O
mito de que um curso universitário é ineficaz
para aumentar a renda da população no Brasil
foi desmentido por novos dados da Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) 2002/2003, divulgados ontem pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa,
realizada por amostra em todo o país, revela que a
renda familiar tem ganhos significativos conforme a presença
na casa de membros com curso superior completo.
Uma família sem nenhum integrante com curso superior
tem uma renda mensal equivalente a R$ 1.215,24. O rendimento
mensal mais que triplica e passa para R$ 3.817,96 nas famílias
que têm uma pessoa com curso superior e salta para R$
6.994,98 em lares com pelos menos duas pessoas que cursavam
ou concluíram um curso superior.
Para o pesquisador do IBGE José Mauro de Freitas Júnior,
a Pesquisa de Orçamentos Familiares revela de forma
mais enfática a importância do curso superior
para o crescimento da renda no país. "Ter um curso
superior causa um impacto cavalar sobre o rendimento das família",
pontua o economista Samuel Pessôa, da Fundação
Getúlio Vargas (FGV).
Em um cenário de elevado nível de desemprego,
Freitas Júnior, do IBGE, afirma que a maior escolaridade
é um fator de mobilidade social e configura uma vantagem
competitiva no mercado de trabalho. "Ter um nível
superior não garante um emprego de alta renda, mas
dá a possibilidade de se conseguir um emprego melhor",
diz o pesquisador do IBGE.
Samuel Pessôa acrescenta que o curso superior é
uma espécie de seguro contra o desemprego, que atinge
mais os menos instruídos. O economista da Fundação
Getúlio Vargas ressalta que o curso universitário,
diante da recente universalização da educação
no país, também tem a função de
preencher falhas do ensino médio e de suprir carências
daqueles que cresceram em ambientes com pouco acesso à
cultura e à informação.
"O nosso background faz com que uma pessoa fique mais
na escola para ter o mesmo nível de conhecimento de
uma pessoa que estudou menos em países ricos ou que
seja integrante de uma família rica no país",
disse Pessôa. Mesmo que um engenheiro formado trabalhe
em uma atividade abaixo de sua qualificação,
o conhecimento adquirido no ensino superior vai ser útil
para a execução de suas atividades, reforça
Pessoa.
A POF mostra, entretanto, que 84% das 48,5 milhões
famílias brasileiras eram formadas por pessoas sem
curso superior em 2002/2003. Para o pesquisador do IBGE, tal
informação reflete a alta concentração
da renda e do consumo no país.
Apenas 4,8 milhões de lares, 9,9% do total, apresentavam
um integrante com curso superior em andamento ou concluído.
Já o número de domicílios com pelo menos
duas pessoas que chegaram ao ensino superior correspondia
a somente 2,9 milhões, ou o equivalente a 6% das famílias
brasileiras.
Segundo a pesquisa, a maior parte dos chefes dos domicílios
estudou de quatro a sete anos, ou seja, não conseguiu
concluir a oitava série do ensino fundamental. Neste
caso, a renda média familiar mensal correspondeu a
R$ 1.324,85.
Na outra ponta, em casas onde o responsável é
mais instruído, com pelo menos o ensino médio
completo, a renda mensal sobe para R$ 3.796,50.
Nos domicílios chefiados por pessoas que freqüentaram
a escola menos de um ano na vida, a renda baixa para R$ 752,49.
No grupo dos responsáveis da casa que estudaram de
um a três anos, a renda da família era de R$
971,24, enquanto que os estudaram de oito a dez anos, a renda
mensal correspondeu a R$ 1.667,12.
Ana Paula Grabois
Valor Econômico.
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