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ONG
dá Nextel a moradores para ter alerta sobre pessoas
suspeitas ou problemas como entulho
Num escritório no 8º
andar de um prédio comercial na Rua Augusta, região
dos Jardins, está sendo montada uma espécie
de subprefeitura em miniatura. Tudo bancado pelo bolso dos
próprios moradores, que se uniram para fugir da burocracia
oficial. Munidos de radinhos Nextel, eles serão os
olhos e ouvidos do Jardim América, bairro com um dos
metros quadrados mais caros da cidade. Seja lá o que
estiver errado, de uma árvore que precisa ser podada
até um carro suspeito zanzando por ali, eles poderão
se comunicar a qualquer hora diretamente com a central de
monitoramento na Augusta, que vai acionar órgãos
competentes ou tentar resolver os problemas.
O projeto, tido como pioneiro em São
Paulo, é inspirado nos Neighborhood Watches - iniciativa
criada nos Estados Unidos em que vizinhos 'protegem' uns aos
outros, denunciando todo tipo de fatos suspeitos para prevenir
crimes. Por aqui, a idéia ganha um aspecto social a
mais. Na central do projeto, ficarão 12 policiais militares
reformados, todos com problemas físicos, que receberão
as reclamações dos moradores e as repassarão
à polícia ou à Prefeitura. Serão
eles os verdadeiros 'zeladores' do Jardim América.
'Esses profissionais foram contratados
porque têm espírito público, sabem lidar
com os paulistanos e têm uma vontade enorme de trabalhar
e voltar a ajudar a população', diz Fabio Saboya,
coordenador do Movimento Ame Jardins, associação
que está bancando o projeto. Inicialmente, 60 moradores
na área entre as Ruas Argentina, México, Peru
e Groenlândia participarão da iniciativa. O custo
do radinho é de R$ 30 por mês, mais uma mensalidade
de R$ 250 para o Ame Jardins. 'Em seis meses, queremos ter
mil casas participando.'
Escolta de Lula
Entre os zeladores, estão casos como o de Jair Teles,
policial que teve de deixar a corporação depois
de receber um tiro no rosto, ou do cabo Luiz Carlos dos Santos,
que dias antes de receber sua promoção para
sargento sofreu um acidente de moto. 'Foi em outubro de 2004,
eu estava fazendo a escolta do presidente Lula', lembra. 'Um
carro bateu em mim e eu fui jogado longe. Tive lesão
medular, fiquei paraplégico. Foi difícil, fiquei
trancado em casa desde então. Mas é bom poder
voltar à rotina, trabalhar. Estou retomando meus sonhos.
Com o dinheiro do salário, que vai ser de R$ 1 mil,
guardarei para comprar um carro adaptado para deficientes.
Não quero viver trancado.'
O Movimento Ame Jardins pretende ainda
instalar 14 câmeras de vigilância até o
final do ano e colocar cinco viaturas com a logomarca da associação
nas ruas para complementar o projeto de zeladoria urbana.
'Tem coisas que podemos fazer
sozinhos e não ficar apenas esperando a boa vontade
dos órgãos públicos', diz Saboya. 'É
só ter união e organização. Por
exemplo: os moradores aqui estavam reclamando de restos de
entulho que tinham sido abandonados na rua. Alugamos um caminhão
para resolver isso. Também já tiramos 180 faixas
dos postes desde o começo do ano. O importante é
que não queremos substituir o poder público
nem criar uma milícia, mas sim ajudar na conversa com
a Prefeitura e eliminar os intermediários, que só
atrasam os processos.'
Rodrigo Brancatelli
O Estado de S.Paulo.
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