A
Universidade Harvard, uma das mais conceituadas do mundo,
quer que os estudantes norte-americanos conheçam realidades
diferentes. Para ajudar na internacionalização,
abrirá neste mês um escritório em São
Paulo. Segundo da América Latina (há um no Chile),
será dirigido por Jason Dyett, 34. Nesta entrevista,
ele explica o interesse no país e diz que brasileiros
não deixarão de estudar lá por falta
de dinheiro.
FOLHA - Universidades norte-americanas, como Yale e Harvard,
fazem eventos e abrem seus escritórios no Brasil. Por
que esse interesse?
JASON DYETT - Faz parte de uma tendência mundial. A
formação internacional é cada vez mais
importante para estudantes e professores. Na América
Latina, que às vezes é vista como um bloco,
o Brasil não tem o peso que merece, mas tende a ganhar
ênfase e destaque por seu tamanho e importância.
FOLHA - Há alguma área em que Harvard esteja
mais interessada?
DYETT - O interesse é aumentar vínculos em todas,
mas há três de destaque: educação,
saúde pública e governo, que fortalecem a sociedade.
FOLHA - O que essas três áreas têm no
Brasil que chamam a atenção?
DYETT - São fundamentais para fortalecer a democracia
e carecem de fundos, de oportunidades, de profissionais bem
preparados. Temos de criar oportunidades para especialistas
trocarem experiências.
FOLHA - O que o escritório fará?
DYETT - Harvard tem muitos estudos sobre o Brasil, queremos
saber como são e em que áreas. Também
desejamos descobrir o que fazem os ex-alunos brasileiros de
Harvard e os de Harvard que estão aqui.
FOLHA - O escritório vai indicar instituições
de pesquisas brasileiras para estudantes de Harvard?
DYETT - Sim, vamos fazer uma ponte. Dar condições
para que venham ao Brasil pesquisar e mostrar quem está
desenvolvendo um projeto interessante. A idéia não
é oferecer cursos, mas dar apoio aos estudantes.
FOLHA - Existem muitos estudos sobre o Brasil em Harvard?
DYETT - Sim, desde estudo de línguas até pesquisas
de ciências na Amazônia, passando por saúde
pública.
FOLHA - Quantos alunos de Harvard estão no Brasil
e quantos brasileiros estudam lá?
DYETT - Há 64 brasileiros lá registrados. E
sabemos de 15 norte-americanos da graduação
que fazem pesquisa ou estudam línguas aqui.
FOLHA - Com o escritório, o senhor acha que o número
vai aumentar?
DYETT - Sim. Não vamos aplicar testes de admissão
nem fazer seleção, mas queremos evitar que potenciais
alunos, ou por falta de conhecimento ou por desinformação,
deixem de procurar Harvard. Não queremos que a questão
financeira seja um empecilho.
FOLHA - A universidade não vai abrir curso aqui ou
fazer parceria com universidades?
DYETT - Não vamos abrir nenhum curso. As parcerias
podem acontecer um dia.
FOLHA - Estudar em Harvard é caro para a maioria dos
brasileiros. Quantas bolsas haverá para o país?
DYETT - Ainda não há número definido,
mas serão bolsas anuais, principalmente nas três
áreas de interesse. Quem conseguir entrar não
deixará de ir por falta de dinheiro.
FOLHA - Qual é o maior desafio do escritório?
DYETT - Quero ver estudantes tendo a possibilidade de criar
vínculos em outros países. Quero que [o escritório]
mude, que abra a cabeça das pessoas, que tenham uma
visão mais internacional e um relacionamento forte
com o Brasil. E que alunos tenham a oportunidade de estudar
em Harvard.
FOLHA - Os estudantes estão preparados para essas
mudanças?
DYETT - Acho que se deve incrementar, complementar o tipo
de formação que se tem nos EUA. Os EUA recebem
gente do mundo inteiro, mas precisam criar o costume de sair,
de ter perspectiva de morar fora do país para entender
quais são as dificuldades de morar em outra realidade,
para poder ter uma visão diferente e ampliar seus horizontes.
FOLHA - O que é mais difícil para um norte-americano
no Brasil?
DYETT - O Brasil é muito grande, tem muita diversidade.Quando
algum estudante norte-americano chega aqui, os problemas,
as dificuldades, surgem rapidamente:a pobreza, o trânsito.
É o que primeiro se vê, porque não estão
acostumados, mas, ao longo do tempo, o calor humano e a paciência
dos brasileiros são descobertas e isso é fantástico.
Do inverso, o brasileiro chega nos EUA e fica maravilhado
com as coisas que funcionam, com a organização,
dá impressão de que a vida é mais fácil,
mas daí sentem falta do calor humano e sofrem com a
saudade.
Daniela Tófoli
As informações são da Folha de
S.Paulo.
Serviço:
Centro David Rockfeller para Estudos Latino-Americanos
, da Harvard. http://drclas.fas.harvard.edu
Fone: (617) 495 - 0514
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