O "homem
virtual" é um advento que usa recursos digitais
para ensinar o funcionamento do corpo
Na falta de dinheiro para comprar brinquedo, o menino Chao
Lung Wen, um imigrante de Taiwan, fabricava seus próprios
brinquedos. Alguns deles eram educativos, como um kit de ciência
feito de material improvisado. Sua família prosperou,
Chao aprendeu rapidamente o português, entrou no curso
de medicina da USP, virou professor e, agora, está
prestes a fazer um retorno no tempo a partir deste ano -crianças
de São Paulo vão aprender e se divertir com
um de seus inventos, batizado de "homem
virtual". Uma das salas da Fundação
Catavento, um museu que será dedicado aos estudantes,
está reservada ao "homem virtual", criado
por uma equipe comandada por Chao para ensinar o funcionamento
do corpo humano usando recursos digitais. "É o
jeito de facilitar o aprendizado de assuntos que os alunos
muitas vezes não gostam, como biologia ou química."
Por trás dessa experiência, há uma singular
mistura profissional.
O menino não perdeu o prazer das invenções
e, enquanto cursava medicina, estudava informática.
Em pouco tempo, ainda na faculdade, já ensinava os
médicos como usar o computador para facilitar o trabalho.
Mas encantou-se mesmo com as possibilidades trazidas pela
internet. Além de programas de educação
a distância para atualizar os médicos, Chao desenvolveu
um modelo de ambulatório virtual para tratar pacientes
com difícil acesso a especialistas. Toda essa vivência
fez com que Chao fosse um dos criadores do curso de telemedicina
da USP, do qual é professor. Isso o deixa conectado
com o que existe de mais moderno na aplicação
da tecnologia de informação da saúde.
"Tento disseminar ao máximo como um profissional
pode se atualizar ou um paciente pode ser tratado saindo o
mínimo de casa."
Escarafunchando as novidades, ele via como, em várias
partes do mundo, inventam-se meios para aproximar as ciências
das crianças, sem empanturrá-las com aborrecidas
fórmulas a serem decoradas. Assim, começava
a surgir seu "homem virtual", que interessou à
Fundação Catavento, que deverá ser inaugurada
neste ano no parque D. Pedro, onde era a sede da prefeitura.
A paixão tecnológica não lhe tirou uma
visão ancestral da medicina chinesa -de que o primeiro
foco do médico é a prevenção,
não a doença. Por isso, vê a sua invenção
para crianças como uma espécie de remédio
preventivo. "Se as crianças entenderem como funciona
o corpo, poderão evitar melhor uma série de
doenças."
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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