Bailarinos
dançam nova versão de "Samwaad"
Não tem mais van para pegar em casa nem desculpa esfarrapada,
tipo dor de barriga, para não dançar. O que
têm agora os jovens que entraram em 2003 no projeto
social Dança Comunidade é salário fixo
e nome profissional: eles formam a Cia. de Dança Ivaldo
Bertazzo, a primeira companhia do coreógrafo em 30
anos de carreira.
Com 30 bailarinos entre 15 e 23 anos, a nova companhia levará
ao palco de dança do Anhangabaú, no sábado,
às 19h (na sexta, haverá pré-estréia
para convidados, na prefeitura) trechos de "Samwaad"
(2004) e "Milágrimas" (2005). Os espetáculos
já foram vistos por mais de 180 mil pessoas, mas Bertazzo
pede para avisar: não será "nada do que
você viu antes".
"Muda o figurino, muda a encrenca coreográfica.
Se continuasse igual, continuaria fazendo sucesso, mas eles
cresceram e têm mais a mostrar. A quantidade de informação
armazenada resulta em comportamento cênico", diz
Bertazzo, que montou a companhia com incentivo da Lei Rouanet.
O figurino nem é a maior das mudanças, mas reforça
o papel profissional da companhia. "Hoje as meninas usam
bustiê. Em um trabalho social, você não
pode desvestir; eles se vestem para mostrar o gesto. Agora,
são artistas. Não estão nus, não,
mas mostram as costelas."
A companhia, no entanto, não perde a "marca"
de Ivaldo Bertazzo, a origem em comunidades carentes. "O
curioso é que o cara dança lindamente, faz o
público chorar, daí volta para casa ouvindo
funk: "Sobe em cima, mete embaixo...". Ouve o que
quiser, não tô censurando... Quer dizer, tô,
né? [risos]. Mas o que importa é que, quando
ele dá aula para um ator que só fala texto de
Brecht, ele sabe como fazer o outro assimilar sua mensagem",
conta, sobre os trabalhos do grupo, que incluem dar workshops
nas cidades por onde passa.
Não é mais nem menos, avalia, que um bailarino
com formação acadêmica. "Vou ser
sincero: no Balé da Cidade, tenho dois ou três
que seriam aceitos. Mas o Balé da Cidade, se vier fazer
o "Samwaad" como é hoje, não faz.
São gramáticas elaboradas, uma velocidade expressiva
que se leva muito tempo para construir. O corpo constrói
no público uma emoção que o intérprete
construiu no músculo. Isso nem ator do [diretor teatral]
Peter Brook faz."
Raquel Cozer
Folha de S.Paulo
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