Natália
Castro (12), paciente da AACD (Associação de Assistência à
Criança Deficiente) desde os seis meses, realiza este ano
o sonho de desfilar na escola de samba "Rosas de Ouro", em
São Paulo. Natália faz parte da Ala Mirim da agremiação, que
deverá apresentar-se amanhã, no Sambódromo do Anhembi.
Portadora de má-formação congênita,
Natália desenvolveu a paixão pelo samba ainda criança, com
apenas três anos. "Meus tios colocavam discos de samba e nós
ficávamos vendo eles dançarem. A partir daí me interessei
e aprendi a sambar", conta.
"Fã da Rosas de Ouro desde que me
conheço por gente, meu maior sonho sempre foi desfilar pela
escola no carnaval". Há dois anos, o sonho ficou mais viável,
quando uma amiga lhe contou que iria desfilar. "Pedi para
ir também, mas ela disse que já estava muito em cima da hora".
Depois de chorar pedindo para desfilar
"no chão", e não como destaque em um dos carros alegóricos
- proposta inicial da escola, Natália conta com empolgação
que, agora, é passista da Ala Mirim. "Quando soube que sairia
no chão fiquei super feliz. Era isso que eu queria: ficar
sambando e não parar um minuto. Fiquei feliz ao saber que
a ala em que estou é pra sambar mesmo, levar a sério, ir aos
ensaios, ter força de vontade para não parar mesmo um minuto".
Para Natália, a capoeira que pratica
como uma das terapias de tratamento na AACD foi uma grande
aliada no incentivo para o samba e condicionamento para o
carnaval. "No final de toda apresentação de capoeira na AACD
tem roda de samba. Isto nos estimula a desenvolver a dança
e, quanto mais nos envolvemos, mais aprendemos".
A AACD foi pioneira na implementação
da capoeira como auxílio para a reabilitação de crianças,
adolescentes e adultos portadores de deficiência física. Hoje,
mais de três anos depois de implantada, a atividade demonstra
resultados satisfatórios, além de ser uma grande brincadeira.
Para a coordenadora do setor, Edna Garcez, "hoje notamos os
benefícios da prática do esporte com nossas crianças, que
já desenvolveram melhor equilíbrio, desenvolvimento mental,
disciplina e sociabilização", diz.
Essa aquisição de habilidades é observada
não só durante os treinos, mas também nas atividades diárias
dos pacientes. Edna garante que "muitos pacientes, independentemente
da idade ou da patologia, podem participar; inclusive pacientes
em cadeira de rodas". No final da apresentação os pacientes
formam uma "roda de samba", onde mostram todo seu gingado.
A capoeira não só ajudou Natália a
desenvolver o samba e resistência como está diretamente relacionada
com o tema escolhido para o Carnaval 2006 pela Rosas de Ouro
(A Diáspora Africana - Um crime contra a humanidade). A pequena
passista conta que aprendeu muito com o tema e considera o
tema importante de ser abordado. "Acho importante falar sobre
a cultura negra e o que eles enfrentaram ao serem trazidos
como escravos para o Brasil; contar sua história até os dias
de hoje sem esquecer de mencionar todos os tipos de preconceitos
e dificuldades que ainda enfrentam", explica.
Com frio na barriga pela hora de desfilar
que se aproxima, a Natália torce para que a escola ganhe e
garante "Se este ano não levar o título para a Rosas de Ouro,
ano que vem eu levo. Com certeza".
As informações são
da AACD.
Pacientes
mentais formam cordão de samba
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