras para denunciar,
são orientadas a usar o apito como uma arma para o
bem. Já são 150 mulheres que denunciam que alguém
esta apanhando em algum lugar. Um levantamento feito nas quatro
delegacias femininas do estado mostra que, em 2005, foram
registradas 10.400 queixas.
A coordenadora lamenta o fato de o apitaço não
acontecer em outras regiões do estado. "Existem
mulheres interessadas em aderir ao movimento, mas não
temos recursos financeiros para manter as oficinas e o grupo.
É tudo feito na base da boa vontade, da militância,"
revela.
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