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A
cadeirante Julie Nakayama, de 22 anos, começou ontem
a sua tarefa de fiscalizar as condições das
calçadas de um dos símbolos de São Paulo
Os problemas podem passar despercebidos para quem não
tem deficiência física ou dificuldade de locomoção.
Mas são uma pedra no caminho daqueles que precisam
cruzar a avenida com o auxílio de cadeira de rodas,
muletas ou bengala. Bastaram 500 metros de caminhada, com
a reportagem do Estado, para que a cadeirante Julie Nakayama,
de 22 anos, encontrasse quatro falhas no calçamento.
"As concessionárias quebram o piso para prestar
seus serviços e depois remendam mal, deixando desníveis",
diz ela, sobre o principal problema encontrado, consequência,
em geral, de reparos feitos por companhias de fornecimento
de água, de energia ou de gás.
Desde ontem, sua missão é
relatar falhas assim - e também buracos, mesinhas de
bares na calçada que atrapalhem a passagem, carros-forte
estacionados que não deixam espaço para uma
cadeira de rodas - à Gerência da Avenida Paulista,
criada no ano passado. Para, desse modo, tentar melhorar a
vida dos paulistanos que têm algum tipo de deficiência
ou dificuldade de mobilidade e utilizam a avenida símbolo
da cidade. "Passarei metade do dia aqui e metade na Câmara,
em horários alternados", conta ela, que é
contratada como assistente parlamentar da vereadora Mara Gabrilli
(PSDB), também deficiente. "Ela vai contribuir
com seu olhar, por vivenciar isso no dia a dia", diz
a vereadora. "Se o trabalho der certo, podemos pensar
em expandir para outros pontos da cidade."
Formada em Publicidade pela Fundação
Armando Alvares Penteado (Faap), Julie foi nadadora - entre
os 9 e os 16 anos de idade disputou provas internacionais
- e atua como bailarina e atriz. Integrante do Movimento Superação,
participa anualmente da passeata que acontece na Paulista,
sempre em 3 de dezembro, em referência ao Dia Internacional
da Pessoa com Deficiência. "Minha luta sempre foi
pela independência da pessoa com deficiência",
diz ela, que convive com a situação desde o
nascimento.
Em seu primeiro dia de trabalho, ela
utilizou um caderninho para anotar os problemas encontrados
- e enfrentados - no percurso. Em breve, o trabalho será
mais hi-tech. "Estamos querendo mandar as informações
para a Gerência da Paulista via mensagem de texto de
celular, para agilizar", conta. Em http://guardiadapaulista.ning.com,
ela mantém um blog colaborativo - que permite a postagem
de conteúdo de autoria de leitores previamente cadastrados
- e pode ser seguida pelo serviço de microblogs Twitter
(www.twitter.com/guardiapaulista). "A ideia é
que todos possam me ajudar a fiscalizar a avenida", afirma
Julie, nitidamente empolgada.
A princípio, o foco será
voltado para a manutenção da acessibilidade
das calçadas - que, após a reforma concluída
no ano passado, se tornaram adaptadas a quem tem dificuldades
de locomoção. Mas Julie não esconde qual
é sua segunda meta: sensibilizar os comerciantes instalados
na avenida para também tornarem seus estabelecimentos
acessíveis aos deficientes. "Nós ganharemos
com isso. E eles também, já que terão
mais clientes", defende. "Os condomínios
também precisam se adaptar."
Julie esquematizou sua rotina de modo
a checar um trecho da avenida por dia. "Assim conseguirei
ver tudo", explica, deixando claro que vai se deter em
qualquer detalhe que encontrar. A Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp),
cuja sede fica em um ponto central da avenida, cedeu um espaço
em seu prédio onde vai funcionar o QG de Julie. "Terei
onde guardar minhas coisas e utilizar o banheiro", explica.
"Também deixarei meu carro estacionado lá."
O gabinete da vereadora faz planos
pensando no sucesso de Julie. Se tudo der certo, a guardiã
deve virar gibi. Está em estudo a ideia de publicar
os problemas da avenida em quadrinhos. E Julie, claro, seria
a protagonista. Nada mal para quem tem uma ligação
umbilical com a Paulista. Ela, que sempre morou na Vila Prudente,
na zona leste de São Paulo, veio ao mundo em 1986 no
Hospital Santa Catarina, no número 200 da avenida.
Edison Veiga
O Estado de S.Paulo
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