É
usual um clima de euforia antes da abertura de qualquer exposição,
mas há uma empolgação além da
usual, para "Mestres do Modernismo", que é
inaugurada, hoje, para convidados, na Estação
Pinacoteca.
Há três motivos para tal animação:
a mostra concretiza o comodato, por cinco anos renováveis,
de 200 obras do acervo da Fundação José
e Paulina Nemirovsky, que reúne algumas das mais expressivas
obras do modernismo brasileiro, como "Antropofagia"
(1929), de Tarsila do Amaral, e que também foi disputado
pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).
Em segundo lugar, "Mestres do Modernismo" retrata
a primeira fase do modernismo brasileiro, dos anos 20 e 30,
numa exposição de longa duração
(vai ficar um ano em cartaz), dando acesso a um conjunto didático,
que nenhum museu brasileiro tem capacidade de apresentar,
o que reafirma a Pinacoteca como principal instituição
museológica do país.
Finalmente, com a exposição, os quatro andares
da nova filial da Pinacoteca são ocupados praticamente
por inteiro, faltando apenas o gabinete de gravura, que será
aberto no próximo dia 8. A exposição
ganha ainda em significado na simultaneidade com "Encontros
com o Modernismo", do acervo do Museu Stedelijk, da Holanda.
"Apresentamos aqui um panorama único, que demonstra
a diversidade da produção dos modernistas brasileiros,
com obras de grande qualidade, reunidas principalmente a partir
da coleção Nemirovsky, mas também com
obras do acervo do Estado", afirma Marcelo Araújo,
diretor da Pinacoteca.
O melhor exemplo é Tarsila do Amaral (1886-1973).
A artista comparece com cinco obras, de todas as fases pelas
quais passou. Entre as mais significativas estão: "Antropofagia",
realizada em sintonia com o "Manifesto Antropófago",
publicado em 1928, de Oswald de Andrade, é a obra mais
valiosa da exposição e representa a fase antropofágica
da artista; "Carnaval em Madureira" (1924), da fase
pau-brasil, que tratou de questões da identidade do
país, e também pertence à coleção
Nemirovsky; e "Operários" (1933), da fase
social, do acervo do Governo do Estado.
A excelência da mostra tem por base a coleção
criada pelo médico José Nemirovsky (1914-1987),
artista, que, nos anos 60, comprou parte de suas obras, quando
os preços de modernistas eram ainda acessíveis.
Estima-se, por exemplo, em mais de US$ 1,5 milhão o
valor de "Antropofagia", hoje.
"Tudo que o dr. Nemirovsky comprou é importante.
Não se trata de uma coleção de quantidade,
mas de qualidade. Por isso, a mostra não tem um efeito
fugaz, ela é o sonho de todos que gostamos da arte
brasileira", conta Maria Alice Milliet, curadora da exposição
e da Fundação Nemirovsky.
A mostra apresenta, em média, três obras de
cada um dos 12 artistas selecionados. Estão lá
trabalhos de Anita Malfatti, Victor Brecheret e Lasar Segall,
além de "artistas que não se enquadram
no modernismo nacionalista da primeira fase", segundo
Araújo, como Ismael Nery, Flávio de Carvalho
e Vicente do Rego Monteiro.
A orientação didática é outra
marca: há uma linha do tempo com os principais fatos
dos anos 20 e 30, vídeos com documentários de
época, e maquetes de edifícios projetados por
Gregori Warchavchik e Flávio de Carvalho.
Casa Guilherme de Almeida
Das 50 obras apresentadas na Pinacoteca, quatro pertencem
ao acervo da Casa Guilherme de Almeida, um museu público
pouco conhecido, que serviu de residência ao poeta,
jornalista e estimulador da arte moderna, que dá nome
à instituição.
Localizada no bairro do Pacaembu (r. Macapá, 187,
tel. 0/xx/ 11/3673-1883), a casa espelha o espírito
das contradições entre modernistas brasileiros
do início do século 20: móveis dos séculos
18 e 19 convivem com as paredes forradas de obras de Di Cavalcanti,
Tarsila do Amaral, Lasar Segall, e outros amigos de Guilherme
de Almeida (1890-1969), um dos organizadores da Semana de
Arte Moderna, em 1922.
A visitação é gratuita, mas precisa
ser agendada por telefone, pois a casa tem capacidade de receber
apenas cinco visitantes por vez, já que é mantida
exatamente na forma que o "príncipe dos poetas
brasileiros" (título ganho em 1959) mantinha,
entre 1946 e 1969.
Mestres do Modernismo
Mostra com 50 obras de 12 artistas da primeira fase
do modernismo brasileiro, a partir da coleção
da Fundação Nemirovsky e acervos do Estado.
Curadoria: Maria Alice Milliet.
Quando: abertura hoje, 19h30 (para convidados); de ter. a
dom., das 10h às 18h. Até 3/10.
Onde: Estação Pinacoteca (largo General Osório,
66, Luz, SP, tel. 0/xx/11/222-8968).
Quanto: R$ 4 (sáb, gratuito).
Patrocínio: Telefonica.
FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo
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