João
Batista Jr.
Transferido durante a gestão de Mário Covas
para administração federal, o Ceagesp pode voltar
a ser controlado pelo governo paulista. Em reunião
com o presidente Lula, o governador José Serra disse
ter interesse pela administração do maior entreposto
do país, fazendo com que a discussão sobre uma
possível mudança da instituição
ganhe força.
Localizado na Vila Leopoldina, o Ceagesp sente pressão
do mercado imobiliário que vê chances de expandir
os empreendimentos de alto padrão no bairro (no ano
passado a região foi recordista em lançamentos
de imóveis de 4 dormitórios, segundo a Secovi).
Pesquisas recentes mostram uma valorização do
metro quadrado na Leopoldina: de R$ 1.500 em 1995 para R$
2.800 em 2005.
Troca de governos
Como pagamento de dívidas, Covas passou o comando do
Ceagesp à União, que posteriormente incluiu
a entidade no Processo Nacional de Desestatização
(PND) – o que anula investimentos na entidade.
“O Ceagesp nunca recebeu qualquer investimento em sua
modernização ou readequação logística
desde 2002”, informa Francisco Cajueiro. Economista
e diretor do Ceagesp paulistano, Cajueiro afirma que o importante
não é a troca de poder. “A melhor ação
seria os três governos estabelecerem um planejamento
estratégico de abastecimento para a Ceagesp. Se irá
continuar federalizada ou se será reestadualizada não
importa, a questão política deve ficar num segundo
plano. As pessoas comem, os comerciantes vendem e não
existe uma visão coletiva”.
João Sampaio, Secretário da Agricultura e Abastecimento
do governo paulista, sabe que investimentos precisam ser feitos
para uma modernização do entreposto. “O
sistema de abastecimento de São Paulo necessita de
modernização para uma gestão mais condizente
com a nossa capacidade de produção. Essa reformulação
passa por injeção de recursos e uma parceria
mais organizada entre estado, município e Governo Federal”.
Responsável por 34% da comercialização
de hortifrutigranjeiros do Brasil, o Ceagesp carece de modernização
e sistema de abastecimento inteligente. “Em 2005 houve
uma enchente, o que em dois dias gerou um desabastecimento
das principais produtos hortifrutis na cidade”, lembra
Cajueiro.
Mudança controversa
Entre as duas marginais e próxima do parque
Villa Lobos, a Vila Leopoldina mostra força para se
consolidar como um bairro residencial e prestador de serviços.
Hoje a região consegue suprimir todas as necessidades
de seus moradores. De instituições de ensino
(Faculdade Mogi das Cruzes) à balada mais cara da cidade
(a entrada da Pacha chega a R$ 300), tudo pode ser encontrado
no bairro.
Conselheira municipal de política urbana como representante
da região oeste, a arquiteta Lucila Lacreta acha interessante
uma possível mudança do Ceagesp para a região
do Rodoanel, conforme especula-se. “A transferência
tiraria o fluxo de carga muito intensa de uma região
que já se consolidou como central”. O arquiteto
e urbanista Cândido Malta Campos também é
favorável à mudança, mas em divisões.
“O que pode acontecer é construir um na zona
oeste e outro na leste para captar os produtos de regiões
diversas”.
O Secretário João Sampaio concorda com a descentralização.
“Na Europa existem centros de abastecimentos específicos
para flores e plantas. Outro só de carnes. O consumidor
pode reclamar, mas logisticamente é o modelo mais moderno”.
Cajeiro também acredita que uma descentralização
poderia ser uma opção para diminuir o trânsito
da região, mas os comerciantes refutam a idéia.
“Um possível novo Ceagesp concentrando apenas
o varejo diminuiria o trânsito, reduziria os custos
e as perdas porque o manuseio das mercadorias seria menor.
Mas os comerciantes não querem sair do local porque
eles vivem de possuir um espaço dentro do Ceagesp”.
Entenda mais sobre o caso
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