Vanessa Sayuri Nakasato
As cotas raciais que têm polemizado o âmbito
educacional do Brasil podem se estender, agora, para o comércio.
Porém, desta vez, a proposta não vem de nenhum
governo ou casa legislativa, mas do Sindicato dos Empregados
do Comércio de São Paulo. A entidade tem promovido
seminários e reuniões com empresários
de todo o país. O objetivo é inserir mais negros
na área comercial.
Segundo o presidente do sindicato, Ricardo Patah, a idéia
é selar acordo com empresas, e não impor obrigações.
O trato pode ser a contratação de 20% de negros
do quadro de funcionários ou cursos de qualificação
profissional. “A intenção é oferecer
mais oportunidade aos afrodescendentes, não só
de trabalho, mas de ter bons cargos, de importância.”
Pesquisa realizada pelo Instituto Sindical Interamericano
pela Igualdade Racial (Inspir) em 29 shoppings da capital
paulista, em dezembro do ano passado, mostra que 85% dos trabalhadores
desses estabelecimentos são brancos e apenas 15% negros.
Impressionado com o resultado, Patah encomendou um levantamento
ao Dieese (Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Sócio-Econômicos) para saber qual a
renda do trabalhador de São Paulo. Constatou-se que
os negros ganham, em média, metade do salário
recebido pelos brancos. Quando a questão é especificamente
o comércio, a situação piora. Além
de a renda mensal do negro não ultrapassar R$ 850,
o valor salarial médio diminuiu R$ 300 nos últimos
oito anos.
Na opinião de Patah, a discriminação
racial no comércio existe porque a maioria dos consumidores
prefere ser atendida por brancos. “Há o estereótipo
de gerentes e vendedores que nada tem a ver com beleza. Tem
negros muito bonitos que não conseguem emprego nem
como balconista. O problema não se encontra na aparência,
propriamente dita, mas na cor. Em Brasília, por exemplo,
tem um shopping onde não há nenhum negro empregado.”
O presidente do sindicato afirma ter conseguido sensibilizar
empresários e sindicalistas de diversos Estados quanto
ao assunto. Até o momento, somente duas empresas aderiram
ao projeto: Colombo, que adotou a cota, e grupo Sonai, que
se comprometeu em criar e oferecer cursos de qualificação.
“É um trabalho de formiguinha, mas temos que
buscar mecanismos para extirpar tanta desigualdade social.”
Conforme Patah, caso a entidade não alcance o impacto
esperado junto da sociedade civil, ela buscará aliados
e recorrerá ao Poder Legislativo.
|