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01/06/2007
Carta da semana
Uma causa para lutar
“Acredito que todos os jovens sempre ouviram e aprenderam
que na década de 70 os universitários eram mais
unidos, que lutavam até a morte se necessários
por seus ideais, e que eles foram, em grande parte, os responsáveis
por vivermos em uma democracia.
Nessas últimas semanas, ouvindo
nas rádios e lendo nos jornais a respeito do Movimento
dos Universitários de 2007 as mensagens e notícias
ecoavam como um pai raivoso, que é surpreendido pela
rebeldia do filho e não tem a mínima condição
de entender o que está acontecendo, já que não
o conhece.
Como acordados de um sono pesado,
raivosos gritamos “Que bagunça! Fiquem quietos
meninos!” - e eles não nos obedeceram.
Depois, como o barulho não
passou fomos obrigados a ver o porquê eles tanto gritavam.
Quando nos trouxeram a resposta: “Os meninos querem
a autonomia da Universidade”. A resposta causou ainda
mais estranhamento, uma vez que não havia quebra de
autonomia de universidade nenhuma. O que eles querem então?
Como achar essa resposta é
muito complicado, é mais fácil mandar o menino
dormir. Para isso buscou-se o tempo todo desvalorizar a ação:
“Que estranho, eles não estão quebrando
nada, nem parecem estudante”; “Não estão
aliados a nenhum partido”; “Não estão
barbarizando o prédio com drogas e sexo, pelo contrário,
estão organizados, arrumaram até o jardim e
são politicamente corretos de forma até mesmo
exagerada”; “Não entenderam que o Governo
do Estado só quer ter acesso ao uso dos recursos e,
além disso, os próprios reitores das universidades
estão de acordo com a decisão”; “Onde
já se viu a mãe levar roupinha para estudante
no meio de manifestação?”; “Esses
meninos, tão tolos, porque não vão dormir
em casa no colchão quentinho?”
Mas, o que os meninos querem então?
Primeiro, uma informação para as mães:
não precisa mais levar casaquinho, esses meninos já
cresceram. E outra para todos: esses meninos foram educados
aqui nesse país mesmo, esse em que a gente vive.
Mas, o que os meninos querem então?
Paralelamente a bagunça dos meninos, os adultos bagunçam
e fazem mais uma crise no Governo.Uma crise provocada por
antigos meninos que faziam como ninguém uma manifestação,
gente que quando jovem não se alienou. Aqueles aos
quais o jovem de 2007 deveria ser igual? Aqueles que a gente
aprendeu a admirar, se espelhar e que vemos hoje como corruptos
utilizando dessa história de “democracia”
para meter a mão nos recursos do governo? Acabou a
história de Brasil para todos, de educação.
Isso tudo é jogado em nossa cara como balela, coisas
para o povo dar voto nas eleições! O presidente
disse que, como nós, também estava surpreso
e pasme: soube da corrupção pelo jornal, assim
como todos os brasileiros.
Mas, o que os meninos querem
então?
Eles querem algum sentido, educação com autonomia,
a USP prometida, os mestres, querem as pesquisas cientificas,
os debates, os políticos. Querem aquela história
de que o jovem é o futuro do Brasil. Querem até
mesmo a tal da democracia. Acho que é isso que eles
queriam dizer com tomar conta da reitoria da USP.”
Mariana Barini De Santis, psicóloga,
29 anos – Campinas (SP) - maribari@uol.com.br
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