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educação

02/04/2007
Escolas próximas têm médias distantes

Estudo mostra que, em um mesmo distrito, há colégios municipais entre os melhores e os piores de São Paulo na Prova Brasil

Levantamento feito pela Secretaria da Educação mostra também que piores desempenhos estão nos extremos leste, sul e norte


As escolas municipais Plínio Salgado e Ayrton Oliveira Sampaio em quase tudo se parecem. Ficam no mesmo distrito do Grajaú (zona sul de São Paulo), atendem ao mesmo perfil de aluno (de um bairro carente), recebem igual volume de recursos por estudante e, por fazerem parte da mesma rede de ensino, não há diferença no salário de seus professores.

Elas são até relativamente próximas, separadas por não mais do que 10 km de distância. O abismo que as separa em termos de desempenho, no entanto, é imenso.
A Plínio Salgado foi, nas provas de oitava série, a 14ª melhor escola municipal de São Paulo. Já a Ayrton Oliveira está no outro extremo: teve a sétima menor média.

Casos como esses são menos raros do que se pensa e podem ser constatados num estudo da Secretaria Municipal de Educação sobre o desempenho das escolas municipais paulistanas na Prova Brasil. Esse é um exame do Ministério da Educação que avalia a qualidade da educação na rede pública e que permite a comparação das notas por estabelecimento de ensino.

Nas provas de quarta série, essa situação -regiões que têm escolas próximas tanto entre as melhores quanto entre as piores- se repete em oito distritos. Na oitava série, em dez.

Além de apontar casos como esses, o estudo mostra que há uma concentração das melhores escolas nas áreas centrais da cidade, ao passo que os extremos sul (próximo a Parelheiros), leste (a partir de Itaquera) e norte (de Anhangüera ao Tremembé), além de áreas próximas ao Morumbi, concentram os piores resultados.
Para chegar a essa conclusão, foram comparadas notas de todas as escolas municipais em que pelo menos metade dos alunos participaram da Prova Brasil. A partir daí, foram identificadas as 50 melhores e as 50 piores escolas nas provas de português e matemática.

A diferença entre a melhor e a pior na quarta série é de 95 pontos. Na escala da Prova Brasil é uma enormidade. Ela varia de 0 a 500, mas o máximo esperado para um aluno dessa série são 300 pontos. Na oitava série, a diferença é de 88 pontos.

Hipóteses
O secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, afirma que o objetivo do estudo não é estigmatizar as piores escolas, mas saber por que, nas mesmas condições, algumas se saem melhor.

"Dizer que determinada escola é muito ruim não adianta nada, mas é importante identificar aquelas de pior desempenho para fazer intervenções que as ajudem a melhorar", diz.

Schneider conta que a secretaria trabalha com algumas pistas para explicar as diferenças. Entre as hipóteses a serem investigadas estão o tempo em que os professores lecionam naquela instituição, a participação dos pais e as condições físicas, entre outras questões.

Para o secretário, uma das razões que mais se sobressaem é a estabilidade do corpo pedagógico, tanto que a secretaria estuda mudar o mecanismo de gratificação por desempenho.

"Hoje, esse benefício não leva em conta questões como a assiduidade ou o tempo de permanência do professor numa escola. Em muitos casos, o que ele mais quer é se transferir de lá. Nossa idéia é estimular a permanência dele levando em conta esse critério no pagamento da gratificação", diz.

O presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, Claudio Fonseca, afirma que a estabilidade do corpo de docentes facilita a aplicação de políticas pedagógicas na escola. Ele pondera, no entanto, que é preciso levar em conta a realidade de cada escola.

"Às vezes, você não consegue reter uma boa equipe na escola porque ela está em local com alto grau de violência e de desestruturação social. O professor tem medo de trabalhar ali", diz o presidente do sindicato.

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Corpo docente estável influi no resultado

Escola com praticamente os mesmos professores há dez anos tem desempenho melhor que outra com quadro em formação

Plínio Salgado foi a 14º escola na prova Brasil, já a Ayrton Oliveira foi a sétima com menor média; ambas estão no Grajaú, zona sul de SP


A diferença que faz um corpo docente estável e com tempo médio de casa elevado -uma das principais hipóteses da Secretaria Municipal de Educação para explicar resultados tão diferentes- se aplica perfeitamente ao caso dos colégios do Grajaú (zona sul de São Paulo) com desempenhos díspares.

Na Plínio Salgado, a 14ª melhor escola com 254 pontos na Prova Brasil, a direção é a mesma desde 1989. Boa parte dos professores também trabalha na instituição há mais de dez anos.

"Verificamos periodicamente quais são as dificuldades dos estudantes, que podem mudar com o passar do tempo. Identificado o problema, podemos aplicar atividades específicas", afirmou a coordenadora da unidade, Maria de Fátima Miranda. A área que mais recebe a atenção do colégio tradicionalmente é a leitura.

Já na Ayrton Oliveira, sétima com menor média (181 pontos), a situação é oposta. O colégio foi criado há apenas dois anos. "O quadro de docentes está em formação. Ainda falta vínculo dos professores com a escola", afirmou a supervisora da unidade, Rosana Pazzini.

Além disso, como o colégio é novo, houve pouco tempo para trabalhar a principal dificuldade dos estudantes da escola, que é a alfabetização.

Desde o ano passado, a unidade se inscreveu em todos os programas da prefeitura com o objetivo de melhorar nesse quesito.

Estrutura
Apesar das diferenças nos desempenhos na Prova Brasil, a estrutura das duas escolas são muito semelhantes.

Ambas possuem três turnos diurnos, problema conhecido como "turno da fome", pois há classes com aulas das 11h às 15h.

A medida é tomada em áreas onde a demanda é grande e apenas dois turnos (manhã e tarde) não são suficientes. Assim, cada turma perde ao menos uma hora de aula.

Além disso, ambas as escolas têm tamanhos semelhantes (cerca de 1.500 alunos), e os professores possuem salários parecidos.
Até a percepção dos pais é parecida. "O ensino aqui é muito bom, os professores são atenciosos", afirmou a dona de casa Kelly Mafra, 27, que possui dois filhos na Ayrton Oliveira.


Antônio Gois
Fábio Takahashi
Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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