Gabriel
Bá e Fábio Moon viraram personagens mundiais
na história das HQs; ganharam
o Eisner Awards, o Oscar da área
Quando os paulistanos Gabriel Bá e Fábio Moon
receberam neste ano a encomenda de uma editora americana para
escrever em inglês uma série de livros de histórias
em quadrinhos, usando São Paulo como cenário
-a dupla era uma aposta fora do Brasil -, o nome deles circulava
apenas nas rodinhas mais especializadas.
Na semana passada, um fato fez deles personagens mundiais
das histórias em quadrinhos. Ganharam, nos Estados
Unidos, o Eisner Awards, uma espécie de Oscar das HQs.
"São Paulo é, para nós, um cenário
e um personagem", conta Fábio, desafiado a projetar
a cidade que o projetou.
Nascidos e criados na Vila Madalena, Gabriel e Fábio
são irmãos gêmeos. Estudaram na mesma
escola (Vera Cruz), entraram nos mesmos cursos, em diferentes
faculdades (Faap e USP) e optaram por licenciatura em artes
plásticas. Preferiram, porém, não dar
aulas, dedicando-se ao cartunismo -uma influência que
veio de casa. A mãe deles, uma psicóloga, sempre
adorou desde menina as histórias em quadrinhos, compradas
constantemente pelo pai. Toda essa coleção,
acrescida de novos exemplares, fez com que Fábio e
Gabriel estivessem sempre cercados de desenhos. "Meu
avô nos distraía lendo as revistas", lembra
Fábio, que, ao lado do irmão, produz tiras ilustradas
desde os nove anos.
Ainda quase adolescentes, eles criaram um fanzine batizado
de "10 pãezinhos" -esse era o número
de pães que seu pai comprava todos os dias para o café
da manhã. Logo estariam ganhando alguns dos principais
prêmios brasileiros para desenhistas.
No ano passado, verteram para a linguagem HQ o conto "O
Alienista", de Machado de Assis, imaginando que, assim,
aproximariam os estudantes do escritor. Para eles, a escola
foi interessante porque serviu de janela para a arte. "O
que nos ajudou é que tínhamos bons professores
de arte."
Apesar de receberem pouco dinheiro, eles economizavam o
que podiam para uma extravagância.
Nos últimos 12 anos, viajaram para a convenção
de autores e produtores de HQs, em San Diego ( EUA), onde,
ao final de quatros dias de oficinas e debates, são
escolhidos os vencedores do Eisner Awards. Eram anônimos
artistas latino-americanos, quase indiferenciados na platéia
que vinha das várias partes do mundo.
Desta vez, Fábio e Gabriel não ficaram na platéia.
Subiram ao palco para receber o prêmio.
Com isso, despertaram ainda mais interesse entre os editores
americanos. Diariamente, os irmãos trancam-se no seu
ateliê para desenhar e entregar a encomenda no prazo.
"Por sua diversidade metropolitana, São Paulo,
um espaço cosmopolita, é uma ótima inspiração",
aposta Fábio.
Veja
o trabalho de Gabriel Bá e Fábio Moon, vencedores do Prêmio
Eisner
Fábio Moon e Gabriel
Bá
Coluna originalmente
publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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