Total de brasileiros com
mais de US$ 1 milhão aplicado cresce 46% e chega a
190 mil em 2007; fortuna atrai bancos de investimento
Recorde da Bolsa, abertura
de capital, aquisições, investimentos estrangeiros
diretos e valorização do real explicam crescimento
Com R$ 20 mil, os irmãos
Fábio, 31, e Fernando Cunha, 35, montaram, há
quatro anos, a Clube de Estilo, uma empresa que aproxima estilistas
de lojistas. Toda vez que um negócio é fechado
entre eles, os irmãos ganham um percentual.
Em 2007,
a dupla movimentou R$ 4 milhões e, se quisesse vender
a empresa, com sede no bairro dos Jardins, área
nobre de São Paulo, não embolsaria menos de
R$ 2 milhões.
Os irmãos Cunha são
um exemplo de brasileiros que viram o patrimônio ultrapassar
rapidamente a casa dos seis dígitos nos últimos
anos devido a uma combinação de fatores: faro
para os negócios, bom desempenho da economia brasileira
e alta rentabilidade oferecida pelo mercado financeiro.
Em um ano, o Brasil elevou o número
de milionários em 60 mil, segundo levantamento do BCG
(The Boston Consulting Group). No ano passado, havia 190 mil
milionários no país. Em 2006, eles eram 130
mil -expansão de 46,1%.
A fortuna desses milionários está estimada em
aproximadamente US$ 675 bilhões, o que equivale a praticamente
metade do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Para o BCG,
milionários são aqueles que têm mais de
US$ 1 milhão aplicado no mercado financeiro.
André Xavier, sócio-diretor
do BCG no Brasil, diz que, para identificá-los, os
especialistas entrevistaram gestores de fortunas de 111 instituições
financeiras em 60 países. Foi a primeira vez que uma
equipe veio pessoalmente ao Brasil para fazer o levantamento.
"A concentração
de riqueza no país é um fenômeno que está
chamando a atenção dos bancos e dos gestores
do mundo", diz Xavier, que monitora o comportamento dos
endinheirados há cerca de sete anos.
Economia em alta
Vários fatores explicam a explosão do grupo
dos milionários no Brasil. Apenas em 2007, 64 empresas
abriram o capital na Bovespa, que bateu o recorde de R$ 4,9
bilhões negociados diariamente. "O Ibovespa foi
o índice que, no mundo, mais rentabilidade ofereceu
aos investidores", afirma Xavier.
De acordo com Eduardo Oliveira,
diretor do departamento de gestão de fortunas do UBS
Pactual, a abertura de capital tem um efeito multiplicador
que pesa bastante na geração de riqueza dos
empresários. "É como vender um apartamento
adquirido por R$ 100 mil cujo valor de mercado é o
dobro."
Outros motivo para o crescimento
do total de milionários no Brasil são a valorização
do real e os investimentos estrangeiros diretos, que, segundo
Lywall Salles, diretor-executivo do "private" do
Itaú, chegaram a US$ 87 bilhões em 2007.
O bom momento da construção
civil, o fortalecimento do agronegócio no Centro-Oeste
e os negócios relacionados à produção
de álcool, na região Sudeste, também
fizeram novos milionários, segundo os bancos de investimentos
consultados.
Além disso, cresceu
o time de executivos brasileiros em companhias estrangeiras
recebendo parte dos salários em ações
da empresa. "Por si só, o rendimento desses papéis
já virou um patrimônio considerável",
afirma Alexandre Xandó, sócio da Verax Serviços
Financeiros, que administra fortunas que somam R$ 330 milhões.
"Em geral, esses executivos
têm um perfil mais agressivo, aplicam em ações
e conseguem multiplicar seus recursos rapidamente", afirma.
Nos últimos anos, Xandó
diz ter aumentado a quantidade de jovens e de mulheres que
delegam a administração de suas fortunas a gestores
independentes ou ligados a bancos.
"Vemos ainda mais famílias
planejando a divisão de seu patrimônio entre
os herdeiros." A presença desses milionários
acirra as disputas dos bancos por esses clientes e faz aumentar
as vendas de marcas de luxo. Resultado: uma nova onda de grifes
se anuncia e as que já operam no país estão
mudando seu modelo de negócio, cada vez mais lucrativo.
Julio Wiziack
Fátima Fernandes
Folha de S. Paulo
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