Estudo
mostra que, em um mesmo distrito, há colégios
municipais entre os melhores e os piores de São Paulo
na Prova Brasil
Levantamento feito pela Secretaria
da Educação mostra também que piores
desempenhos estão nos extremos leste, sul e norte
As escolas municipais Plínio Salgado e Ayrton Oliveira
Sampaio em quase tudo se parecem. Ficam no mesmo distrito
do Grajaú (zona sul de São Paulo), atendem ao
mesmo perfil de aluno (de um bairro carente), recebem igual
volume de recursos por estudante e, por fazerem parte da mesma
rede de ensino, não há diferença no salário
de seus professores.
Elas são até relativamente próximas,
separadas por não mais do que 10 km de distância.
O abismo que as separa em termos de desempenho, no entanto,
é imenso.
A Plínio Salgado foi, nas provas de oitava série,
a 14ª melhor escola municipal de São Paulo. Já
a Ayrton Oliveira está no outro extremo: teve a sétima
menor média.
Casos como esses são menos raros do que se pensa e
podem ser constatados num estudo da Secretaria Municipal de
Educação sobre o desempenho das escolas municipais
paulistanas na Prova Brasil. Esse é um exame do Ministério
da Educação que avalia a qualidade da educação
na rede pública e que permite a comparação
das notas por estabelecimento de ensino.
Nas provas de quarta série, essa situação
-regiões que têm escolas próximas tanto
entre as melhores quanto entre as piores- se repete em oito
distritos. Na oitava série, em dez.
Além de apontar casos como esses, o estudo mostra que
há uma concentração das melhores escolas
nas áreas centrais da cidade, ao passo que os extremos
sul (próximo a Parelheiros), leste (a partir de Itaquera)
e norte (de Anhangüera ao Tremembé), além
de áreas próximas ao Morumbi, concentram os
piores resultados.
Para chegar a essa conclusão, foram comparadas notas
de todas as escolas municipais em que pelo menos metade dos
alunos participaram da Prova Brasil. A partir daí,
foram identificadas as 50 melhores e as 50 piores escolas
nas provas de português e matemática.
A diferença entre a melhor e a pior na quarta série
é de 95 pontos. Na escala da Prova Brasil é
uma enormidade. Ela varia de 0 a 500, mas o máximo
esperado para um aluno dessa série são 300 pontos.
Na oitava série, a diferença é de 88
pontos.
Hipóteses
O secretário municipal de Educação, Alexandre
Schneider, afirma que o objetivo do estudo não é
estigmatizar as piores escolas, mas saber por que, nas mesmas
condições, algumas se saem melhor.
"Dizer que determinada escola é muito ruim não
adianta nada, mas é importante identificar aquelas
de pior desempenho para fazer intervenções que
as ajudem a melhorar", diz.
Schneider conta que a secretaria trabalha com algumas pistas
para explicar as diferenças. Entre as hipóteses
a serem investigadas estão o tempo em que os professores
lecionam naquela instituição, a participação
dos pais e as condições físicas, entre
outras questões.
Para o secretário, uma das razões que mais se
sobressaem é a estabilidade do corpo pedagógico,
tanto que a secretaria estuda mudar o mecanismo de gratificação
por desempenho.
"Hoje, esse benefício não leva em conta
questões como a assiduidade ou o tempo de permanência
do professor numa escola. Em muitos casos, o que ele mais
quer é se transferir de lá. Nossa idéia
é estimular a permanência dele levando em conta
esse critério no pagamento da gratificação",
diz.
O presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação
no Ensino Municipal de São Paulo, Claudio Fonseca,
afirma que a estabilidade do corpo de docentes facilita a
aplicação de políticas pedagógicas
na escola. Ele pondera, no entanto, que é preciso levar
em conta a realidade de cada escola.
"Às vezes, você não consegue reter
uma boa equipe na escola porque ela está em local com
alto grau de violência e de desestruturação
social. O professor tem medo de trabalhar ali", diz o
presidente do sindicato.
Veja
os seguintes assuntos relacionados com violência e educação
Corpo docente estável influi
no resultado
Escola com praticamente os mesmos professores há dez
anos tem desempenho melhor que outra com quadro em formação
Plínio Salgado foi a 14º escola na
prova Brasil, já a Ayrton Oliveira foi a sétima
com menor média; ambas estão no Grajaú,
zona sul de SP
A diferença que faz um corpo docente estável
e com tempo médio de casa elevado -uma das principais
hipóteses da Secretaria Municipal de Educação
para explicar resultados tão diferentes- se aplica
perfeitamente ao caso dos colégios do Grajaú
(zona sul de São Paulo) com desempenhos díspares.
Na Plínio Salgado, a 14ª melhor escola com 254
pontos na Prova Brasil, a direção é a
mesma desde 1989. Boa parte dos professores também
trabalha na instituição há mais de dez
anos.
"Verificamos periodicamente quais são as dificuldades
dos estudantes, que podem mudar com o passar do tempo. Identificado
o problema, podemos aplicar atividades específicas",
afirmou a coordenadora da unidade, Maria de Fátima
Miranda. A área que mais recebe a atenção
do colégio tradicionalmente é a leitura.
Já na Ayrton Oliveira, sétima com menor média
(181 pontos), a situação é oposta. O
colégio foi criado há apenas dois anos. "O
quadro de docentes está em formação.
Ainda falta vínculo dos professores com a escola",
afirmou a supervisora da unidade, Rosana Pazzini.
Além disso, como o colégio é novo, houve
pouco tempo para trabalhar a principal dificuldade dos estudantes
da escola, que é a alfabetização.
Desde o ano passado, a unidade se inscreveu em todos os programas
da prefeitura com o objetivo de melhorar nesse quesito.
Estrutura
Apesar das diferenças nos desempenhos na Prova Brasil,
a estrutura das duas escolas são muito semelhantes.
Ambas possuem três turnos diurnos, problema conhecido
como "turno da fome", pois há classes com
aulas das 11h às 15h.
A medida é tomada em áreas onde a demanda é
grande e apenas dois turnos (manhã e tarde) não
são suficientes. Assim, cada turma perde ao menos uma
hora de aula.
Além disso, ambas as escolas têm tamanhos semelhantes
(cerca de 1.500 alunos), e os professores possuem salários
parecidos.
Até a percepção dos pais é parecida.
"O ensino aqui é muito bom, os professores são
atenciosos", afirmou a dona de casa Kelly Mafra, 27,
que possui dois filhos na Ayrton Oliveira.
Antônio Gois
Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo
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