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Pesquisa
Datafolha revela que ao menos um trabalhador perdeu o emprego
em 31% das casas nos últimos seis meses
Para 41%, desempenho do presidente
Lula no combate ao desemprego é ótimo ou bom;
para 22%, atuação tem sido ruim ou péssima
Em um terço dos lares da cidade de São Paulo,
ao menos um trabalhador perdeu o emprego nos últimos
seis meses, segundo pesquisa Datafolha realizada entre os
dias 3 e 4 de fevereiro. Dos entrevistados, 8% apontam que
ele próprio foi dispensado -4% tinham carteira assinada-
e outros 24%, que foi alguém no domicílio.
A crise internacional também aumentou o temor de perda
do emprego: 31% dos entrevistados disseram que tinham algum
risco ou grande possibilidade de serem mandados embora. Em
setembro de 2006, o percentual era menor, de 22%. Mas, apesar
da maior insegurança, no total da amostra, 66% dos
moradores da cidade dizem que não correm risco.
Para Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da
Unicamp, a percepção de estabilidade no emprego
é mais recorrente nas classes A e B. Entre os que têm
ensino superior, 4% dizem que correm grande risco de serem
demitidos, dado que sobe a 9% nas respostas de quem concluiu
só as séries fundamentais.
O Datafolha revela ainda que o desemprego atingiu com mais
força as casas das famílias de menor renda.
Dos que pertencem às classes D e E, 40% dizem que alguém
no lar perdeu o trabalho há até seis meses.
O diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos),
Clemente Ganz Lúcio, pondera que a rotatividade no
mercado brasileiro é elevada e que os dados da pesquisa
não são alarmantes.
Principalmente porque, para os que têm menor qualificação,
a rotatividade é ainda mais comum. Mas ele destaca
que os números que apontam o aumento do desemprego
no país não podem ser atribuídos só
à sazonalidade. "As pessoas vinham conseguindo
encontrar outro trabalho. O risco é que o ritmo de
geração de empregos se altere e que não
encontrem mais."
O Datafolha também perguntou aos entrevistados se aceitariam
reduzir o salário para garantir o emprego, proposta
que embasa diversos acordos acertados no país nas últimas
semanas na esteira da crise. Cerca de metade (47%) aceita
a flexibilização. Entre os que têm menor
renda (classes D e E), o percentual atinge 55%.
Amauri Mascaro Nascimento, professor da Faculdade de Direito
da USP, argumenta que os trabalhadores que se sentem mais
expostos à crise tendem a aceitar a redução
de salário. "A crise não bate de frente
para pessoas das classes A e B, que têm reservas nos
bancos e conhecem o caminho da Justiça do Trabalho.
A crise bate nos que têm como único patrimônio
o salário da empresa."
No levantamento, o Datafolha questionou os paulistanos sobre
os culpados pelo aumento do desemprego. Cerca de um quinto
respondeu que a culpa é do governo federal ou do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Em seguida, os paulistanos
apontaram a crise (9%) e o governo, sem especificar (7%).
Em relação à capacidade do presidente
Lula de combater o desemprego, 41% disseram que o desempenho
é ótimo ou bom e 22% que é ruim ou péssimo.
O Datafolha ouviu 613 pessoas com 16 anos ou mais na cidade
de São Paulo. A margem de erro máxima da pesquisa
é de quatro pontos percentuais.
Verena Fornetti
Folha de S. Paulo
Empresas oferecem cursos de qualificação
sem padrão
Aula obrigatória
para quem teve contrato de trabalho suspenso não é
regulamentada
Levantamento revela carga horária
diversa e conteúdo que nem sempre tem a ver com atividade
que era exercida pelo funcionário
Os cursos de qualificação profissional
que as empresas são obrigadas a oferecer durante a
suspensão do contrato de trabalho têm carga horária
discrepante e, em alguns casos, conteúdo que destoa
do trabalho desenvolvido pelos funcionários. É
o que aponta levantamento da Folha com companhias que adotaram
a medida.
As oito empresas ouvidas pela reportagem suspenderam, somadas,
o contrato de aproximadamente 1.500 empregados. Nessas companhias,
a carga horária prevista inicialmente varia de 40 a
420 horas.
A legislação determina que, durante o período
em que os empregados estão parados, eles recebam até
cinco parcelas do Bolsa Qualificação, benefício
pago pelo governo em cinco parcelas de até R$ 870,01.
A lei não indica, porém, onde o trabalhador
deve fazer o curso, como deve ser organizado e a carga horária
do treinamento. "A lei é falha. Não especifica
quem paga o quê e quais os benefícios que devem
ser pagos. Tudo está remetido a acordo ou convenção
coletiva", diz Sergio Pinto Martins, professor da Faculdade
de Direito da Universidade de São Paulo.
Nos acordos do sindicato dos metalúrgicos da região
metropolitana de Curitiba com Renault (montadora), Maflow
(peças automotivas), Alasur (peças em alumínio)
e Yazaki (sistemas automotivos), a associação
determinou que a duração mínima do curso
fosse de 140 horas em cinco meses.
O sindicato dos metalúrgicos de São Paulo e
Mogi, com acordos de suspensão do contrato de trabalho
fechados com a Basso e a Indebras (ambas fabricam peças
automotivas), decidiu que a carga horária mínima
é de 180 horas no período.
Nesta semana, o Ministério do Trabalho deve lançar
proposta para estabelecer parâmetros para a suspensão
do emprego. Para Ezequiel Nascimento, secretário de
políticas públicas para o emprego do ministério,
a medida deve coibir eventuais abusos de empresas.
"Imagino 200 horas para que o curso tenha efetividade.
Sem dúvida, oferecer 140 horas em cinco meses é
pouco se o objetivo é ter um trabalhador mais bem qualificado
para reiniciar as atividades", diz Nascimento.
Nos casos em que as empresas ofereçam menos de 160
horas ao mês, a duração do curso é
inferior a um mês de trabalho de um trabalhador que
tenha jornada de 40 horas semanais. Isso significa que, nesses
casos, o trabalhador ficará cerca de quatro meses ocioso
ou cumprirá a carga horária de forma bastante
espaçada durante a suspensão do emprego.
Treinamento efetivo
Claudio Dedecca, economista da Unicamp, diz que bons cursos
de qualificação profissional não precisam
ter carga horária elevada. "Oferecer oito horas
de qualificação por dia é jogar dinheiro
fora. O trabalhador não está habituado à
sala de aula. É preciso levar em conta a experiência
dele do dia-a-dia, que é a do chão de fábrica."
Dedecca destaca que o mais importante é assegurar a
qualidade e a aplicação do treinamento à
rotina. "A experiência de avaliação
dessas iniciativas é que a empresa faz o curso porque
tem que justificar a suspensão do contrato, mas a qualificação
é de péssima qualidade e diz respeito a funções
e a aprendizado que não se associam à função
do trabalhador."
Entre as opções oferecidas pelas empresas que
recorrem à suspensão do emprego estão
segurança do trabalho, orçamento familiar, metrologia
básica, informática, mecânico, eletricista
e soldador. Trabalhadores dessas empresas relatam que nem
sempre o curso tem relação com a profissão.
A operadora de máquinas Márcia (nome fictício),
suspensa desde dezembro, passa pela situação.
"Eu vou porque, se não for, não recebo,
mas para a minha área não é muito boa."
A trabalhadora frequenta um treinamento de regulagem de máquinas,
atividade que, segundo ela, não conseguiria executar
durante a sua rotina porque exige muita força física.
"O que pedimos é que o curso não seja só
maquiagem. Tem que ter conteúdo e, caso seja despedido,
o trabalhador deve ir para o mercado de trabalho com uma qualificação
respeitada", diz Miguel Torres, presidente do sindicato
dos metalúrgicos de São Paulo e Mogi.
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