Erika
Vieira
Muita integração e boa vontade. Esse foi o caminho
que o Morro do Cavalão encontrou para diminuir a violência,
chegando a comemorar quatro anos sem tiroteios. Com aproximadamente
4 mil moradores, o local encontrou a tranqüilidade depois
que a polícia e projetos sociais passaram a unir forças
com a comunidade.
Mesmo sem ter nenhuma escola de ensino fundamental dentro
do morro, a educação é tida como um fator
determinante para as melhoras. A educação disseminada
no Cavalão gira em torno de práticas esportivas,
dança, oficinas de computação, educação
sexual e auxílio a jovens em situação
de risco. Cabendo a ONGs, associação de moradores
e poder público a responsabilidade por cada uma dessas
atividades.
“No trabalho do dia-a-dia fazemos a troca da arma
pelo pirulito”, brinca a diretora da creche comunitária
Irmã Catarina, Cléa dos Santos Carvalho, que
funciona com verba da prefeitura e também com recursos
locais. “A educação infantil é
a que primeiro cumpre o papel de inclusão social”,
diz o secretário de educação Waldeck
Carneiro. Porém, a implantação da creche
só chegou no morro no ano 2000 com a iniciativa de
um bingo, e posteriormente veio a fazer um convênio
com a Secretaria de Educação. Há ainda
a creche comunitária Medalha Milagrosa, ambas atendem
cerca de 150 crianças.
Existem projetos que funcionam como espécie de extensão
escolar. A exemplo do Telecentro, espaço em que os
jovens freqüentam antes ou depois da escola para assistirem
oficinas ou cursarem aulas de informática. “No
Telecentro oferecemos atividades educativas que ajudam a tirar
o jovem da condição ruim”, fala Edson
Motta, coordenador da sala. “Estamos pensando em usar
o Telecentro para fazer uma gincana entre as escolas [dos
bairros ao redor, freqüentadas pelos jovens do morro]”,
complementa.
Semelhante acontece com a ONG Gente Brasil que ensina balé
e ginástica rítmica, e a Associação
Geração Capoeira que funciona dentro da Associação
de Moradores. Apesar disso, o Morro do Cavalão ainda
sente necessidade de uma escola com educação
integral. “A gente sempre reivindicou uma escola integral,
mas não consegue. Nosso sonho é ter escola integral”,
conta Marcos Antonio da Conceição, presidente
da Associação de Moradores.
Já na área da saúde todos se articularam
para ter o “Médico de Família”,
programa financiado pela prefeitura e coordenado pela Associação
de Moradores, no qual três médicos são
disponibilizados para atender as pessoas em casa e/ou no consultório
local.
Polícia diferente
Um dos fatores que mais faz a diferença no
Morro do Cavalão é a polícia comunitária.
O posto do Gpae (Grupamento de Policiamento em Áreas
Especiais) fica instalado dentro da comunidade, atuando em
parceria com os moradores. O resultado disso é a confiança
mútua. “A gente não tem medo de falar
com a polícia, confiamos no Capitão Romeu”,
diz Marcos Antonio da Conceição, presidente
da Associação de Moradores.
Eles atribuem a atenção do Capitão Romeu,
responsável pelo posto do Gpae, e dos outros policiais
como a principal causa da boa relação entre
segurança e população. “O Capitão
Romeu é uma pessoa que parece que mora aqui com a família.
A maioria dos policiais daqui trabalham honestamente”,
fala Marcos. Além disso, o espaço do grupamento
é aberto para que a população local utilize
na organização de espetáculos de teatro
e outras atividades de lazer.
Ex-reduto do crime não vê tiroteio há
4 anos |